06 de Maio de 2020
Em dezembro de 2019 a China disparou um
primeiro alerta sobre uma pneumonia desconhecida e, desde então, todos os
sistemas de saúde no mundo vêm enfrentando inúmeros desafios. Reconhecendo que
o diagnóstico é parte fundamental da estratégia de combate à pandemia do novo
coronavírus, os investimentos em novos testes são globais. Porém, a corrida
contra o tempo – e contra a COVID-19 – desperta muitas dúvidas.
Para auxiliar nessa compreensão, a
Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) conta com a expertise
de Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da entidade, para
sanar os principais questionamentos sobre os exames capazes de identificar quem
está ou não infectado.
Confira abaixo:
O Brasil se atrasou para iniciar o
diagnóstico?
Wilson Shcolnik – Não. Precisamos lembrar que essa é uma doença que não existia até o
final de 2019. Portanto, quando o novo
coronavírus surgiu, nenhum país no mundo estava preparado para enfrentá-lo.
Logo que o surto chegou ao Brasil, alguns poucos laboratórios públicos e laboratórios privados iniciaram uma
movimentação para desenvolvimento in house dos primeiros exames
moleculares para diagnóstico da COVID-19. Na sequência, a indústria fornecedora
dos insumos, tanto nacional quanto internacional, também otimizou sua produção
para suprir a demanda mundial. Agora, o mundo está trabalhando na validação de
testes sorológicos para identificação de anticorpos e o Brasil segue
acompanhando essa movimentação.
Por que o Brasil não testa toda a
população sendo que essa é a recomendação da OMS?
Wilson Shcolnik – Quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que os países
testassem todo mundo, ela partiu de um cenário que seria o ideal. Porém, a
própria Organização destacou a importância dessa recomendação ser
contextualizada, reconhecendo que todos os países deviam compreender suas realidades
para aplicar a melhor estratégia.
No Brasil temos uma população de quase 210 milhões
de pessoas, o que nos difere, por exemplo, da Coreia do Sul, com
aproximadamente 50 milhões de habitantes. Quando a curva de contaminação
começou a subir, aumentando a demanda pelos testes, prontamente o Ministério da
Saúde mudou sua abordagem direcionando os exames exclusivamente aos hospitais
para pacientes sintomáticos graves. Essa atitude contribui para o melhor
atendimento à população.
Agora que os testes sorológicos estão sendo
fabricados e disponibilizados, o Brasil mais uma vez está traçando uma rápida
estratégia para que esses testes sejam aplicados de forma segura e eficiente
para o combate à pandemia de COVID-19, lembrando que mais uma vez esses exames
devem ser priorizados a profissionais de saúde que precisam reassumir seus
postos de trabalho e garantir o atendimento às pessoas infectadas.
Secundariamente, servirão para inquéritos epidemiológicos que fornecerão
informações para a liberação do distanciamento social.
Qual a diferença entre os testes?
Wilson Shcolnik – A principal diferença entre o teste molecular e o teste sorológico
é o que é detectado. O RT-PCR é um teste molecular de alta complexidade capaz
de identificar o RNA do vírus em uma amostra colhida com um cotonete prioritariamente
nas mucosas respiratórias do paciente. É o teste apontado como padrão-ouro pela
OMS por ter um resultado altamente seguro e conseguir identificar a doença no
início da infecção.
Já o teste sorológico, categoria na qual estão
inseridos os testes rápidos, detecta os anticorpos em amostras de sangue. Isso
significa que sua eficiência depende tanto da qualidade do kit de diagnóstico
quanto da realização seguindo as melhores práticas laboratoriais e respeitando
a janela imunológica que varia de indivíduo para indivíduo e cuja média é de 8
dias do aparecimento dos sintomas.
Posso comprar um teste na farmácia e
fazer em casa?
Wilson Shcolnik – Não. Não existe autoteste para diagnóstico de COVID-19. Tanto o
RT-PCR quanto o teste sorológico, inclusive o teste rápido, devem ser
realizados seguindo as melhores práticas laboratoriais, sempre com a supervisão
de um profissional de saúde habilitado. Recentemente, a Anvisa autorizou a
realização dos testes rápidos em farmácias e drogarias, o que significa que o
cidadão comum poderá fazer o teste nesses ambientes, porém reforçamos que é
fundamental que assim como feito nos laboratórios, os testes nas farmácias
sigam as recomendações da Anvisa e das sociedades médicas para garantir
resultados confiáveis e a segurança da população.
Todos os testes são confiáveis?
Wilson Shcolnik – Os kits de diagnóstico são produzidos por fabricantes nacionais e
internacionais e precisam de registro na Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) e validação. Os testes utilizados no sistema público são
validados pelo Ministério da Saúde por meio do Instituto Nacional de Controle e
Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz). Já os testes utilizados na saúde
suplementar poderão ser validados por uma força-tarefa realizada pela
Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Sociedade Brasileira
de Análises Clínicas (SBAC) e Sociedade Brasileira de Patologia Clínica /
Medicina Laboratorial (SBPC/ML) em parceria com a Câmara Brasileira de
Diagnóstico Laboratorial (CBDL). Nesse caso, a expertise de laboratórios
privados está sendo aplicada para a checagem de eficiência e segurança desses
exames e a lista com os resultados será disponibilizada em breve ao público.
Posso ir a um laboratório e pedir para
fazer o teste?
Wilson Shcolnik – A recomendação é que os exames de diagnóstico de COVID-19 sejam
solicitados pelos médicos, profissionais com a competência necessária para
avaliar cada caso e definir a necessidade ou não de diagnóstico laboratorial.
Se você tiver tosse e febre, por exemplo, a recomendação é que permaneça em
casa, em repouso, se alimentando bem e, principalmente, em isolamento. Caso
apresente falta de ar, deve procurar uma unidade de saúde.