Consulta Pública capta opiniões sobre cobertura obrigatória de novos procedimentos diagnósticos para 2021; estudo da Abramed sobre última inclusão traça comparativo entre número de exames esperados e realizados nos 12 primeiros meses da incorporação e mostra que impacto é inferior ao sugerido
20 de novembro de 2020
Com a Consulta Pública (CP) 81 da Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) aberta para que a sociedade opine sobre a inclusão de novos
procedimentos no rol de obrigatoriedades dos convênios médicos, a medicina
diagnóstica vivencia uma nova oportunidade para ofertar aos usuários de planos
de saúde exames mais modernos, tecnológicos e assertivos para uma infinidade de
patologias. Corroborando com a aceitação da inclusão, a Associação Brasileira
de Medicina Diagnóstica (Abramed) elaborou um estudo sobre a incorporação
anterior e confirma que o impacto orçamentário da inclusão de 10 novos exames
de alta complexidade no rol foi mínimo.
Segundo a análise da Associação, os benefícios gerados pela
ampliação do número de procedimentos extremamente eficazes para diagnóstico
precoce de doenças são muito maiores do que o possível aumento do custo
assistencial. “Quando temos diagnóstico precoce e correto, o tratamento é mais
assertivo melhorando o prognóstico dos pacientes e, inclusive, diminuindo o
custo da assistência”, explica Alex Galoro, diretor do Comitê Técnico de
Análises Clínicas da Abramed.
O processo para a inclusão de novos exames, cuja lista deve
ser anunciada ainda no primeiro trimestre de 2021, começou em 2018 e diversas
entidades de classe e sociedades científicas fizeram sugestões de procedimentos
sempre apresentando evidências científicas e análises financeiras. Entre os
exames propostos pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina
Laboratorial (SBPC/ML), por exemplo, estão painéis para diagnóstico de
infecções do sistema nervoso central, como meningites e encefalites, e de infecções
respiratórias, incluindo a COVID-19.
Atualmente, quando um paciente chega com suspeita clínica de
meningite, ou seja, apresenta febre, rigidez na nuca e alteração do nível de
consciência, são realizados exames diversos para obtenção do diagnóstico, o que
envolve exame de líquor por punção lombar, análises epidemiológicas e de
imagem, e testes bioquímicos. Além disso, também são feitas coletas de sangue e
de fezes para identificação de várias possibilidades virais, bacterianas ou
fúngicas da encefalite. Todo esse procedimento faz com que o diagnóstico final
seja obtido, em média, após 13,3 horas.
Se aplicada a identificação multiplex por PCR em tempo real
de até 25 agentes infecciosos simultaneamente – exame que está na lista
avaliada pela ANS para incorporação como procedimento obrigatório dos planos de
saúde – em menos de três horas há definição do diagnóstico e o melhor
tratamento pode ser iniciado. “Em casos de meningite bacteriana, se o paciente
não começar a terapia adequada em até quatro horas ele pode ter sequelas
irreversíveis como surdez, lesão no sistema nervoso central e déficit
intelectual e pode, inclusive, chegar a óbito”, explica Alvaro Pulchinelli, diretor
científico da SBPC/ML.
Essa nova metodologia diagnóstica para infecções do sistema
nervoso central que já é utilizada por grandes laboratórios e hospitais de
referência no atendimento particular e que está sendo avaliada na CP 81
apresentou sensibilidade entre 84,4% e 100% e especificidade superior a 99,9%.
Quando adotado esse novo exame em substituição a todos os
outros tidos como padrão hoje, o custo permanece praticamente o mesmo. Do
diagnóstico ao tratamento, o custo mediano por paciente com o método padrão é
de US$ 239,63. Quando utilizado o painel multiplex, esse custo é de US$ 239,14.
Para infecções do trato respiratório – tipo mais comum de
infecção entre os brasileiros – a utilização dessa nova metodologia diagnóstica
também traz resultados muito positivos. Pacientes diagnosticados com influenza
pelo painel multiplex permaneceram internados por 38,8 horas, enquanto os
submetidos ao teste rápido de antígeno (padrão atual) ficaram hospitalizados
por 49,8h. Além disso, aqueles que tiveram acesso à nova metodologia ingeriram
antibióticos por menos tempo e fizeram menos radiografias do tórax. Em pessoas
imunocomprometidas, por exemplo, a incorporação desse exame traz uma economia
de R$ 251,22 por paciente no comparativo com o atendimento utilizando os exames
tidos, hoje, como padrão.
Além de analisar a incorporação ou não de novos
procedimentos, a consulta pública também sugere a inclusão ou a alteração de Diretrizes
de Utilização (DUT) desses testes. “Tem sido frequente a criação de diretrizes
que obrigam a realização dos exames apenas nos casos que se enquadram em
determinadas situações clínicas”, explica Galoro. É o caso de alguns exames de
imagem que estão sendo reavaliados como, por exemplo, a mamotomia via biópsia
percutânea à vácuo guiada por raio X ou ultrassonografia.
O procedimento, que é indicado para investigação de
alterações mamárias, já integra a lista da ANS e a nova consulta pública sugere
algumas mudanças para a autorização, indicando que o exame deve ter cobertura
obrigatória quando preenche alguns critérios específicos e quando os nódulos
são menores do que 2 centímetros, de categorias 4 ou 5 do BI-RADS (ou seja, quando
há suspeita de malignidade) e permanecem dúvidas mesmo após a realização de core
biopsy orientado por ultrassonografia. Diferentemente do procedimento que está
sendo discutido que é feito à vácuo, o core biopsy é uma biópsia na qual a
amostra é retirada com uma agulha de calibre mais grosso.
Diante desse cenário, o Colégio Brasileiro de Radiologia e
Diagnóstico por Imagem (CBR) reafirma que existem várias situações clínicas na
qual não é possível – ou mesmo necessária – a realização do core biopsy antes do
procedimento à vácuo. Essa diretriz pode aumentar a ansiedade do paciente por
submetê-lo a mais exames, atrasar o diagnóstico e elevar os custos da
assistência.
Inclusão de 2018 gerou impacto mínimo no orçamento
A Abramed realizou um estudo baseado na incorporação, em
2018, de 10 novos exames na lista de procedimentos com cobertura mínima
obrigatória dos planos e seguros de assistência médica elencada pela ANS, todos
exames de alta complexidade como, por exemplo, ressonância magnética de fluxo
liquórico, que atua na identificação de presença de líquor no cérebro e na
medula espinhal, auxiliando o diagnóstico de hidrocefalia e outras condições; e
a elastografia hepática ultrassônica, exame que pode substituir a biópsia de
fígado.
Para a análise, a Abramed computou a quantidade de exames
realizados por suas associadas ao longo do primeiro ano de vigência do novo rol
e, também, os dados compartilhados pela ANS nesse mesmo período. E, então,
comparou as informações com as estimativas traçadas pela Confederação Nacional
da Indústria (CNI) em estudo que avalia as consequências financeiras da adoção
de novas tecnologias ou procedimentos em saúde. Importante ressaltar que as
associadas à Abramed foram responsáveis pela realização de mais de 480,8
milhões de exames em 2018, o que representa 56% do total de procedimentos
diagnósticos realizados na saúde suplementar.
Na estimativa da CNI, seriam efetivados 77.441 exames da
lista dos 10 novos procedimentos diagnósticos incorporados ao Rol em 2018.
Porém, encerrado o primeiro ano de vigência, as associadas à Abramed
confirmaram a realização de apenas 37.665 exames, o que confirma que a inclusão
de novos procedimentos não atingiu sequer 50% do volume de exames que eram
esperados para os primeiros 12 meses após a ampliação do Rol.
Traduzindo os percentuais para valores monetários, a CNI
estimava uma despesa assistencial de R$ 50,9 milhões com a realização dos novos
exames, porém, segundo dados das associadas à Abramed, o valor total
concretizado no período foi de R$ 20 milhões.
Desta forma, a Abramed reforça, em seu estudo, que a
incorporação de novos procedimentos em saúde é, muitas vezes, apontada como um
dos principais fatores que impulsionam o crescimento das despesas assistenciais
sem que haja uma análise mais aprofundada de quanto essas novas tecnologias são
benéficas para o diagnóstico precoce e, por consequência, para o bem-estar do
paciente e a redução dos custos com tratamentos e terapias.