Evento digital recebeu executivos do Grupo Fleury, Hospital Sírio-Libanês e XP Investimentos
11 de agosto de 2020
Em um
momento de tantos desafios, fica ainda mais clara a importância do diálogo
aberto e da troca de experiências. Neste contexto, nasce o projeto #DiálogosDigitais, uma série de eventos digitais, promovido pela
Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), para dialogar sobre os
mais variados temas que afetam a cadeia da saúde. O primeiro episódio da série recebeu,
na noite de 11 de agosto, lideranças da saúde e especialistas para tratar da
retomada econômica na nova realidade.
Com as incertezas que permeiam o cenário nacional abalado
pela pandemia de COVID-19, como gestores, médicos e economistas encaram os
desafios que estão pela frente? Moderado por Priscilla Franklim Martins,
diretora-executiva da Abramed, o diálogo contou com a participação de Carlos
Alberto Marinelli, CEO do Grupo Fleury; Paulo Chapchap, diretor-geral do
Hospital Sírio-Libanês; e Rachel de Sá, economista da XP Investimentos.
Logo após a confirmação do primeiro caso de infecção pelo
novo coronavírus no Brasil, a crise começou a se instalar. Com a paralisação de
algumas atividades, sendo mantidos apenas os serviços essenciais, a economia
começou a enxergar que os desafios seriam enormes. Ainda dentro dessa
perspectiva, hospitais, laboratórios e clínicas de imagem viram sua
movimentação entrar em vertiginosa queda com a suspensão de atendimentos
eletivos, visto que a prioridade do país era identificar e tratar pessoas
acometidas pela COVID-19.
Diante de tantas incertezas – estávamos frente a uma doença
nova em uma situação difícil de ser compreendida em tão pouco tempo – o
conhecimento foi evoluindo tanto na área da saúde quanto na economia. É o que
explica Rachel de Sá. “No começo, a maior parte dos economistas do mundo
entendiam que vivíamos uma crise de oferta. Porém, depois da compreensão de que
o grande problema do novo coronavírus não era a letalidade, mas sim a
disseminação muito rápida que ameaçava os sistemas de saúde, entramos em
isolamento social e a economia mundial parou. Começamos, então, a avaliar que a
COVID-19 era uma crise da economia real, que trazia tanto problemas de oferta
quanto de demanda”, disse.
Para os serviços de saúde, a crise também se instalou.
Apontando que a incerteza é o maior desafio de todos nesse momento, Carlos
Marinelli, falando sob a ótica do Grupo Fleury, traçou um panorama das
atividades da rede ao longo dos últimos meses enfatizando que os resultados da
companhia mostram que o segundo trimestre de 2020 foi, de fato, muito
desafiador.
Lembrando de cenários internacionais como o de Nova Iorque,
nos Estados Unidos, que acusou aumento de 800% no número de mortes nas
residências por doenças cardíacas ocasionadas principalmente pelo receio das
pessoas buscarem atendimento médico e, assim, serem contaminadas com a COVID-19
nos equipamentos de saúde, Marinelli avaliou o segundo semestre. “Cuidados de
saúde são prioritários e chega uma hora que a pessoa precisa ir ao médico,
precisa fazer seus exames. Quando projetamos 2020, pensamos que uma segunda
onda de infecções pelo novo coronavírus não seja o cenário mais provável, visto
que infelizmente não tivemos um controle tão efetivo da pandemia”, pontuou. “A
gente não teve um colapso do sistema de saúde, o que foi muito positivo. Mas
isso não quer dizer que controlamos a pandemia da melhor maneira”, completou.
Ao falar sobre a contenção do patógeno na sociedade, o
executivo declara que todos estão a cada dia aprendendo mais sobre a doença e
sobre como os serviços devem se comportar em um país continental como o Brasil,
onde os surtos chegaram em tempos e com intensidades diferentes. “Trabalhamos
com pesquisadores da USP e da Unifesp para entender a prevalência de COVID-19
na cidade de São Paulo e o que vemos é uma divergência muito grande em função
do nível de renda, visto que em regiões mais pobres já vemos soro prevalência
batendo 23%”, apontou. Segundo Marinelli, quando a porcentagem de pessoas que
já tiveram contato com o vírus chega a esse patamar, começamos a observar
características de imunidade de rebanho. “E é isso que reforça nossa percepção
de que não necessariamente teremos uma segunda onda”, disse.
Trazendo dados sobre como o Hospital Sírio-Libanês foi
impactado pelo alto número de casos de COVID-19 de março até hoje, Paulo
Chapchap fez uma análise de como a pandemia provocou uma mudança na saúde geral
da população, mesmo naqueles indivíduos que não se contaminaram com o novo
coronavírus. “Começamos a ver internações de pacientes muito mais graves. Tanto
de COVID-19 quanto de quem não tinha COVID-19”, disse. O executivo no comando
do hospital acredita que nos próximos meses assistiremos o número de exames de
diagnóstico voltar a 90% do que era realizado na pré-pandemia.
Papel da testagem – Priscilla provocou os
participantes a falarem sobre o papel do diagnóstico nesse cenário. “Sabemos
quão importante é a testagem para que a retomada realmente ocorra e que temos
testes cada dia mais confiáveis. Temos ciência de que o exame molecular RT-PCR
é o padrão ouro para diagnóstico da COVID-19, mas vemos que os testes
sorológicos estão a cada dia mais assertivos. Como está esse cenário hoje?”,
questionou.
Sem deixar de reforçar que a melhor estratégia para o
combate de uma pandemia infecciosa como a COVID-19 é testar, isolar e rastrear,
Marinelli falou sobre o teste sorológico como um excelente caminho para
empresas que estão retornando às atividades. “Muitas pessoas contaminadas não
têm nenhum sintoma característico. O RT-PCR identifica a fase aguda da doença.
Vamos, então, testar essas pessoas o tempo todo para identificar o patógeno?
Nesse caso, testar pela sorologia é mais vantajoso. Caso o paciente apresente
IgM alto, sabemos que está no período mais crítico da doença. Se tiver alto o
IgG, é porque já teve contato e o corpo dele já se manifestou, mesmo que não
tenha tido sintomas e complicações”, explicou.
Comportamento do cidadão – Chapchap aproveitou a
oportunidade para enfatizar que vivemos uma crise onde o cidadão tem papel
fundamental. “Uma infecção de transmissão respiratória como a COVID-19 é a
situação em que o paciente é mais responsável pelo que acontece com ele. A
gente sabe evitar essa doença e nessa pandemia somos responsáveis pela nossa
saúde e pela saúde de todos que vamos encontrar”, declarou.
Para Marinelli, com o passar dos meses o conhecimento se multiplicou, mas não adianta compreender melhor a doença se o comportamento não se adéqua aos cenários. “Todos sabemos que temos que usar máscara. Não deveríamos nem estar saindo, mas se já estamos podendo sair, vamos usar a máscara”, enfatizou.
Previsão para 2021 – Para Rachel, a resposta
brasileira em termos de política pública foi muito positiva. Em sua análise, a
economista declarou que o Brasil, no comparativo com países emergentes da
América Latina, é um dos que menos assistirá a quedas econômicas. “Os gastos desse
ano estão precificados e justificados. A grande preocupação está no próximo ano”,
disse ao mencionar que o que levou o país para a crise que se instalou antes da
chegada da COVID-19 foi um cenário similar ao que está sendo traçado agora,
onde após políticas econômicas acertadas as políticas contracíclicas
permaneceram somadas à estratégia fiscal de estímulo à demanda sem que fosse
necessário. “O grande problema era a oferta”, completou.
Para Chapchap, o caminho é único: “Se o Brasil se comportar
do ponto de vista fiscal, ano que vem não teremos um problema tão grande para
lidar”.
Em termos de saúde, Marinelli se preocupa em não perdermos
tudo o que conquistamos em prevenção. Relembrando que muitas pessoas deixaram
de fazer suas consultas, exames e cirurgias por medo da contaminação, mas, também,
pela paralisação das atividades (muitos serviços públicos cancelaram os
atendimentos eletivos), falou sobre a adaptação das instituições para separar
os pacientes garantindo segurança nos atendimentos.
“Posso garantir que os locais hoje estão seguros, com fluxos
completamente separados. O conhecimento vai nos ajudar a não perder ganhos
significativos que tivemos. Além disso, parcimônia e equilíbrio são fatores
críticos para retornarmos à nossa normalidade sem desperdiçar a grande evolução
que conquistamos com as campanhas de prevenção em saúde que investimos há anos
no nosso país”, disse.
Legado da pandemia – Para encerrar o debate,
Priscilla trouxe uma pergunta do presidente do Conselho de Administração,
Wilson Shcolnik, que questionou aos palestrantes os dois principais pontos de
aprendizado que eles acreditam que ficarão para a história.
Rachel, da XP Investimentos, apontou a adesão tecnológica que fez com que as empresas conseguissem bons resultados mesmo diante da crise e a lição de que a responsabilidade fiscal não deve ser um fim, mas um meio para obtenção de respostas em momentos desafiadores; Paulo Chapchap mencionou a compreensão sobre as benesses da ciência de dados gerando informações que baseiam a tomada de decisões, além de que equipes bem treinadas e um bom ambiente de trabalho são fatores fundamentais para o enfrentamento; e Carlos Marinelli enfatizou que estabelecer uma cultura empresarial forte, aprender a fazer mais com menos, foi um dos aprendizados, assim como a percepção de que a tecnologia em saúde é real e pode contribuir de forma grandiosa para os atendimentos e a qualidade de vida de todos.
O bate-papo está disponível no canal do YouTube da Abramed
(clique AQUI para assistir). O
próximo debate do projeto Diálogos Digitais também tratará da nova realidade
após a crise de COVID-19, porém enfocando a gestão de pessoas. Siga a
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