Debate virtual promovido pelo Sebrae-PB também abordou os aprendizados da pandemia
25 de novembro de 2020
Executivos da saúde se reuniram virtualmente dia 12 de
novembro para debater os avanços e os desafios tecnológicos da medicina
diagnóstica em um ambiente prioritariamente digital. Promovida dentro do Saúde
Summit, realização do Sebrae-PB e Luz Criações, a palestra “O futuro da gestão
na saúde 4.0” contou com participação de Priscilla Franklim Martins,
diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed); Jeane
Tsutsui, diretora-executiva de negócios do Grupo Fleury; e Jimmy Ayoub, diretor
de inovação e produtos da Cuco Health.
Os avanços tecnológicos na medicina diagnóstica são
históricos. Estratégico e totalmente dependente de inovação, o setor também é
responsável pela geração de uma vasta quantidade de dados que, quando bem
geridos, são capazes de promover qualidade de vida ao paciente e informações
eficientes para a geração de políticas públicas.
“A transformação digital que estamos vivendo é consequência
de todo o investimento em tecnologia já feito. Hoje temos equipamentos
monitorados e reparados remotamente, trazendo agilidade à manutenção e
impactando positivamente a jornada do paciente; conseguimos fazer digitalmente
desde o agendamento do exame até a retirada do resultado; e nos vemos a cada
dia mais envoltos por startups que revolucionam o cenário”, comentou
Priscilla enfatizando que tudo isso que foi construído com o passar das décadas
foi fundamental para o melhor enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.
“Se não tivéssemos essa realidade agora, como teríamos acesso a tudo isso
diante do isolamento social?”, completou.
Usar a tecnologia como forma de otimizar a jornada do
paciente é um caminho extremamente necessário na visão de Jeane. Porém, para
isso, é preciso ter clareza sobre os entraves que se consolidaram. “Precisamos
saber quais necessidades resolver e a implementação precisa ser ágil e flexível
para que não se perca o propósito. Se não for assim, as pessoas acabam se
perdendo diante de tantas coisas a serem feitas”, disse enfatizando a
necessidade de colaboração e união entre os atores.
Na visão de Ayoub, apesar de tantos avanços significativos,
o setor ainda tem um delay que precisa ser eliminado. “A pandemia diminuiu esse
atraso, mas ele certamente existe. Nem toda a cadeia de saúde, nem todo o
ecossistema, estão alinhados com esse processo de transformação que tende a
ficar mais robusto”, pontuou. “Criamos maturidade nos últimos meses,
infelizmente impulsionada pela COVID-19. Mas, hoje, temos um cenário de
transição em velocidade mais alta do que tínhamos ano passado e com certa
tendência de ser irreversível. Há alguns meses eu escutava que isso era fogo de
palha e que passaria logo, hoje vejo que há sim uma corrida desenfreada na
busca por aderir ao conceito de omnichannel”, completou.
Moderado por Dalu Melo, jornalista e criadora digital, o
debate seguiu tratando sobre a relevância dos dados gerados pela medicina
diagnóstica. “Por que esses dados ainda não estão sendo usados de forma
colaborativa”, questionou a mediadora.
Jeane acredita que colocar o paciente no centro do cuidado
também otimiza esse processo colaborativo. “Ele deve ter as informações para
compartilhar com quem quiser. Hoje o foco está nos diferentes elos da saúde, ou
seja, em operadoras, prestadores e hospitais. Precisamos mudar o foco para o
paciente”, declarou. Segundo a executiva, o Grupo Fleury vem trabalhando para
que os dados fiquem à disposição do indivíduo e no desenvolvimento de
ferramentas que permitam, a ele, o compartilhamento.
Priscilla também acredita que empoderar o cidadão é o melhor
caminho, mas que as empresas têm grande responsabilidade, principalmente
educacional. “Não basta ter o acesso se o paciente não entende a importância
desse histórico”, alertou. Para a diretora, além da empresa ensinar e do
paciente aprender, há também o papel do Estado na integração dos setores
público e privado de saúde permitindo a visualização sistêmica. “Hoje, se faço
um exame na rede privada, não consigo utilizá-lo no meu atendimento via SUS”,
disse reforçando que para que tudo isso seja concretizado, há também a
necessidade de garantir ao país inteiro uma conexão de qualidade.
Para Ayoub, a tecnologia que existe no país consegue
garantir essa conexão. Mas Jeane diz que na teoria a tecnologia está
disponível, mas que no dia a dia há sim dificuldades, além de certa carência de
profissionais especializados para promover esse processo integrativo.
Aprendizados da pandemia
“Difícil não ter uma sensação de aperto no peito por tudo
isso que estamos vivendo. Mas é inegável que tivemos aprendizados e muita
colaboração”, disse Priscilla ao iniciar o debate sobre como a COVID-19
impactou o setor. “Nunca tínhamos visto um diálogo tão aberto no setor de saúde
que, historicamente, conversava pouco. Foi a pandemia que transformou tudo
isso. De repente nos vimos todos com as mesmas dores tendo de sentar e debater
como superar os desafios no menor espaço de tempo possível”, disse a executiva.
Jeane, concordando com Priscilla, enfatizou a importância
desse movimento assistido nos últimos meses. “Nunca tivemos no Brasil tantas
empresas se mobilizando para auxiliar no combate ao novo coronavírus.
Obviamente o governo puxou algumas ações, mas muita coisa partiu do setor
privado. Não podemos perder esse espírito”, comentou.
Para Ayoub – um pouco menos otimista – apesar do diálogo ter
existido, ainda é preciso focar nos resultados dessas conversas. “Tivemos
poucas soluções que, usando a tecnologia, envolviam diversos players e
ainda há concorrência entre eles”, declarou trazendo à tona o debate sobre os
atuais modelos de remuneração praticados no país. “Ainda estamos pautados pelo
fee-for-service. Existe sensibilização e inúmeras discussões. Mas também
existe, ainda, uma percepção de que é cada um por si quando, na verdade, o
produto tecnológico é a soma de várias ações e pontos bem feitos”, finalizou.