Quinto encontro do #DiálogosDigitais Abramed contou com especialistas relatando entraves da pandemia e lições para o futuro
08 de outubro de 2020
O setor de suprimentos em saúde foi um dos primeiros impactados
pela pandemia de COVID-19. Assim que o novo coronavírus se espalhou pelo mundo,
o crescimento exponencial da demanda por equipamentos de proteção individual
(EPIs), respiradores e outros tantos insumos – entre eles os laboratoriais –
somado à problemas de logística gerou uma disputa internacional e uma defasagem
generalizada. O que a crise deixa de aprendizado para o futuro da cadeia de
suprimentos e quais os atuais entraves para melhorias nesse fluxo foram
debatidos no quinto encontro da série #DiálogosDigitais Abramed, realizado na
noite de 6 de outubro.
Moderando o bate-papo, Guilherme Collares, membro do
Conselho Fiscal da Abramed e diretor de Operações do Hermes Pardini, disse ter
vivenciado muitos dos entraves trazidos pela COVID-19 em sua atuação no
ambiente laboratorial. “Enfrentei todas essas dificuldades e assisti a situação
melhorar ao longo do tempo se transformando em uma oportunidade para
aprendermos e repensarmos a forma como fazemos nossas negociações”, comentou ao
apresentar Antonio Fabron Jr, CEO da DB Diagnósticos do Brasil; Malu Sevieri,
diretora-executiva da Medical Fair Brasil; Sergio Rocha, presidente da
Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde
(ABRAIDI); e Thiago Liska, diretor-executivo da Diagnóstica Cremer, como os
palestrantes da noite.
Abrindo espaço para que os participantes comentassem como a
COVID-19 impactou a medicina diagnóstica, Collares convidou Fabron a contar
mais sobre sua experiência na DB Diagnósticos do Brasil. Segundo o executivo,
foram diversas as dificuldades, mas uma gestão eficiente conseguiu contorná-las
para que o paciente final não fosse prejudicado. “Com relação à logística,
tivemos de reestruturar toda nossa malha aérea, mas como descentralizamos
nossas unidades, o impacto não foi tão grande”, comentou Fabron.
Ainda sobre a questão logística, Rocha mencionou o que
percebeu junto aos associados da ABRAIDI. “Hoje até 80% do que importamos vêm
dos EUA. Com o corte dos voos internacionais, o começo da pandemia foi muito
difícil. Para reduzir esse impacto, investimos na interlocução com o poder
público fazendo reuniões com o Ministério da Saúde, o Ministério da Economia e
até mesmo com a ANAC para buscar alternativas”, declarou. Esse diálogo com o
governo e entidades que atuam diretamente com a logística do Brasil foi feito,
inclusive, em conjunto com a Abramed.
Dependência de importações
A dependência brasileira de insumos importados foi um dos
temas abordados ao longo do debate. “Não temos a missão de suprir 100% das
nossas necessidades internas, mas não podemos ser totalmente dependentes de
importações senão continuaremos suscetíveis”, comentou Liska.
O setor de saúde, de forma generalizada, está em plena
evidência, na opinião de Rocha. Para o executivo, é hora de agir. “Para isso
precisamos parar de olhar para nosso próprio umbigo e nos organizarmos,
atuarmos em conjunto. Não podemos deixar de lado tudo o que vem ocorrendo nos
últimos sete meses. Nossa educação tem de mudar. Ou a gente evolui tecnologicamente
ou continuaremos importando mais de 90% do que utilizamos”, disse.
Ampliar a produção interna é um desafio. “Precisamos criar
uma situação econômica que favoreça as empresas nacionais e as multinacionais
com fabricação em nosso território para que produzam mais dos insumos que
precisamos. Assim poderemos enfrentar novas pandemias e novos cenários
desfavoráveis com mais serenidade”, encerrou Fabron.
Impacto na relação entre comprador e vendedor
Criar bons laços com os fornecedores foi a alternativa
encontrada pela DB Diagnósticos do Brasil para evitar prejuízos em seus
estoques. “Com relação aos EPIs, fomos afetados, mas graças às entregas
programadas e ao bom relacionamento com nossos fornecedores, o impacto foi
assimilável”, disse Fabron.
Para falar sobre como o distanciamento social imposto pela
COVID-19 impactou essas relações, Malu Sevieri, que comanda a Medical Fair
Brasil, fez seus comentários. O evento, que é a versão brasileira da Feira MEDICA
da Alemanha, foi adiado para maio de 2021 devido à pandemia, mas seguiu
auxiliando seus parceiros. “Atendemos clientes que nos ligavam para pedir
ajuda. Vimos fábricas que fecharam por 90 dias pois não tinham motivos para
produzir, já que toda a compra estava voltada à COVID-19 ou às emergências.
Agora percebemos que com a volta das cirurgias eletivas, a demanda está
retomando aos poucos”, pontuou.
Dando o parecer da indústria, Liska relatou situações que
levaram a um aumento de custos nem sempre bem compreendido pelos clientes, como
por exemplo o aumento do valor do frete internacional. “No curto prazo temos
que torcer para aumentar a oferta e para que os fabricantes consigam ajustar à
demanda fazendo o preço voltar à normalidade. E, no médio e longo prazos,
investir em conversas estruturadas com poder público e a iniciativa privada
viabilizando maior produção local”, avaliou.
União para evolução
Falta confiança entre os elos da complexa cadeia de saúde na
opinião de Liska. “A gente consegue ter a tecnologia e fazê-la funcionar. Mas
vejo pouca confiança entre os entes e baixo apetite para a interoperabilidade,
conectividade e eficiência da cadeia. Precisamos nos reunir com maturidade, nos
despir de nossas agendas individuais, e pensarmos, juntos, como construir um
mercado mais integrado, mais eficiente e menos custoso”, completou.
Malu trouxe bons exemplos de como a tecnologia ajuda. “Existem,
hoje, startups dedicadas a compras consolidadas. Um hospital ou mesmo um
laboratório clínico compra, por exemplo, de cinco fornecedores distintos. Ele
pode consolidar tudo isso em uma mesma carga. Precisa, apenas de planejamento”,
explicou. Além disso, a executiva mencionou que vários compradores podem se
unir para fazer um único pedido, conseguindo preços mais competitivos e até
mesmo fretes mais baratos.
Para que esse diálogo se concretize, são diversos os
caminhos possíveis. Na opinião de Rocha, a criação de grupos de trabalho é um
deles. “Criar grupos com pessoas da área que estão envolvidas com seus setores
e têm vontade de trabalhar, deixando a política de lado, é ótimo”, pontuou.
Legado da pandemia
“O que a COVID-19 deixa de legado? Quais aprendizados
devemos levar”, questionou Collares.
Para Liska, a visão de coletivo foi o ponto de maior
aprendizado. “Começamos a entender que temos uma responsabilidade coletiva”,
disse. Rocha concordou. “A coletividade está acima da individualidade”. Já para
Malu, o principal destaque está na capacidade de adaptação do povo brasileiro.
“Estamos de parabéns. Reagimos rápido”, disse. Encerrando as ponderações sobre
o legado, Fabron mencionou a tecnologia: “temos que investir pesado na
digitalização”.
Para fechar o bate-papo, Priscilla Franklim Martins,
diretora-executiva da Abramed, trouxe uma pergunta do presidente do Conselho de
Administração da entidade, Wilson Shcolnik: “vivemos uma situação inédita onde
todos se empenharam para manter o abastecimento do mercado. Mas olhando para
frente, teremos produção? Vamos conseguir fazer a distribuição, garantindo
exames e cirurgias?”.
Com a experiência da DB Diagnósticos do Brasil, Fabron disse
que não só estão retomando a produção como estão produzindo 15% a mais do que
produziam antes da crise. Collares também aposta em melhorias, em uma produção
mais veloz e segura. Rocha e Liska também são otimistas quanto a entrega. Já
Malu tem suas dúvidas e acredita que o equilíbrio deve demorar um pouco mais
para ocorrer.
O bate-papo completo deste episódio está disponível no canal
do YouTube da Abramed (clique AQUI
para assistir) e a próxima edição está marcada para 20 de outubro e trará, como
tema principal, “Cuidado Inteligente”.