Assinado por Jacob Szejnfeld, do Grupo CURA, artigo aborda aumento de demanda diagnóstica e desafios na flexibilização
3 de setembro de 2020
* Por Jacob Szejnfeld
Já vivemos por seis meses sob as mazelas da pandemia de
COVID-19 que afastou os médicos dos consultórios e os pacientes dos
atendimentos. Mas o que devemos esperar para as próximas semanas? Estamos
começando a assistir ao rompimento de uma represa.
Temerosas com o novo coronavírus e respeitando as imposições
de distanciamento social, as pessoas deixaram de cumprir seus cuidados médicos
rotineiros. Se afastaram dos hospitais, dos laboratórios e das clínicas de
imagem, e adiaram suas queixas de sintomas. A soma da falta de disponibilidade
com a falta de coragem da população afetou principalmente o cenário da
prevenção. Durante os últimos meses, o tratamento preventivo de doenças não
clínicas, ou seja, sem sintomas, e a avaliação de sintomas leves deixaram de
ser realizados.
Ao direcionar todo o foco à COVID-19, pudemos constatar um
outro problema surgindo: doenças não respeitam calendário, não respeitam
mandantes, não respeitam regras. Elas acontecem, e continuam acontecendo. Em
maior ou menor grau.
Nesse momento em que a frequência de infecções pelo novo
coronavírus vem regredindo somada à flexibilização da quarentena, cenário em
que a população começa um processo de retomar situações de normalidade como
trabalho, lazer e prática de esportes, precisamos estar ainda mais atentos aos
riscos naturais e individuais.
A área de ortopedia, por exemplo, está retornando à ativa
depois de meses sem episódios de trauma. O exercício físico é altamente
benéfico, mas não deixa de ter suas inconveniências como as lesões musculares.
Com o sedentarismo que se impôs sobre o isolamento, as pessoas tiveram
enfraquecimentos musculoesqueléticos. Agora, com a retomada, muitas delas
voltaram à prática esportiva sem um cuidado adequado, o que pode acarretar
traumas mínimos, médios e acentuados. E todos sabemos que essa condição é
natural do esporte.
Se tínhamos notado o desaparecimento de pacientes com
doenças musculoesqueléticas durante a quarentena, agora vemos que eles retornam
às nossas clínicas de imagem.
Paralelamente, temos todas as outras condições que acabaram
paralisadas durante os primeiros meses da pandemia e que, agora, também estão
recebendo novamente a atenção devida. O paciente diabético volta a exercer sua
rotina de cuidados, aqueles que têm riscos cardíacos retomam as pesquisas de
suas dores agudas, e as pessoas com possibilidade de lesões tumorais voltam a investigar
seus casos.
Então, já havíamos previsto o rompimento dessa represa e o
que vemos agora é um aumento da procura de exames rotineiros como o diagnóstico
de tumores e de distúrbios metabólicos que não param de surgir mesmo enquanto a
COVID-19 se faz presente.
Temos uma reabertura onde situações que provocam dores e
suspeitas recebem atendimento. Onde as pessoas começam a se sentir confortáveis
em retornar suas rotinas de saúde e se mostram dispostas a frequentar os
estabelecimentos. É o momento em que serviços de diagnóstico, tanto
laboratórios quanto clínicas de imagem, precisam estar atentos e prontos para
receber essas pessoas de forma adequada, criando fluxos distintos para
seguirmos controlando a transmissão do novo coronavírus, dando ainda mais
atenção aos pacientes dos grupos de risco e mantendo todo o distanciamento
possível, tanto no planejamento das agendas e atendimentos, quanto fisicamente
dentro das unidades. Esse é o desafio do momento!
* Jacob Szejnfeld é fundador e diretor médico do Grupo
CURA Imagem e Diagnóstico