Assinado por Carlos Eduardo Ferreira, presidente da SBPC/ML, artigo detalha atuação do setor frente a crise
03 de fevereiro de 2021
* Por Carlos Eduardo dos Santos Ferreira
Quase um ano se passou desde a detecção do primeiro
caso do novo Coronavírus no País em fevereiro do ano passado. Foram diversas
contribuições da Medicina Laboratorial e da SBPC/ML ao longo de 2020. A
implantação das reações de PCR em tempo real “in house”, a chegada dos
primeiros ensaios imunocromatográficos, a automação na reação de RT-PCR, os
ensaios sorológicos de primeira geração, os POCTs de biologia molecular, as
otimizações nos protocolos de extração do RNA viral, as novas gerações dos
ensaios automatizados, testes de antígenos, LAMP (amplificação isotérmica),
entre outras. Sem contar com o pioneirismo do Brasil nas alternativas
diagnósticas, como a utilização de sequenciadores de última geração (NGS) e a
espectrometria de massas na identificação de metabólitos dos vírus. E nesta
leva a validação de métodos utilizando outras amostras alternativas ao uso das
secreções de naso e oro faringe; tais como saliva e fezes na identificação dos
vírus.
Já a SBPC/ML contribuiu em diferentes frentes no
combate a pandemia. Criação do programa de avaliação de kits diagnósticos
(testecovid19.org), estruturação de cursos, webinars em parcerias com
outras sociedades médicas, o primeiro congresso virtual focado na infecção pelo
Sars-CoV-2, veiculação de informação de qualidade na mídia aberta e fechada,
entre outras inciativas.
As novidades e iniciativas não pararam por aí e não
podem parar pois o vírus ainda circula mundo a fora. Com essa disseminação nos
diversos continentes, o vírus foi se adaptando e mutando ao infectar diferentes
organismos. A identificação destas mutações se faz necessária para o reconhecimento
de novas linhagens do vírus. Estas novas cepas devem ser avaliadas do ponto de
vista da infectividade e gravidade das mesmas. Por isso a genotipagem do vírus
se faz necessária para que possamos avaliar estas diferenças nos pacientes, o
impacto no tratamento e na prevenção com as diferentes vacinas que estão no
mercado. Outro ponto de destaque na utilização prática da genotipagem se faz na
identificação de surtos por cepas específicas em ambientes específicos. Esta
genotipagem antes restrita aos laboratórios de pesquisa está ganhando mais
relevância na condução da pandemia.
Outro ponto de destaque da Medicina Laboratorial é
a evolução dos testes sorológicos. No início da pandemia os ensaios foram
desenvolvidos avaliando as diferentes classes de imunoglobulinas (IgA, IgM e
IgG) em resposta a diferentes epítopos proteicos. Com o avanço das pesquisas verificou-se que a
produção destas classes anticorpos aconteciam praticamente de forma simultânea
e que grande parte destes anticorpos não ofereciam capacidade de neutralizar o
vírus. A resposta imune natural e vacinal é melhor avaliada com anticorpos mais
maduros (IgG) contra um epítopo spike (S1). Esses anticorpos apresentam
capacidade de impedir que o vírus entre na célula para se replicar. Os chamados anticorpos neutralizantes
ligam-se à ligação ao receptor (RBD) da proteína epítopo viral, bem como a
outros domínios, evitando que o vírus se ancore em seu receptor de entrada
(ACE2), este presente em grade parte das células do nosso organismo. A indústria diagnóstica já começou a
disponibilizar ensaios avaliando a produção destes anticorpos contra estes
epítopos.
Para fechar as novidades, a SBPC/ML em parceria com
a Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL) em parceria com
laboratórios públicos e privados em um projeto inédito em parceria com a
Agência Nacional Vigilância Sanitária (Anvisa) está revalidando os kits
diagnósticos destinados ao diagnóstico da COVID-19 que já estão expirados. Os
testes rigorosos de revalidação já estão sendo realizados e a Anvisa determina
se o produto pode ou não continuar a ser utilizado para a prática clínica.
O diagnóstico laboratorial ganhou e vem ganhando
protagonismo desde o início da pandemia. Um diagnóstico rápido e preciso
contribuiu no controle da disseminação do vírus permitindo um isolamento rápido
do paciente infectado. Vamos em frente buscando sempre uma melhoria contínua
para que possamos superar este momento difícil para todos.
* Carlos Eduardo dos Santos Ferreira é Presidente da Sociedade
Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML)