Fórum Internacional de Lideranças da Saúde discutiu a importância da integração para o futuro da saúde no Brasil

Evento promovido pela Abramed chegou à sua sétima edição promovendo a interação entre líderes da área. Mauricio Silva Nunes, diretor de desenvolvimento setorial da ANS, fez apresentação na abertura da programação

O 7º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde – FILIS, que vem se consolidando como uma das principais agendas da Saúde no Brasil, foi realizado no último dia 31 de agosto, no Teatro B32, em São Paulo (SP). Desde sua primeira edição, tem se confirmado como referência de inovação e troca de experiências entre profissionais da cadeia da saúde. 

Em solenidade de abertura do evento, Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, destacou que a interoperabilidade é um tema central para a Abramed, pois tem foco direto na gestão da saúde do paciente. Opinião compartilhada pelo presidente do Conselho de Administração da entidade, Wilson Shcolnik. Para ele, as empresas de medicina diagnóstica estão integradas a outros segmentos de prestação de serviços e as fronteiras de atuação já não existem mais. 

“Isso nos traz a oportunidade de termos uma jornada mais orientada para os nossos pacientes, lucrando todos, evitando desperdícios e contribuindo com cuidado qualificado da saúde e sustentabilidade do sistema. Temos consciência do momento de transformações intensas vividos pelo sistema de saúde”, afirma o presidente.

Entre as novidades destacada do evento neste ano, houve o “Leaders Connection”, um período de parada na programação, direcionado ao relacionamento e à troca entre os participantes do evento, e o “Momento Transformação”, com apresentação de cases de inovação na área da Saúde.

Apresentação ANS

Em se tratando de desafios do setor, o diretor de desenvolvimento setorial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Maurício Nunes da Silva, afirma, em 20 anos de atuação na instituição, nunca ter visto um momento tão complexo e desafiador. Ele foi convidado para uma apresentação na abertura da programação do 7º FILIS.

Trazendo um panorama geral sobre o setor de saúde suplementar, o diretor lembra que em 2022 houve um “comportamento atípico” que coloca o segmento em situação de atenção, e para compreender esse movimento é necessário voltar para 2014 quando o setor de saúde suplementar apresentava o maior número de beneficiários em sua história: 50,4 milhões de pessoas em planos médicos hospitalares.

Porém, em razão da crise econômica que o Brasil passou entre os anos de 2015 e 2016, houve uma perda de mais de três milhões de beneficiários: “saindo de 50,4 milhões para pouco mais de 47 milhões”, aponta o diretor de desenvolvimento setorial da ANS. E desde então, esses números se mantiveram em oscilação até próximo do primeiro semestre de 2022, quando aconteceu um crescimento mês a mês. 

A trajetória crescente é interrompida em janeiro de 2023, porém em fevereiro os números de beneficiários voltaram a aumentar e em março alcança a maior quantidade da série histórica: 50,5 milhões e até junho essa constância leva aos 50,8 milhões. Mas, se houve essa melhora quantitativa, o que chama atenção da ANS como comportamento atípico?

Silva explica que junto a trajetória de crescimento de beneficiários houve queda de receita operacional das operadoras de R$ 7 bilhões; um aumento de despesas de aproximadamente R$ 700 milhões. “Essa queda de receita operacional chama a atenção porque no momento de tendência de aumento de beneficiários com queda de receita operacional, isso provavelmente nos mostra que os beneficiários procuram por planos mais baratos”, pondera.

Para a ANS, isso é um sinal de alerta, afinal o setor é de financiamento mutualista: um beneficiário paga anualmente pelo serviço, mas caso não o utilize, outra pessoa com tratamento de alto custo o faz, o que dilui os impactos e despesas. O diretor esclarece que no setor, 70% dos contratos são coletivos empresariais – “com contratos muito grandes ou muito pequenos. Microempreendedor Individual (MEI) se classifica por coletivo empresarial, por exemplo” -, 18% são planos individuais familiares e 12% são coletivos por adesão. 

Valor ao beneficiário

Há mais de 30 anos o bioquímico norte-americano Van Rensselaer Potter (1911-2001) trata do valor que é entregue ao beneficiário, de acordo com Silva. “Ele trouxe um debate nos Estados Unidos sobre a eficiência da utilização do recurso no setor de saúde, que para cada um dólar gasto com saúde o que entregamos de valor não é monetário, mas de resultado da saúde [do paciente]”, explica.

O diretor de desenvolvimento setorial da ANS afirma que até o final de 2023 há a expectativa de aprovar a certificação para a linha oncológica: “Já temos algumas para atenção primária. A oncologia é um grande exemplo. A certificação oncológica força operadoras e prestadores a buscar o melhor do resultado em saúde”.

Há ainda, segundo Silva, outros projetos de indução à qualidade, como o que a ANS chama de “Buscador Qualis”, ferramenta no portal da Agência onde o beneficiário pode pesquisar se um hospital ou prestador ou laboratório é acreditado e o Programa de Qualificação dos Prestadores de Serviços de Saúde (“QUALISS”), de monitoramento da qualidade hospitalar; lançado em 2022, começou com a participação de 133 hospitais – hoje são 176, dos mais diversos perfis, incluindo instituições privadas e Santas Casas. 

Ainda sobre o QUALISS, foram definidos indicadores de qualidade: dados reportados pelos próprios hospitais, que serão divulgados pela ANS. “O mais interessante é que é um programa de adesão voluntária. É a primeira vez na história do Brasil em que teremos indicadores de hospitais. É uma ação inovadora! ”, afirma o diretor. 

Outra meta relativa aos hospitais é a de transferência da rede hospitalar. Por força legal do artigo 17 da Lei 9.656, se define que toda vez que uma operadora de planos de saúde retirar ou substituir hospital, deve-se seguir parâmetros definidos pela ANS. Com essa norma o beneficiário ao contratar determinado plano devido à rede hospitalar, ao ser informado da remoção ou substituição, pode utilizar a portabilidade, indo para o plano que possua aquele determinado hospital, independentemente da faixa de preço. 

Silva explica ainda que junto dessas ações é proposta a possibilidade de que o beneficiário possa levar seu histórico médico para qualquer plano. “Aqui há um grande desafio em migrar dados – claro, respeitando a Lei geral de Proteção de Dados – entre planos e instituições. Mas reduz custos, como a repetição de exames, promovendo sustentabilidade no setor”.

Professor Alberto Duarte é homenageado da 5º edição do Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld

Honraria criada pela Abramed reconhece profissionais e especialistas que promovem desenvolvimento e melhoria da saúde no País

O Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld, homenagem criada pela Abramed, foi entregue ao Professor Doutor Alberto Duarte durante a 7ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde – FILIS. Graduado em Medicina pela Universidade de Pernambuco, com doutorado em Nefrologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), pós-doutorado em Nefrologia da Harvard Medical School, Dr. Duarte conquistou livre-docência no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP) em 1983 e implantou o serviço de imunologia clínica do HC, além de ser responsável pela criação do Laboratório de Investigação Médica também nessa faculdade.

Duarte iniciou seu percurso na FMUSP como Livre Docente e depois tornou-se Professor Titular da Disciplina de Patologia Clínica. Foi diretor da Divisão de Laboratório Central do HC/FMUSP. Possui experiência na área de Imunologia, com ênfase em Imunologia Celular, atuando principalmente nas seguintes linhas de pesquisa: Imunomodulação Experimental, Imunopatologia da Infecção pelo HIV, Imunopatologia das Imunodeficiências Secundárias, Infecciosas ou Metabólicas e Imunopatologia das Infecções Primárias. Durante todo esse período formou 78 mestres e 68 doutores, 16 deles, pós-doutores. Possui mais de 350 artigos científicos publicados.

“Para mim é uma surpresa muito grande essa homenagem e me sinto extremamente honrado, pois quem conheceu Gastão, ter um prêmio com o nome dele é algo muito especial”, disse o professor emocionado.

Ainda de acordo com ele: “tudo o que foi dito sobre mim, jamais pode ser só meu. Porque você não trabalha sozinho! Você trabalha com sua família, mas o que mais me agrada é que tudo o que eu fiz no sentido de treinar e desenvolver pessoas é o que fica. É o que se pode perpetuar e ajudar que isso traga benefícios ao País e ao nosso paciente, que é a nossa meta”. 

Um dos momentos de maior emoção na entrega do Prêmio foi quando Duarte lembrou que teve a “grande honra de orientar” o presidente do Conselho de Administração da Abramed, Wilson Shcolnik, em seu doutorado. “Tem umas coisas muito interessantes da vida que quando você se propõe a orientar, mas é o seu aluno que te ensina”. 

Luiz Gastão Rosenfeld

Considerado uma das maiores autoridades em patologia clínica e hematologia do Brasil, o médico Luiz Gastão Rosenfeld foi um dos fundadores do Centro de Hematologia de São Paulo (CHSP) e presidiu a Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH), hoje Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular.

Também foi diretor do laboratório do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, além de ter coordenado o laboratório do Hospital Albert Einstein (HIAE), foi vice-presidente clínico e diretor de Relações Institucionais da DASA e coordenador científico da Câmara Técnica da Abramed.

De acordo com Shcolnik, “o doutor Luiz Gastão Rosenfeld foi um visionário”. Chefiou o laboratório do Hospital Albert Einstein, liderando certificação de qualidade internacional nesse laboratório de forma pioneira.

O prêmio foi criado em 2018 pela Abramed. Entre os homenageados das edições anteriores estão Jarbas Barbosa, da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em 2018; Mayana Zatz, bióloga molecular e geneticista, em 2019; Dra. Margareth Dalcolmo, médica pneumologista, professora e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em 2021, e o professor Dimas Covas Tadeu, presidente do Instituto Butantan e do Conselho Curador da Fundação Butantan, em 2022.

Insights diagnósticos são fundamentais para mudar o cenário da saúde corporativa, diz palestrante do 7° FILIS

Wendi Mader, da Quest Diagnostics, reforça a importância de acompanhamento e de gestão da saúde populacional nas empresas, e ações que foquem em prevenção para a redução de elevados custos de saúde 

Conhecer a saúde de sua população e trabalhar na prevenção são aspectos que ganham cada vez mais relevância no mercado corporativo. Considerando que qualquer adiamento no cuidado pode impactar não somente quem está negligenciando esse cuidado, como também os empregadores e até o próprio sistema de saúde, estratégias de gestão populacional fazem total diferença nesse contexto.

“Atualmente passamos entre oito e até 12 horas trabalhando. Tudo é sobre trabalho e acontece nesse ambiente. Além disso, não podemos fazer prevenção apenas em casa. Isso precisa ter continuidade”, explicou Wendi Mader, Vice-presidente Employer da Quest Diagnostics, que nos últimos 20 anos, tem atuado com foco em encontrar formas de controlar os custos de saúde e prevenir condições crônicas. 

Mas quais os caminhos a seguir? Foi exatamente visando esclarecer esses aspectos e mostrar a importância dos insights diagnósticos para melhorar a experiência do cuidado, a saúde populacional e reduzir os custos da saúde, que Wendi compartilhou sua experiência com os participantes do 7º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS). Ela foi uma das convidadas do “Momento Transformação”, uma das novidades desta edição, que trouxe para a programação a apresentação de cases de inovação na área da Saúde.

Com o objetivo de melhorar esse cenário, a Quest Diagnostics nos Estados Unidos tem adotado iniciativas para manter as populações saudáveis, mas que podem ser aplicadas em empresas no Brasil e em outros países. A companhia investe anualmente 400 milhões de dólares na saúde dos seus 45 mil colaboradores, o que é de extrema relevância, especialmente pelo tipo de serviço crítico que prestam.

A ideia é melhorar a saúde desde o momento de admissão até a aposentadoria, além de criar produtos que tornam os testes de diagnósticos mais simples. Atualmente são mais de 18 mil clientes e mais de 7 milhões de colaboradores testados. “A saúde e a segurança de um colaborador deve ser um comprometimento a longo prazo e deve considerar as especificidades de cada um deles”, complementa.

Reflexos da pandemia

Segundo Wendi, dados da empresa mostram que houve uma diminuição de 70% no número de idas ao médico durante a pandemia. O cuidado tardio, sem dúvidas, causa impactos a longo prazo, como agravamento dos sintomas, atraso no tratamento, maior estresse com relação à condição de saúde e impactos negativos na longevidade. Cerca de um em cada três pessoas nos 67% com alguma doença crônica disseram ter sua condição de saúde piorada durante a emergência sanitária. No entanto, os colaboradores reconhecem a necessidade de focar em sua saúde e dois a cada cinco têm a preocupação de ter alguma condição desconhecida. 

“Será que as pessoas sabem o que acontece em seu corpo? Será que elas relatam tudo o que têm com veracidade. 59% dos colaboradores com níveis de colesterol alto, por exemplo, não sabem que possuem essa condição crônica”, provoca a executiva. 

Por outro lado, os elevados custos que a falta de prevenção pode gerar também são pontos de atenção, que foram também salientados por Wendi. Nos Estados Unidos, por exemplo, um paciente com doença crônica custa em média 125 mil dólares. “Um caso somente basta para causar um desequilíbrio financeiro”, enfatiza. 

A Quest Diagnostics é especialista em dados clínicos e diagnósticos e oferece soluções que garantem às pessoas não apenas o acesso a testes onde quer que estejam, mas também a compreensão dos resultados deles. O objetivo é capacitar as pessoas a entenderem melhor seu estado de saúde, permitindo que elas se tornem consumidores mais informados e alcancem uma melhor gestão de sua saúde. Um desses produtos é o Blueprint Welness que ajuda a ter uma visão real dos dados e não suposições e já realizou a triagem de mais de três milhões de colaboradores no mundo. 

O objetivo é mudar o cenário atual, educar os colaboradores, dar acesso à assistência médica e colocá-los na trajetória correta do seu cuidado. “Temos que pensar diferente a respeito de como usamos a tecnologia. Podemos levar os profissionais da saúde para cada paciente. E não podemos nos esquecer também da saúde mental. Pessoas estão estressadas e tudo bem. A questão é que podemos ajudá-los. Ao final, o objetivo é alcançar uma saúde mais igualitária e reduzir os custos com ela”, finaliza.

Segundo painel do Summit Abramed na Hospitalar 2023 debate soluções para melhorar a gestão e a qualidade do cuidado em saúde

Foram elencadas questões como modelo de negócios, avaliação da jornada do paciente e interoperabilidade de dados

“Gestão da Saúde e a sustentabilidade do setor” foi o tema do segundo painel do Summit Abramed, realizado dia 23 de maio, durante a Hospitalar 2023. Os convidados destacaram pontos importantes para maior resolutividade na área suplementar. Participaram Anderson Mendes, presidente da Unidas Autogestão; Carlos Martins, CEO da Roche Diagnóstica; e Claudio Tafla, presidente da Aliança para Saúde Populacional (ASAP). A moderação foi da diretora-executiva da Abramed, Milva Pagano.

Tafla, repercutindo o tema da mesa redonda, diz ser necessário engajamento para promover mudanças em prol do paciente, e não em prol de visão do mercado da Saúde. “Houve um distanciamento entre o médico e o paciente”, comenta. De acordo com ele, a prevenção não está sendo aplicada e isso corrobora para a insustentabilidade.

Mendes citou o foco da atenção na doença como ponto a ser combatido, por exemplo, voltar todos os esforços ao tratamento de diabetes, negligenciando a oportunidade de focar nos jovens obesos que poderão desenvolver o agravo no futuro. Mesmo uma coisa não excluindo a outra, a questão são as prioridades e isso é um tópico relacionado à gestão.

Atualmente, a atenção seria voltada a agravos relacionados ao envelhecimento da população, em detrimento da atenção primária, que poderia evitar a doença futura, tornando a Saúde, como um todo, onerosa e incapaz de se sustentar e de cuidar da população. “Gasta-se sem avaliação”, relata o presidente da Unidas. Ele explica que as condições do paciente também são um fator determinado por presença de saneamento, condições climáticas e outros fatores externos, tendo que ser avaliado. “Estamos enxugando gelo”, avalia.

Mendes entende que, inclusive, nada mudou durante a pandemia, diferentemente do que se coloca na maioria das discussões. A crise sanitária não trouxe alterações qualitativas e quantitativas, segundo ele. Nesse contexto, o presidente cita a telemedicina, que não seria um fator determinante se não observadas as demais prioridades citadas, tornando-se apenas uma ferramenta meio e, se mal utilizada, insustentável. Dados, para escolha de melhor tratamento, no momento certo ou o melhor método de trabalho evitariam os 20% de desperdício que poderiam ser empregados em acesso.

Os debatedores expuseram, inclusive, que o modelo de negócios healthcare, muito voltado para “pago, quero usar”, também não ajuda na construção da Saúde suplementar, que está em crise financeira sistêmica. Ou seja, não há base científica, epidemiológica ou comparativa que justifique a tomada de decisão, apenas a vontade expressa do cliente. Existe produção de dados financeiros, paradoxalmente. E não se trata de culpabilização do usuário; as questões são multidisciplinares e multifatoriais.

“A conta não fecha, estamos reduzindo acesso e qualidade e tem gente querendo ganhar dinheiro de outras formas”, diz Martins. A questão de como se deve gerenciar um produto peculiar como a Saúde foi repetidamente citada durante o painel. O CEO da Roche, defende que a indústria é um ator indispensável, pois investe em inovação, o que, bem gerida e bem administrada, é uma saída sustentável no cotidiano, por exemplo, da medicina diagnóstica.

Mas, Martins também problematizou “não devemos focar somente no preço, devemos investir em propósito”. E mais: os governos precisam proporcionar continuidade nas políticas públicas e desfragmentar a polarização entre público e privado e players. A desfragmentação também viria da integração estratégica de dados para a tomada de decisão. Ele lembrou que inovação requer treinamento e educação dos profissionais. “Vemos, nesta roda de conversa, que está tudo interligado”, conclui.

Milva lembrou que é necessário sair de mesas-redondas com uma agenda. E todos concordam. No entanto, entendem que não existe uma resolução única e fácil para qualidade, sustentabilidade e estratégia, e não um mercado de cura. Para Tafla, o protagonismo está nas mãos de todos os envolvidos, incluindo do usuário, que precisa entender seu papel no cuidado e como usar melhor seu plano. Comentando um caso pessoal e real, disse que é possível engajar hospitais, prestadoras e clínicas para tentar construir projetos novos. “Não fazer nada é votar nulo.”

Então quais seriam as soluções para melhorar a gestão e a qualidade, problemas elencados como estruturais? Foi unânime o entendimento de que a gestão de dados que cheguem para análise do desfecho do cuidado do usuário e educação continuada dos profissionais são prioridades. Mas, para isso, será necessário ultrapassar algumas barreiras: a falta de integração entre público e privado, o modelo de negócios, descredibilizado, o cuidado curativo em detrimento do preventivo e habilidades para elencar prioridades na gestão.

Leia a matéria sobre o primeiro painel, “Saúde, segurança e qualificação – Quais os desafios?” neste link.

Summit Abramed na Hospitalar 2023 discute segurança e qualificação para melhoria dos serviços em saúde no Brasil

Em debate, líderes do setor destacam sistemas de informação e certificação para melhorar qualidade

“Saúde, segurança e qualificação – Quais os desafios?” foi o tema do primeiro painel de debate do Summit Abramed, realizado no dia 23 de maio, durante a Hospitalar 2023. Os participantes destacaram a importância da gestão de dados e das acreditações como formas de promover a qualificação e o aumento do acesso, por meio da sustentabilidade, assim como da boa gestão de recursos.

Participaram Angélica Carvalho, diretora adjunta da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS); Cibele Carvalho, presidente do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR); e Guilherme Oliveira, diretor administrativo de expansão do Grupo Sabin e diretor de Acreditação e Qualidade da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica Medicina Laboratorial (SBPC/ML). A moderação foi de Ademar Paes Jr., sócio da Clínica Imagem e membro do Conselho de Administração da Abramed.

“Buscamos promover um debate aberto, sempre pautados pela ética e pelo compliance”, comentou Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, na abertura do painel.

Repercutindo o tema central da discussão, Angélica destacou, primeiramente, que o Brasil tem dimensões continentais, sendo necessária uma discussão que considere diferenças regionais, inclusive de mercado, para elaboração de propostas sobre a pauta. Por isso, a coleta de dados e a interoperabilidade dos sistemas devem ser instrumentos importantes para traçar planejamentos reais. “A regulação ainda é muito fragmentada. Deve-se levantar e compartilhar mais informações, do setor público e do privado, e estruturá-las para ter uma visão maior.”

Paes Jr. concordou que é importante se basear em inteligência de dados de forma integrativa e compreensível. A ANS tem duas opções para combater esse gargalo: as entidades podem acessar o Programa de Qualificação dos Prestadores de Serviços de Saúde (QUALISS) como uma forma de estimular as boas práticas e consultar informações, enquanto a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) oferece dados interligados por meio de uma plataforma nacional de interoperabilidade.

Essas informações, como a trajetória do usuário e o desfecho, são importantes para identificar lacunas de desperdício e promover sustentabilidade, focando na segurança do paciente. “No país que faz as eleições em três horas, como não se pode fazer uma saúde mais integrada? O que podemos melhorar?”, completa Angélica, que admite a pulverização e as concorrências entre classes, dificultando a construção de serviços hospitalares e não hospitalares de qualidade. Ela conta que um familiar internado, inconsciente, passou por quatro exames antes de fazer o que salvaria sua vida. De acordo com a diretora adjunta da ANS, a culpa é do responsável pela coordenação do cuidado, que entenderia, por meio de dados, o estado da pessoa individualmente, garantindo cuidado e evitando desperdícios.

Uma das formas de se garantir essa qualidade é por meio de certificações, além do comprometimento de operadoras para credenciar serviços que entregam qualidade. Os instrumentos de auditoria que oferecem um selo de qualidade para o laboratório, por exemplo, verificam equipamentos, gestão, segurança e demais condições. Ainda pouco conhecidas pela população e representando gastos extras em uma realidade de baixo orçamento, as certificações são indispensáveis, mas pouco utilizadas e pouco cobradas por usuários, defende Oliveira. “Aproximadamente 70% dos exames pautam as decisões médicas. Não se faz medicina de excelência sem exame complementar de excelência.”

Todos os participantes concordam que informação, incentivo dos planos, contrapartida e financiamentos poderiam ser propulsores da aderência aos programas, que têm um custo mensal. Apenas 3% dos 15 mil laboratórios brasileiros possuem certificação, ainda que representem 40% dos exames realizados na iniciativa privada. A SBPC/ML, oferece certificações independentes e reconhecidas, como o Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos (PALC).

A presidente do CBR, que também oferece selo de qualidade, como o pioneiro Programa de Acreditação e Diagnóstico por Imagem (PADI), diz que convencer os gestores de que o impacto na qualidade vem no médio prazo, ou seja, se gasta hoje para economizar amanhã, é difícil. Mas entende que, mesmo abrangendo uma parcela pequena da população, 50 milhões do total 200 milhões de pessoas da população total, o serviço suplementar é um elo importante do Sistema Único de Saúde (SUS), muito mais abrangente, mas com problemas semelhantes.

Assim como no setor complementar, na área privada o modelo de remuneração é discutido à exaustão, sem consenso. Mas Cibele não é otimista com as formas apresentadas para driblar problemas financeiros. “Vemos fusões de grandes operadoras que faturam na bolsa de valores, mas oferecem cuidado de má qualidade. Isso não pode acontecer. Saúde não é mercado.” Ela cita casos de campainha que toca com nove minutos de consulta para encerramento.

É consenso que o cuidado com o paciente deve ser o foco. E que promover segurança e sustentabilidade, como a boa gestão de recursos, aumenta e qualifica o acesso. Isso pode ser feito por meio dos esclarecimentos que uma acreditação dá sobre o modelo de negócio. Mas tudo isso depende de recurso e tecnologia, seja em equipamentos, seja em softwares. Porém, a radiologia, por exemplo, que mais recebe inovações tecnológicas, renuncia a isso por falta de verba. Cibele conta que trocava equipamento de ultrassom a cada três anos, e esse intervalo passou para uma década. “Mesmo assim, a gente não consegue convencer sobre a necessidade de grandes investimentos”.

Enquanto laboratórios de grandes centros já convivem com seus desafios, a questão das diferenças de acesso no país volta à tona. Oliveira vê a nova Resolução da Diretoria Colegiada (RDC 302) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com desconfiança, mas considera que, por exemplo, exames pré-natais nas cidades devem ser feitos em laboratórios, porém, se forem realizados em populações ribeirinhas, lançar mão dos testes rápidos é uma saída para promover acesso. “Se no interior só há uma farmácia, usam-se testes de triagem.” Mas ainda questiona: “quem cuida dessa pessoa depois?”, ele lembra que informar as mães sobre os diagnósticos disponíveis é imprescindível e cita que sete em cada mil crianças nascem com sífilis congênita, de fácil diagnóstico.

Os temas abordados no Summit Abramed são de grande relevância para o ecossistema de saúde. A crise da saúde suplementar afeta a cadeia produtiva e os prestadores de serviço de modo sistêmico. Assim, diálogos que busquem promover a sustentabilidade do sistema seguem como protagonistas em feiras e congressos. Buscar soluções que estimulem, por exemplo, exames mais assertivos, evitando desperdícios, é um exemplo de atuação sustentável. Ainda, como preocupação central, está a oferta de serviços qualificados para o paciente.

Ressalta-se ainda que os serviços prestados pelas empresas associadas à Abramed têm a qualidade assegurada por meio de diversos processos de acreditação e certificação, entre elas o PADI e o PALC. Ser um estabelecimento acreditado é um critério de elegibilidade para ser um associado. A melhoria contínua da qualidade dos serviços de medicina diagnóstica pode ser alcançada por meio de processos de acreditação e certificação, entre outros processos de avaliações objetivas e imparciais.

Leia também a matéria sobre o segundo painel do Summit Abramed, “Gestão da Saúde e a sustentabilidade do setor”, neste link.

Ética depende da construção de cultura enquanto inovação pode sugerir caminhos para boas práticas

Evento com participação da Abramed reuniu players do setor de saúde para avaliar como se aplicam atuações transparentes e repercutiu importância da inovação e desafios atuais

Buscando discutir o posicionamento ético entre os atores da Saúde, o Instituto Ética Saúde (IES) promoveu o Ética Summit 2023, encerrando a Semana da Ética – maior evento sobre ética na saúde do Brasil e que promoveu debates e reflexões com líderes e profissionais da saúde e do setor governamental, a fim de ampliar o conhecimento sobreo tema e a consciência social sobre os impactos da corrupção no setor. A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) foi uma das entidades apoiadoras da iniciativa e integrou uma das mesas de debate. Com o tema “Fornecedores de Produtos e Serviços de Saúde: Inovação, Incorporação Tecnológica, Sustentabilidade Sistêmica, Valor ao Paciente e Dilemas Éticos da Atividade Econômica”, o Ética Summit aconteceu no dia 4 de maio, na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EAESP).

Participaram do debate César Nomura, vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed; Fernando Silveira Filho, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Tecnologia para Saúde (ABIMED); Bruno Sobral, secretário-executivo da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde); Luis Eduardo Calderari, vice-presidente executivo da Interfarma; e Sérgio Rocha, presidente do conselho de Administração da Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde (ABRAIDI). A moderação foi de Ligia Maura Costa, professora titular na FGV EAESP e coordenadora geral do Centro de Estudos em Ética, Transparência, Integridade e Compliance (FGVethics).

“Na Suíça, por exemplo, um ministro perdeu o cargo por não declarar viagem oficial.” Nomura trouxe esse exemplo internacional para explicar que a boa conduta é multifatorial e multicultural. São exemplos de visões e sanções diferentes que regem o entendimento de ética de uma população ou um setor. Porém, é preciso, segundo ele, criar parâmetros transparentes, principalmente quando se está falando da atividade em Saúde.

“Há dez anos, a Abramed, por meio do seu Comitê de Ética e Compliance, deliberou sobre laboratórios alocados dentro de consultórios médicos de alto padrão. Entendendo que essa prática poderia gerar problemas no setor, os associados foram desestimulados a fazer isso”, falou Nomura, que completou: “Quando se indica uma conduta para associados, a ação se multiplica. Não é uma deliberação isolada”.

Os Códigos de Conduta são, indiscutivelmente, funcionais para garantir o cumprimento de atitudes éticas. Mas como promover a regulação dos serviços? Para Silveira Filho, fazê-la na forma de leis, que pautam, inclusive, o que pode e não pode ser feito na indústria, nos hospitais e nos laboratórios, não é interessante. Segundo ele, a corrupção sistêmica gera uma corrida para a elaboração de mais normas, o que seria insustentável: “Precisamos nos autorregular”. E essa sugestão deve ir ao encontro dos interesses da Saúde suplementar no sentido de promover acesso de forma adequada e na observância das boas práticas ao usuário final.

Foi unânime entre os debatedores a importância da ética, mais ainda a permanente discussão sobre o assunto. As associações de classe possuem seus manuais, enquanto os demais atores buscam promover a boa conduta dos processos por meio de discussões entre os envolvidos, estimulando a educação continuada e a aplicação do assunto durante cursos universitários, por exemplo. Contudo, para Rocha, a ética começa pela educação, que no Brasil fica a desejar. “Não adianta falar de ética na faculdade. Temos agora é que dar continuidade e aperfeiçoar o que aprendemos”.

Calderari ponderou que, “embora sejamos todos ‘convertidos’, é importante atuar na forma como os hospitais e as organizações de saúde se organizam”. Os participantes concordaram que a ética é uma escolha individual e precisa ser estimulada desde cedo, como algo comum na convivência em sociedade.

Ética: inovação e acesso

O vice-presidente executivo da Interfarma ponderou que, em um momento de crise, deve-se colocar a ética à frente de todas as prioridades. “Não devemos afastar nossos parceiros, funcionários, fornecedores e reconhecer nossas dificuldades”. A crise a que ele se refere é a crise econômica brasileira e das operadoras de Saúde que atinge toda a cadeia produtiva. Vive-se um momento de possíveis mudanças na carga tributária, de rombo operacional dos planos de Saúde, que supera o valor de R$ 11,5 bilhões.

Somada a essa realidade, há denúncias de fraudes nesse setor já estrangulado, inclusive executadas por profissionais que prestam seus serviços sem a observância da ética médica, seja por meio de autorregulação, seja pelo código civil e criminal ou seja pelos códigos de conduta de entidades de classe. Os usuários também fazem parte de alguns sistemas de ações fraudulentas. Segundo Sobral, o resultado é 100% de sinistralidade, o que assusta os prestadores de serviço. Ele ainda critica a atuação de alguns sindicatos, que trabalham de forma anticompetitiva e antiética financeiramente.

Segundo Caderari, as inovações, os equipamentos de última geração e o uso de tecnologias parecem ser um caminho de transformações no setor, uma vez que podem registrar tanto a jornada do paciente quanto do médico e dos demais atores, é possível competir de forma lógica com relação a custos, por exemplo. “Somos o principal driver de carecimento, os centros produtivos e industriais.” Mas, de acordo com o executivo, além de receberem recursos limitados, “não atendem a todos pelo alto custo final”, reconheceu.

Na plateia, ponderou-se que representantes do legislativo poderiam compor a mesa para discussões sobre investimentos. O Governo Federal anunciou a recriação do Grupo Executivo do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Geceis) para promover articulação governamental e formular medidas que fortaleçam a produção e a inovação na área da Saúde. Enquanto isso, a Medida Provisória (MP) 1.147/22, que ainda passará pelo Senado, fala de financiamentos para a indústria. As discussões sobre reforma tributária ainda tramitam no terceiro poder e causam polêmica.

Sobral entende que, finalmente, deve haver uma mudança cultural educacional. Para isso deve-se estabelecer incentivos econômicos corretos e avaliar questões políticas, citando o rol taxativo e a PL do piso da enfermagem. “Mas parece que caminhamos para frente, com foco no paciente.”

Tecnologia e sustentabilidade nos planos de Saúde são discutidas no 14º Seminário Unidas

Abramed destacou o papel da medicina diagnóstica defendendo o exercício do setor de forma mais sustentável

A Abramed participou de um painel na 14º Seminário Unidas, promovido pela Unidas – Autogestão em Saúde. Com o tema “Quem são os verdadeiros atores da Saúde suplementar”, o destaque da discussão esteve em torno da implementação do uso de tecnologias no setor para, principalmente, promover a sustentabilidade em meio à crise financeira que o atinge. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), os planos de saúde apresentam um rombo acumulado que chega a R$ 11 bilhões. O evento aconteceu nos dias 25 e 26 de abril, em Brasília (DF), abordando a temática central “Por mais integralidade e equidade na saúde”.

Estavam presentes na mesa o presidente do Conselho de Administração da Abramed, Wilson Shcolnik; o diretor de Tecnologia e Informação da Associação Paulista de Medicina (APM) e presidente da comissão organizadora do Global Summit Telemedicine & Digital Health, Antonio Carlos Endrigo; o gerente executivo da CASSI, Everton Nunes – que moderou o debate, e a diretora de contratos do Grupo Hapvida Notredame Intermédica, Nathalia Pompeu.

Abrindo a conversa, Nunes ressaltou que o tema em si já era provocador. “O ator é quem tem papel ativo em algum acontecimento e, agora esse momento é de mudanças. Falamos muito em colocar o cliente no centro, temos que buscar soluções técnicas para isso”.

Shcolnick ressaltou que um dos principais problemas enfrentados é o não conhecimento, por parte dos pacientes e beneficiários, de que a não utilização de maneira correta dos recursos gera um impacto no valor, um reajuste. “Essa repetição frequente de exames e os métodos de análise não serem padrão são grandes barreiras. Desde 2011, a Abramed adotou a terminologia Loinc que é a padrão do Ministério da Saúde, mas não avançamos e, essa padronização é essencial, também, para a saúde das pessoas”, complementou.

Para ele, “a área da medicina diagnóstica traz bastante preocupação para os planos de saúde, que cobra pela superutilização desse recurso”. Porém, reforçou que 70% dos diagnósticos médicos são feitos a partir de exames de laboratório de análises clínicas e de imagem, sendo o setor de importância crucial na prevenção de doenças e no tratamento correto.

Segundo o presidente do Conselho de Administração da Abramed, a entidade conta com laboratórios que codificam regularmente dados para exames mais precisos e usam sistemas integrados ao Ministério da Saúde, facilitando a comunicação para tomada de decisão, como aconteceu na pandemia. “Estendemos fronteiras e, atualmente, os exames servem de base para tratamentos personalizados. Isso gera economia para os sistemas de Saúde, tanto público quanto suplementar.”

Shcolnick se refere às fronteiras ultrapassadas por meio do uso de tecnologias que permitem leituras assertivas, diagnósticos mais precisos, menos refração, monitoramento e padronização de dados e interoperabilidade e, então, maior economia pelas operadoras que pagam pela execução dos exames. Mas lembrou ser necessário legislar nesse sentido: “Precisamos dialogar para promover essa implementação respeitando os direitos dos pacientes e a legislação”.

Nathalia garantiu que o ator central dessa discussão é e deve ser o usuário. “Fazendo uma analogia a uma peça de teatro: cada ator corre para cumprir seu papel e ninguém está lá para fazer o espetáculo acontecer. O consumidor final não participa dessas discussões e, como saúde suplementar, temos que representá-los. Falar para quem está acostumado a ouvir é fácil”, afirmou.

Destacando a telemedicina, ela concorda que as novas tecnologias são disruptivas e geram economia, mas devem respeitar o acesso aos dados do paciente. Atualmente, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) regula as relações de dados oferecidos pelo usuário e utilizados pelo prestador de serviço. A acreditação dos sistemas de Saúde também confere proteção ao usuário e ao médico, pois tratam não apenas de equipamentos, mas também de telecomunicações, prevenindo, inclusive, ataques cibernéticos que paralisam sistemas ou expõem dados epidemiológicos pessoais.

“Um dos pontos que nos preocupa é a quantidade e a velocidade que foram criadas as Faculdades de Medicina. Infelizmente não teremos vagas suficientes para residência médica e nem eles estão acostumados a buscar cursos de especialização. E, isso impacta os beneficiários e os planos de saúde. Porque o volume de médicos que estão indo para o setor é grande e a conta não vai fechar. Os convênios não terão como incluí-los na rede credenciada. Isso pode gerar a diminuição nos honorários médicos e, consequentemente, termos médicos de menor qualidade”, destacou Endrigo acerca dos desafios na carreira médica.

Abramed discute sustentabilidade da saúde suplementar em evento da Amcham

Presidente do Conselho de Administração mostrou a pertinência da medicina diagnóstica no contexto da Saúde suplementar e do acesso à Saúde

No último dia 30 de março, a Abramed esteve na Reunião Especial Amcham & Mattos Filho para discutir questões das indústrias Life Science e Saúde com foco nas atualizações regulatórias mais recentes. Em uma discussão multisetorial dentro da indústria da Saúde, problematizaram-se os rumos do setor nos próximos quatro anos e as questões que envolvem o acesso por meio da união entre público e privado e regulação. Representando a instituição no debate, estava o presidente do Conselho de Administração, Wilson Shcolnik. Os associados da Abramed são responsáveis por 60% de todos os exames diagnósticos da Saúde suplementar do país, despontando, assim, como um importante pilar do setor, que oferece mais de 4 mil tipos de exames atualmente.

Shcolnik comentou que a chegada de uma nova gestão governamental especializada anima o setor da Saúde, uma vez que os temas anunciados atendem aos interesses corporativos e da população. “Foi anunciado, por exemplo, o interesse em acelerar a atenção primária e empoderar a telessaúde, que é esperada como uma forma de levar eficiência a todo sistema, tanto público quanto privado.” Segundo ele, a pandemia deu a oportunidade de utilizar de forma mais ostensiva esses mecanismos tecnológicos e remotos e espera que as decisões regulatórias sirvam para a manutenção desse avanço.

Gustavo Swenson Caetano, sócio do escritório Mattos Filho, que patrocinou o evento, concorda que a pandemia acelerou assuntos até então parados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com relação à regulação. As atualizações das normas da agência rumo ao avanço tecnológico também foram destacadas. “Vemos uma tentativa de alinhamento de padrões internacionais para otimizar o trabalho regulatório”. Ainda de acordo com o advogado, a telemedicina foi um importante marco de implementação e regulação. “Precisamos buscar modelos de parceria saudáveis em termos financeiros que tenham segurança jurídica.”

Exaltando a parceria entre público e privado, Shcolnik ainda revelou que na pandemia foi preciso observar essa intersecção. Citando mais um anúncio do atual governo, ele fala que o complexo econômico-industrial da saúde é um destaque. “Sofremos muito na pandemia, pois não tínhamos reagentes para diagnosticar covid-19.” De acordo com ele, é muito importante o diagnóstico precoce, além da promoção e prevenção. “Isso alivia qualquer sistema de saúde de custos de agravamento de doenças.” O presidente do Conselho de Administração da Abramed relembrou que os associados da instituição são responsáveis por 60% dos diagnósticos privados no Brasil e complementou: “30% dos 2 bilhões de exames realizados no país são feitos por nossos associados – exames de laboratório e imagem”.

Nesse contexto, ele comentou que a Anvisa realiza diálogos abertos para a regulação, elogiando a Agência: “A norma de realização de exames fora de laboratório, que está em discussão, pode impactar a saúde do paciente”. Realizar exame dentro de clínicas adequando-a como posto de coleta laboratorial apresenta menos risco para o paciente, uma vez que cuidados pre-analiticos são essenciais para obtenção de um resultado de exameconfiável. “Se a agência não atuar para mudar essa perspectiva, haverá insegurança para a população.” 

Integrar setor público e privado é fundamental para promover acesso à saúde

Sobre as perspectivas para os próximos quatro anos e as pautas que devem ser destacadas nesse período, Fernando Iazzetta, head of Legal, Compliance & Government Affairs da Chiesi, também contribuiu dizendo que a Saúde deve ser prioridade em qualquer política de Estado. “Essa questão, em um país continental, é um dever de todos nós, inclusive da indústria.” O head destacou a criação de uma agenda para o uso das tecnologias e de digitalização e o aprimoramento de dados para criar recursos, inclusive chamando a esfera pública para esse desafio. “Como conseguimos reunir toda essa inteligência e esses dados incluindo todos os stakeholders e propor uma estratégia de alocação mais efetiva?”, indagou no contexto de valor agregado de cada produto, como os farmacêuticos.

Ainda segundo ele, é necessário integrar o setor público e o privado para promover acesso às regiões mais distantes e carentes de recursos. “Temos responsabilidade de, além de vender o medicamento, construir a Saúde da forma que ela merece.” Ponderou-se ainda, durante o debate, as questões orçamentárias que influenciam as propostas, uma vez que existem empresas com nível de endividamento grande, inclusive para promover crescimento, o que atrasaria as discussões econômicas, as discussões do setor da Saúde.

Leandro Fonseca, head of Public Affairs and Healthcare System Sustainability da Novartis, complementa a problematização dizendo que há uma grande busca por saúde suplementar e isso precisa ser observado pelo novo governo, além das questões econômicas. Mas tem uma visão otimista: “Há uma perspectiva de discussões para essa demanda no Planalto.”

Shcolnik aproveitou a chance e chamou a atenção para os obstáculos que podem interferir no acesso. Um deles é a proposta de aumento do piso salarial da enfermagem:“Esse assunto da enfermagem está em linha com o acesso. Quem está inserido na Saúde suplementar pode inviabilizar operações levando a aumento de custos e migração da população para o SUS e esse contingente não é esperado”. No mesmo contexto econômico, a reforma tributária deve ser neutra para o presidente: a exemplo do que ocorre em outros países, a Saúde e a educação devem ser tratadas de forma diferenciada.

Ele ainda se pronunciou sobre a Lei 14.454/22, que “dispõe sobre os planos privados de assistência à saúde, para estabelecer critérios que permitam a cobertura de exames ou tratamentos de saúde que não estão incluídos no rol de procedimentos e eventos em saúde suplementar”. “Temos uma posição não corporativista e nos posicionamos de forma contrária.” Segundo ele, a lei coloca em risco a sustentabilidade do setor. E destaca que a Lei 1.303/22, que dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde para tornar obrigatória a existência de contratos escritos entre as operadoras e seus prestadores de serviços, regulamentada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), não apresentou efetividade. “Isso afeta a qualidade dos serviços oferecidos ao usuário final.”

Ana Cândida Sammarco, sócia da Mattos Filho, destacou a importância da saúde suplementar dentro do ecossistema, mas ponderou o processo de judicialização. “Tivemos aumento no número de beneficiários, mas temos número muito alto de processos”, declara. Segundo ela, a cobertura extra no rol impactou significativamente o setor. Marcos Paulo Novais, superintendente executivo da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), receia que perderemos um ano discutindo economia “e teremos dificuldade de colocar nossas pautas prioritárias nesse momento”.

A Amcham é uma Câmara Americana que integra todo o país disponibilizando conteúdos e networking qualificado para diversos segmentos com foco no setor privado. As datas de todos os eventos podem ser consultadas no site www.amcham.com.br.

*Créditos da imagem: Mario Miranda, Fotógrafo Amcham.

Abramed contribui para debate da FenaSaúde sobre prevenção e combate às fraudes na saúde suplementar

A atuação dos laboratórios e das clínicas de diagnóstico foi abordada por Milva Pagano, diretora-executiva da entidade

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), representada por Milva Pagano, diretora-executiva da entidade, participou do 11º Debates FenaSaúde, que abordou o tema “Prevenção e Combate às Fraudes na Saúde Suplementar”. O evento aconteceu no dia 22 de novembro, no auditório da Escola de Negócios em Seguros, em São Paulo, e foi transmitido pelo canal da FenaSaúde no Youtube.

Milva foi uma das debatedoras do primeiro painel, que tratou de “Fraudes na cadeia de saúde: impactos e enfrentamento”, discorrendo sobre a atuação dos laboratórios e das clínicas de diagnóstico. A discussão contou com a participação de Vera Valente, diretora-executiva da FenaSaúde, falando pelo lado dos planos de saúde; e de Antonio Brito, diretor-executivo da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), que apresentou a atuação dos hospitais privados.

Ela começou parabenizando a FenaSaúde pela iniciativa e manifestou o apoio da Abramed. Contou que a entidade instituiu, em 2017, um código de conduta, bem como desenvolveu uma política de compliance e um canal de denúncia, tamanha a importância dada ao tema.

“Nosso código de conduta segue alguns pilares importantes, como ética, foco no paciente, integridade, transparência, confiabilidade, livre concorrência e sustentabilidade”, disse, acrescentando que a entidade adotou critérios de elegibilidade para os associados, tendo como requisitos fundamentais justamente esses valores, garantindo a qualidade do serviço prestado.

A diretora-executiva da Abramed comentou que estamos em um momento precioso de discussão da RDC 302, da Anvisa, que normatiza o funcionamento dos laboratórios. “Há dois anos, a Abramed vem discutindo esse tema com outras entidades do setor. A questão dos postos de coleta é muito delicada, pois não há nenhuma vedação legal para sua existência dentro de clínicas. Nós defendemos a realização de coleta de exames por laboratórios em locais legalizados”, expôs.

Além disso, disse haver uma diversidade enorme de exigências sanitárias conforme a municipalidade, ou seja, o que se exige em uma cidade difere do que se exige em outra. “É importante padronizar esses pontos. Estamos buscando essa normatização. Precisamos fechar as brechas que existem”, declarou Milva.

Em relação à realização de exames desnecessários, mesmo com toda a rastreabilidade de laudos e amostras, ela lembrou que não é possível desconsiderar a autonomia do médico. “Como medicina diagnóstica, não podemos negar a realização de exames solicitados pelo médico. Não há como selecionar quais serão feitos.”

Segundo Milva, um evento como este é riquíssimo, pois permite discutir algo que coloca em risco a sustentabilidade do setor. “É importante unirmos esforços para coibir essas práticas.”

O painel contou com mediação de Lúcia Helena Oliveira, jornalista do UOL. “As fraudes na saúde suplementar são uma realidade e suas consequências estão diretamente relacionadas à sustentabilidade e a previsibilidade de gastos no sistema de saúde. Isso impacta a ponta da cadeia, ou seja, os beneficiários”, comentou.

Para o diretor-executivo da Anahp, as fraudes são um problema do sistema de saúde como um todo, é preciso compreender isso. “É perigoso pensar nelas apenas como um evento de ordem policial e criminal. Não se trata de um desvio que vai ser resolvido com mais investigação e mais política, mas uma consequência das dificuldades de organização do próprio setor. A fraude é febre indicando doença no organismo”, disse.

Brito defendeu a acreditação das instituições de saúde e a clareza dos processos para inibir as fraudes. Há problemas de excesso de exames, de formação profissional insuficiente, bem como questões culturais e desentendimento sobre glosas, que são a falta de pagamento de algum item que compõe a conta hospitalar do paciente atendido. “Há muita zona cinzenta no sistema de saúde, e o cinza é a cor preferida do fraudulento, daquele que pretende se esconder para fazer o malfeito.”

Segundo ele, também é preciso estimular o máximo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) a redobrar o olhar sobre o tema geral de acreditação, processos e protocolos. Outra questão importante é a mudança do modelo de pagamento, de remuneração por procedimentos, favorecendo as fraudes, para remuneração por desfechos. Vários hospitais já demonstraram o valor deste último modelo para a sustentabilidade do sistema. Brito defendeu, ainda, o prontuário único. “A interoperabilidade é uma necessidade urgente”, ressaltou.

Por sua vez, Vera Valente tratou da atuação dos planos de saúde na prevenção e no combate às fraudes. “A glosa é uma febre que mostra uma enorme preocupação das empresas com contas muito altas”, disse.

Ela citou como exemplos de fraudes: pedido de reembolso de consultas não realizadas, solicitação desnecessária de exames, entrada em processos para pedir judicialmente a execução de procedimentos que não são necessários e mudança de código de doença para solicitar tratamento sofisticado com fins estéticos. “Todos pagam a conta”, ressaltou.

“Temos como desafio organizar a jornada do paciente, para que ele não corra para o pronto-socorro a qualquer dor de cabeça. Precisamos nos unir para apagar os incêndios, pois eles podem comprometer a sustentabilidade da cadeia. Todos precisam ter consciência de seu papel, incluindo médicos e beneficiários”, expôs Vera.

O evento completo pode ser visto neste link: https://youtu.be/dcAM8aQyXfU 

Em suas considerações finais, Milva ressaltou a importância do debate, fazendo votos de que ele seja o primeiro de muitos. “Mas não podemos ficar apenas no debate, a Abramed, norteada por seu Código de Conduta, lançado em 2017, orienta, incentiva e exige de seus associados boas práticas que inspirem todos os elos da cadeia, honrando nossa responsabilidade em garantir o foco na atenção ao paciente, resguardando sua segurança e o compromisso com serviços diagnósticos de qualidade, que contribuem diretamente para a adequada conduta médica e, consequentemente, para evitar desperdícios de recursos no sistema”, encerrou.

Evento do ICOS e ComSaúde Fiesp reúne autoridades, especialistas e parlamentares para discussão de propostas para a saúde de 2023 a 2030

Claudia Cohn, Wilson Shcolnik e Milva Pagano representaram a Abramed no evento

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) participou, na manhã do dia 21 de outubro, do encontro “Coalizão Saúde — Diálogos com a Sociedade: Acesso e Equidade”, promovido pela Editora Globo, em parceria com o Instituto Coalizão Saúde (ICOS) e o ComSaude/FIESP, com transmissão ao vivo nas redes do Valor Econômico.

Seu objetivo foi abordar as propostas para a saúde do Brasil de 2023 a 2030, a saúde como política de Estado e como pauta no Congresso Nacional. Autoridades, especialistas no tema e parlamentares se reuniram para ajudar a construir um futuro melhor para a saúde da população.

Claudia Cohn, integrante do Conselho de Administração da Abramed, vice-presidente do ICOS e diretora-executiva da DASA, compôs a mesa de abertura. “Essas discussões são de extrema importância para podermos sair inspirados deste período difícil e, ao mesmo, promissor. Mas precisamos construí-lo, só depende de nós”, disse.

Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed e conselheiro administrativo do ICOS, participou direcionado pergunta ao Deputado Federal Eleuses Paiva, um dos participantes do segundo painel.

“Sabemos que no Brasil há clínicas de diagnóstico por imagens e laboratórios clínicos bem equipados e com profissionais qualificados que podem oferecer serviços equiparados a países do primeiro mundo, mas ainda temos problemas de acesso. Por exemplo, brasileiras não conseguem realizar mamografia e exames de Papanicolau em muitos locais do país. O que está ao nosso alcance para minimizar essas iniquidades e proporcionar melhor acesso à população?”, questionou o presidente do Conselho de Administração da Abramed.

Segundo Paiva, não há outra forma de discutir gestão em saúde sem pensar em regionalização. E aí entra a questão das filas para atendimento, que também afetam a área cirúrgica. “O problema não é ter fila, mas fazê-la andar. Ao realizar uma avaliação loco-regional, podemos analisar o histórico da demanda na região e fazer um balanceamento, utilizando uma rede hierarquizada. Dessa forma, saberemos a carência de cada local e poderemos organizar as parcerias público-privadas que ajudariam a atender esse público”, explicou. Para ele, o problema é um pouco mais grave do que se imaginava.

Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, esteve entre o público presente representando a entidade.

Propostas para a saúde

Giovanni Guido Cerri, presidente do Conselho de Administração do ICOS e do Inova-HC, anunciou no evento o lançamento da publicação “Propostas para a Saúde do Brasil 2022 – 2030”, elencando cada uma delas e seu impacto em quatro eixos de ação.

No eixo de financiamento e sustentação do sistema de saúde, uma das propostas é promover a desoneração do setor, o que trará redução dos custos, ampliação do acesso e sustentabilidade financeira. Outra proposta é promover e implantar novos modelos de remuneração baseados em valor, permitindo o combate ao desperdício e o aumento da qualidade assistencial.

No eixo de gestão operacional e assistencial do sistema de saúde, uma das propostas é priorizar e ampliar a Atenção Primária à Saúde (APS), com financiamento adequado, trazendo como impacto a retenção de profissionais de saúde, a informatização das UBS, o engajamento da população em ações de promoção de saúde e a prevenção de doenças.

Outra proposta é desenvolver, organizar e implementar uma instância técnico-administrativa de apoio e direcionamento para as decisões estaduais e municipais. Isso traria como benefícios: planejamento do sistema pautado em evidências e dados, alinhados às necessidades e demandas da população, bem como maior resolutividade dos serviços de saúde em nível regional.

Ainda no eixo de gestão, está entre as propostas garantir estrutura mínima para a geração de dados dos serviços em saúde. O impacto será o aumento do controle, da fiscalização e da transparência da gestão, além da integração dos serviços de saúde nas redes assistenciais.

No eixo de saúde digital integrada, as propostas são consolidar a governança intersetorial e multissetorial da Estratégia de Saúde Digital e ampliar a participação das entidades da sociedade civil nesse processo; acelerar a implantação do Espaço de Colaboração da Estratégia de Saúde Digital para que todos os atores dos setores públicos e privado se aproximem do tema e aportem recursos para sua implantação; e orientar organismos privados e públicos a utilizarem essa estratégia.

No eixo de inovação e o complexo científico e tecnológico na saúde, as propostas são estabelecer política pública para inovação em saúde que aproxime universidades, empresas e institutos públicos, ofereça segurança jurídica e possibilite o desenvolvimento e a consolidação do complexo industrial da saúde no país; fortalecer a atuação e a autonomia técnica e financeira do INPI e das agências reguladoras, garantindo sua independência e celeridade de patentes, proteção de marcas e inovações, bem como a proteção de dados de testes; e estabelecer um ambiente legal e regulatório seguro, estável e competitivo para a realização de pesquisas clínicas, melhorando a posição do país no ranking mundial.

“Que essas propostas do ICOS sirvam de reflexão para o próximo governo, a fim de que possamos reduzir a desigualdade e melhorar o acesso de nossa população à saúde”, ressaltou Cerri.

Na sequência, Rui Baumer, presidente do ComSaude/FIESP e do Sindicato da Indústria de Artigos e Equipamentos Odontológicos, Médicos e Hospitalares do Estado de São Paulo (Sinaemo), fez sua contribuição em defesa da indústria. “Com mais de 75% da população usando o SUS, é essencial ter uma capacidade produtiva instalada, próxima e disponível. Esse setor precisa de segurança jurídica, previsibilidade de demanda, garantia dos contratos, isonomia nos processos de aquisição nacionais e internacionais, ambiente de negócios simplificado, baixa tributação e apoio à pesquisa e inovação”, expôs.

Painel 1

Do Painel 1 – “Diálogos com a Sociedade: a Saúde como política de Estado”, participaram Marcelo Queiroga Filho, ministro da Saúde; Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo; e Antônio Britto, ex-governador do Rio grande do Sul e atual diretor-executivo da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp).

Queiroga comentou que é preciso equilibrar o estado, melhorar seu desempenho fiscal e a eficiência do sistema de saúde. “Assim podemos pedir com mais autoridade recursos para o nosso SUS, mostrando não haver um caminho melhor do que fortalecer a saúde pública como uma política de estado para um país continental como o Brasil.”

Em sua fala, o ministro da Saúde citou as ações realizadas pelo governo na pasta e disse que, para avançar de maneira mais efetiva, é preciso consolidar a Rede Nacional de Dados em Saúde. “Ela será capaz de receber um conjunto de dados cada vez maior para podermos conhecer o desempenho dos hospitais e, assim, nos livrarmos da famigerada tabela do SUS.”

Por sua vez, Alckmin lembrou que a saúde está entre as grandes preocupações da população e que enfrentamos agora novos desafios, como o da prevenção. Ele exaltou a importância da ciência e a humildade frente ao desconhecido. “Todo o apoio à pesquisa e à inovação. Esse é o caminho.”

O ex-governador de São Paulo também falou sobre gestão e telemedicina. “A saúde pode ganhar muito com a tecnologia ao reduzir filas, facilitar a vida da população e diminuir custos, melhorando o atendimento em regiões mais distantes e oferecendo mais segurança aos profissionais. Também permite preparar recursos humanos à distância, sem falar na importância da tecnologia para a indústria. Todo o apoio à saúde digital.” Ele acrescentou que é preciso melhorar o financiamento da saúde e defendeu a reforma tributária e a desoneração da saúde.

Britto contribuiu com a mesa comentando sobre as grandes pautas em comum do setor, segundo análise de documentos produzidos por várias entidades. Ele observou que não se discute mais a importância do SUS e das parcerias público-privadas. Também é consenso que não basta financiamento, é preciso boa gestão. “Sabemos, ainda, que o Brasil está em posição medíocre em termos de inovação e produção industrial na matéria de saúde. E de nada adianta sem investimentos na formação médica e de profissionais da saúde. Outro ponto é que ganhamos a oportunidade de revolucionar tudo isso com a saúde digital.”

Foi então que o diretor-executivo da Anahp lançou a reflexão: o que faremos com esses conceitos? Vamos enfrentar as causas? “A identificação do que há para ser resolvido está muito óbvia. Então acredito que temos uma questão política: o que vamos fazer pós-pandemia, pós-eleição? Não podemos deixar passar este momento, independentemente de quem estará no poder”, expôs.

Painel 2

Do Painel 2 – “Diálogos com a Sociedade: a Saúde em pauta no Congresso Nacional”, participaram os deputados federais Dr. Luizinho (PP), Adriana Ventura (Novo), Pedro Westphalen (PP), Eleuses Paiva (PSD), Marco Bertaiolli (PDS) e Carmen Zanotto (Cidadania).

Adriana, uma das autoras do Projeto de Lei (PL) 1.998/20, que autoriza e define a prática da telemedicina em todo o território nacional, comentou os próximos passos dentro do assunto. “O desafio agora é aprovar o PL no Senado. E precisamos de apoio, estrutura, embasamento técnico, respaldo jurídico e financeiro dos atores do setor, não só de recursos financeiros. Não é simples falarmos de certificação digital, interoperabilidade e prontuário eletrônico. Se não houver essa união, cada um seguirá defendendo apenas o seu lado.”

Westphalen também mencionou a telemedicina: “Ela veio para ficar, precisamos regular e colocá-la em prática”. E ressaltou que não é possível ter filas de quatro a cinco anos para cirurgias dermatológicas. “Por isso é importante a integração do SUS com a saúde suplementar, o que ficou bem claro na pandemia.”

Paiva, por sua vez, ressaltou que telemedicina e atenção primária serão o grande salto de qualidade na discussão da medicina, tanto do ponto de vista de assistência quanto de gestão. “Sabemos da ineficiência do setor em termos de acesso e quanto a tecnologia pode ajudar.”

Dr. Luizinho citou o Projeto de Lei 2.583/20, de sua autoria, que cria a Estratégia Nacional de Saúde, para que se tenha um novo marco legal do SUS e seja implementado o Complexo Industrial da Saúde (CIS). “Vou fazer esse projeto andar para que a indústria alocada no Brasil possa ter estímulo para vender e produzir no país”, destacou.

Já Bertaiolli disse que a economia para financiar o que é pleiteado está na eficiência aplicada no próprio sistema, que se retroalimenta. “Se eu pudesse dar uma sugestão, investiria tudo na integração e na digitalização dos prontuários eletrônicos, para podermos enxergar o paciente como único.”

Por fim, Carmen apontou que na saúde as discussões estão fragmentadas e que há centenas de leis e frentes parlamentares. “Precisamos saber o que fazer com os documentos, a discussão não pode ficar apenas no papel, como já ficam as nossas leis e portarias. E, para isso acontecer, é preciso uma integração verdadeira do parlamento. Cabe a nós fortalecermos a Frente Parlamentar Mista da Saúde, com a participação do poder público e da iniciativa privada, entre outros entes.”

O vídeo completo do evento pode ser visto aqui: https://www.youtube.com/watch?v=gnAvHURWnjc