13 de Abril de 2020
Convidado pela Aliança para a Saúde Populacional, Wilson Shcolnik esclareceu principais questionamentos sobre os diferentes modelos de testes
A pandemia do novo coronavírus trouxe
muitos desafios para os sistemas de saúde e, quando a Organização Mundial de
Saúde (OMS) declarou que o melhor caminho para vencer a COVID-19 era testar o
maior número possível de pessoas, diversas dúvidas surgiram com relação aos
diferentes tipos de exames disponíveis no mercado. Para esclarecer todos esses
aspectos, a Aliança para a Saúde Populacional (ASAP) realizou, dia 9 de abril,
uma entrevista virtual com Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de
Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).
Interagindo com Fábio Gonçalves e Letícia
Azeredo Diniz, respectivamente diretor técnico e assessora da ASAP, Shcolnik enfatizou
que neste momento o setor de diagnósticos preza pelo registro e pela validação
dos testes disponibilizados no país. “Precisamos que a utilização desses testes
seja feita com segurança. Caso contrário teremos resultados que não serão
confiáveis”, pontuou.
Explicando que no momento o Brasil tem
cerca de 25 testes registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), entre eles o teste molecular RT-PCR que é tido pela OMS como o
padrão-ouro para diagnóstico de COVID-19, o presidente declarou que a
preocupação com os diferentes testes que surgem e não têm sua eficácia
devidamente avaliada visa evitar a repetição de um passado recente não tão
vantajoso. “Quando vivenciamos a epidemia de dengue vimos que os testes rápidos
têm desempenho variável. Por isso registro e validação são etapas tão
importantes”, declarou.
Shcolnik aproveitou a oportunidade para
reafirmar a força-tarefa que está sendo realizada por laboratórios privados e
entidades do segmento para validar os exames de diagnóstico de COVID-19 no
Brasil, uma iniciativa inédita que trará segurança para o país e para o cidadão
brasileiro, já que os resultados serão divulgados apontando quais as
metodologias mais confiáveis. Além disso, o projeto contribuirá com o cenário
global ao compartilhar as informações obtidas durante a validação para
formulação de estudos promovidos pela London School of Hygiene & Tropical
Medicine (LSHTM) e pela Aliança Latinoamericana para o Desenvolvimento do
Diagnóstico in Vitro (ALADDIV).
RT-PCR ou teste sorológico?
A OMS apontou o RT-PCR (reação em cadeia da
polimerase em tempo real), exame molecular capaz de identificar o RNA do novo
coronavírus em amostras dos pacientes, como o exame mais apropriado para o
diagnóstico da COVID-19 na fase aguda da doença, ou seja, quando a pessoa já
apresenta sintomas ou confirma ter tido contato com alguma pessoa infectada.
Esse exame, que é de alta complexidade, é oferecido em hospitais e
laboratórios, porém devido à alta demanda os insumos para sua realização estão
escassos, o que enfatiza a necessidade do uso racional deste procedimento.
Porém, segundo o presidente da Abramed, o
país conseguiu se desenvolver rapidamente logo que os primeiros casos foram
diagnosticados em território nacional. “Nas semanas iniciais conseguíamos realizar
centenas de exames ao dia. Hoje, tanto as redes privadas quanto as públicas já
são capazes de executar de 4 a 5 mil exames diariamente para diagnosticar a
COVID-19 na fase aguda da doença”, explicou.
Já o teste rápido – que conta com um método
realizado em laboratório e outro método conhecido como auto-teste e que se
assemelha ao exame de gravidez disponível nas farmácias – não atua na
identificação do RNA do vírus, mas sim na checagem de anticorpos. E é nesse
momento que o falso negativo pode ocorrer, gerando uma perigosa falsa sensação
de segurança.
O sistema imunológico se comporta de forma
diferente em cada pessoa, produzindo anticorpos em ritmos diferenciados.
“Sabemos que o anticorpo IgM demora até 10 dias para constar nas amostras
sanguíneas. Isso mostra que se o exame for realizado logo que os sintomas
surgirem, o resultado será negativo mesmo que a pessoa esteja infectada pelo
novo coronavírus”, explicou Shcolnik complementando que o IgG, outro anticorpo
identificado, somente aparece após o 14º dia do início dos sintomas. “Para a
fase aguda contamos com o RT-PCR e, para a fase tardia, os exames de anticorpos
serão de grande valia”, complementa o executivo.
Quando trata da utilização dos exames
sorológicos na fase tardia, o presidente explica que esses testes terão um
papel fundamental na retomada das atividades, já que poderão apontar as pessoas
que têm anticorpos e, dessa forma, poderiam retornar ao trabalho. Além disso,
esses exames também serão de grande valia para avaliação do perfil de imunidade
da comunidade como um todo. Concomitantemente, Shcolnik reforça que a ciência
ainda não pode afirmar que a pessoa que foi uma vez infectada não está mais
suscetível à novas infecções.
Aos interessados, o webinar segue disponível no
canal da ASAP no YouTube.