Insumos mais caros ameaçam a realização de exames e podem complicar a avaliação pulmonar de pacientes afetados pela COVID-19
1 de março de 2021
A revogação da isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de diversos produtos e equipamentos para saúde gerada pela proposta de ajuste fiscal do Governo do Estado de São Paulo traz prejuízos para toda a cadeia justamente em um momento de união de esforços para enfrentamento da pandemia de COVID-19. Na medicina diagnóstica – especialmente no segmento de diagnóstico por imagem – os insumos ficarão mais caros levando a um impacto anual de R$ 400 milhões na rede suplementar e esse prejuízo ainda pode se desdobrar em queda drástica nos investimentos e perda de postos de trabalho. A estimativa foi traçada pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), cujos associados respondem por cerca de 56,4% de todos os exames realizados no setor privado.
No Brasil, desde 1999 o setor de saúde atua com a isenção do
ICMS sobre uma lista variada de produtos, entre eles chapas e filmes para
raio-X, drenos para sucção, cateteres e eletrodos, itens utilizados na rotina
das clínicas de imagem. Com a revogação desse benefício, todos esses dispositivos
passam a sofrer com uma alíquota de 18%, o que impacta a cadeia de saúde em
toda sua extensão, desde a indústria até o usuário final.
A medicina diagnóstica tem papel indispensável na
assistência à saúde e essa percepção se fortaleceu ainda mais durante a
pandemia com a urgência de testes tanto laboratoriais quanto de imagem para
diagnóstico da COVID-19 e acompanhamento dos pacientes infectados. “Mesmo com
as dificuldades enfrentadas – o setor estima uma redução de aproximadamente
15,3% nas receitas brutas, o que representa uma queda nominal de R$ 6 bilhões
em 2020 – laboratórios e clínicas de imagem seguiram auxiliando o país para
garantir o atendimento populacional. Esse é um momento de recuperação
econômica, totalmente inadequado para aumento da nossa carga tributária”,
comenta Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, ao
afirmar que a entidade defende a isenção total do tributo e reforçar que saúde
é um serviço essencial e direito constitucional.
Considerando que o impacto ocorrerá principalmente no ramo
de diagnóstico por imagem, há prejuízo inclusive para os cidadãos infectados
pelo novo coronavírus, já que exames de imagem do tórax são utilizados tanto
para confirmação diagnóstica da infecção quanto para acompanhamento do comprometimento
pulmonar desses pacientes.
Além do aumento direto nos custos de insumos indispensáveis
à atividade diagnóstica que aumentarão os preços dos exames, a revogação da
isenção do ICMS pode se desdobrar em riscos à manutenção da empregabilidade de
um setor que gera mais de 250 mil postos de trabalho formal. Haverá, também,
possível queda nas taxas de investimento. Hoje, esse segmento dedica aproximadamente
12% de sua receita bruta à pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Entenda a revogação
Em agosto de 2020, o Governo do Estado de São Paulo
apresentou a proposta do Pacote de Ajuste Fiscal Paulista, medida criada para
reduzir os gastos públicos gerados pela pandemia de COVID-19. Essa proposta,
aprovada ainda em outubro do ano passado e publicada pelos Decretos Estaduais
nº 65.253/20, nº 65.254/20 e nº 65.255/20, trouxe um aumento direto na carga
tributária do fornecimento de produtos médico-hospitalares ao alterar alguns
artigos do RICMS/SP que previam a isenção do ICMS pelos Convênios 1/99 e
126/10.
Dessa forma, o setor de saúde foi o único a perder 100% da
isenção e uma sequência de itens que não sofriam com o imposto passaram a ser
tributados em 18% em 1º de janeiro de 2021. Apesar da mudança ocorrer apenas em
São Paulo, os impactos são nacionais, visto que 70% dos dispositivos médicos
são distribuídos pelo país a partir desse estado.
Durante o início desse ano, a fim de dirimir os prejuízos do
setor, a Abramed – assim como outras entidades representativas da saúde –
iniciou uma articulação para derrubar a revogação e conquistou uma decisão
judicial favorável, uma liminar publicada em 13 de janeiro pela juíza Laís
Helena Bresser Lang, da 2ª Vara de Fazenda Pública da Comarca de São Paulo, que
reforçava que “a respectiva revogação, via decreto, é ilícita e causa ainda
prejuízo direto à população pela consequente e provável oneração dos serviços
de saúde prestados”. A alegação da magistrada foi de que essa modificação caberia
à lei complementar, visto que o ICMS é um tributo de natureza remuneratória.
Porém, no dia 20 do mesmo mês, a Procuradoria Geral do
Estado de São Paulo ingressou com uma nova medida judicial para suspender a
execução de liminares, derrubando tanto a conquista da Abramed quanto a de outros
segmentos da saúde.
Campanha #AgoraNãoÉHoraSP
Com o objetivo de fomentar o debate sobre o impacto de mais
um tributo para o setor de saúde que vem sofrendo há quase 12 meses com a
pandemia de COVID-19, o Movimento Unidos pela Saúde lança a campanha #AgoraNãoÉHoraSP.
Nove entidades do setor estão alinhadas a fim de apresentar
os impactos que a revogação do ICMS traz, mostrando que toda a cadeia de saúde
suplementar – indispensável para o atendimento dos mais de 210 milhões de
brasileiros e aliada do Sistema Único de Saúde (SUS) – sofre com essa decisão
que prejudica a indústria, os hospitais, serviços de diagnóstico e planos de
saúde.
A campanha
foi lançada em 1º de março de 2021 com uma coletiva de imprensa realizada em ambiente
virtual e ações em mídias sociais, TV e rádio. Há, também, uma página
exclusiva na Internet que reúne todos os pleitos, manifestos, estudos de
impacto e recomendações das signatárias e pode ser acessada AQUI.
A Abramed participa da campanha que também conta com a Associação
Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (ABIMED); a Associação
Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos,
Hospitalares e de Laboratório (ABIMO); a Associação Brasileira de Importadores
e Distribuidores de Produtos para Saúde (Abraidi); a Associação Brasileira de
Planos de Saúde (Abramge); a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp);
a Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde); a Federação Nacional de Saúde
Suplementar (FenaSaúde); e o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios
do Estado de São Paulo (Sindhosp).