Realizado na noite de 8 de outubro, encontro virtual foi moderado por Wilson Shcolnik
13 de outubro de 2020
O presidente do Conselho de Administração da Associação
Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Wilson Shcolnik, moderou um
debate promovido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre raciocínio
clínico e melhoria do diagnóstico. O encontro contou com apresentações de Lucas
Zambon, diretor do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Leandro
Arthur Diehl, professor na área de Clínica Médica e Semiologia da Universidade
Estadual de Londrina (UEL); e Pedro Alejandro Gordan, professor do Centro
Universitário São Lucas.
“Diagnosticar não é simples. É um processo complexo que
exige conhecimento do médico e capacidade para aplicar esse conhecimento em um
ambiente de trabalho que muitas vezes é desafiador”, disse Shcolnik ao iniciar
as apresentações. Segundo o executivo, que é médico patologista, o processo
diagnóstico pode trazer armadilhas que impactam os pacientes e, quando
desencadeiam eventos adversos e danos, geram constrangimento e sensação de
culpa nos médicos.
O debate circundou alguns aspectos principais: é preciso
entender o raciocínio clínico, mudar a cultura médica diante da ocorrência de
incidentes e eventos adversos, e compreender o papel dos processos
assistenciais quando as falhas ocorrem. Esses são, segundo os palestrantes, os
principais caminhos para reduzir o risco de erros diagnósticos e ampliar a
segurança do paciente dentro do sistema de saúde.
Falando sobre os motivos que podem levar a um raciocínio
clínico equivocado, Diehl abordou a racionalidade do ser humano. “Temos
capacidade de tomar decisões racionais, mas esse não é nosso modo padrão de
funcionamento”, declarou. Segundo o professor contamos com dois sistemas de
pensamento: o primeiro é um processo rápido, automático, que não exige esforço,
inconsciente e que funciona com reconhecimento de padrão. “A gente tende a aceitar
rapidamente a resposta que vem desse nosso sistema intuitivo. Mas ele está
sujeito a vieses e também a interferências que podem induzir ao erro”,
declarou.
A segunda modalidade de pensamento está relacionada a um
sistema mais lento, deliberado, que exige esforço e atenção, é totalmente
consciente e gera comparações entre ações, caminhos e alternativas. “Quando
recebemos resposta desse sistema, ficamos inseguros”, complementou Diehl com a
intenção de mostrar que se manter o tempo inteiro raciocinando dentro da
segunda modalidade nos deixa cansados.
Em sua apresentação, Gordan concordou ser extremamente
necessário estudar o raciocínio clínico. “Das 337 faculdades de medicina em
funcionamento no Brasil, nem 10% discutem o raciocínio clínico de forma estruturada”,
apontou. Segundo o especialista, é papel de entidades como CFM, a Associação
Brasileira de Educação Médica (Abem) e a Associação Médica Brasileira (AMB),
além das universidades, colocar o tema em discussão.
Trazendo estudos que embasam estatísticas bastante
interessantes sobre erros diagnósticos, Zambon destacou que nos Estados Unidos
a estimativa é de que 74 mil pessoas morram ao ano em decorrência de
assistências inadequadas diante de erros diagnósticos. “A literatura chega a
dizer que todo cidadão viverá a experiência de enfrentar um erro de diagnóstico
na vida”, disse.
Para ele, esses estudos nos mostram que o debate é apenas a
ponta do iceberg. “Temos uma crise que está fora da superfície e, portanto,
fora do nosso olhar”, pontuou. Porém é preciso entender que não há apenas um
responsável pelo cenário. “O processo de diagnóstico é complexo e cheio de
pontos de falhas. O médico é agente central, mas depende de uma série de
tarefas, tecnologias, formação e questões organizacionais”, disse.
O bate-papo completo está disponível no canal do YouTube do
CFM. Clique AQUI
para acessar.