Encontro virtual debate sobre os desafios profissionais e pessoais de lideranças femininas no Brasil
26 de março de 2021
Março é o mês das mulheres e para trazer luz as inúmeras dificuldades
enfrentadas por brasileiras que lutam para ampliar sua representatividade no
mercado de trabalho ao mesmo tempo em que enfrentam uma cansativa rotina
pessoal, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) e a Unidas
Autogestão em Saúde realizaram um bate-papo com executivas que inspiram tantas
outras profissionais.
O webinar recebeu três grandes representantes da Abramed:
Milva Pagano, diretora-executiva, foi uma das palestrantes bem como Claudia
Cohn e Lídia Abdalla, ambas membros do Conselho de Administração da entidade.
Também esteve presente Alexandra Granado, diretora-presidente do Metrus,
instituto de seguridade social do Metrô de São Paulo. Patricia Melo e Souza e
Marina Yasuda, respectivamente diretora de treinamento e desenvolvimento e
diretora técnica da Unidas, foram as moderadoras.
Pensando no setor de saúde, sabemos que há uma prevalência
de mulheres na área assistencial. O problema é que esse cenário se inverte nos
cargos de alta liderança. “Reconhecemos que a ala feminina representa cerca de
80% dos trabalhadores na linha de frente, até por conta dos seus cursos de
formação que, historicamente, são frequentados principalmente por mulheres. Mas
fazer com que esse percentual seja no mínimo mais equilibrado ao longo de toda
a hierarquia é um desafio global”, comentou Lidia que é presidente-executiva do
Grupo Sabin, empresa onde cerca de 70% dos cargos de liderança são ocupados por
mulheres.
Porém, é preciso comemorar as conquistas, visto que o
cenário está mudando. “As mulheres da minha geração, quando olham para trás,
encontram algumas referências femininas. Mas, quando buscamos inspiração em
executivas, não temos tantos exemplos. É ótimo saber que as gerações que estão
chegando agora terão muitas mulheres bem-sucedidas para se inspirar. Tenho
orgulho de atuar em uma empresa que serve de exemplo para tantas outras”,
enfatizou Lidia.
Para Milva, que vem de uma carreira na advocacia e que se
acostumou a permanecer em ambientes predominantemente masculinos, um dos
caminhos para melhor compreensão do cenário de diversidade está no
monitoramento. “Temos que reunir, sistematicamente, alguns dados e mantermos um
diálogo aberto baseado em fatos, e não em análises subjetivas ou apenas em
experiências pessoais de cada um”, disse sobre a importância da implementação
de indicadores de gestão para aumento da diversidade de gênero
nas corporações e lideranças.
Além dos indicadores, Claudia frisa que até mesmo a configuração
dos sistemas precisa mudar para que as empresas incorporem, de fato, a
diversidade como cultura. “Um formulário onde no campo de gênero só há
possibilidade de declarar homem ou mulher, ou onde não há como inscrever um
nome social, não cabe mais hoje em dia. É para mudar todo esse cenário, desde
os pormenores, que as mulheres devem liderar a transformação, atuando inclusive
com as políticas públicas”, afirmou a executiva que é CEO do Alta Diagnósticos.
Essa diversidade, que transcende a barreira do homem x
mulher, é necessária até como vantagem competitiva na opinião de Lidia. “Nosso
país é diverso, nossas empresas também precisam ser. Precisamos da inclusão
para termos representatividade em todas as áreas. É justamente essa diversidade
que cria um ambiente de inovação capaz de trazer ainda mais competitividade aos
negócios”, disse. No Sabin, um comitê de diversidade foi criado especialmente
para garantir essa cultura na empresa independentemente da região onde ela está
atuando e das aquisições que vem realizando.
O debate também chegou à algumas características inatas às
mulheres: “independente da maternidade, mulheres nascem com o senso de cuidar e
acolher”, disse Marina. Complementando o raciocínio, Cláudia reforçou que, além
disso, as mulheres são ótimas gestoras. “Mulheres equilibram muitos pratinhos
ao mesmo tempo”, brincou.
Esse é justamente um dos fatores que geram uma pressão ainda
mais intensa sobre a população feminina, que se autopressiona a dar conta de
tudo e, por vezes, sente dificuldade em encontrar o equilíbrio. Compartilhando
uma experiência pessoal, Alexandra relatou como foi o desgaste da pandemia em
sua rotina. “Para poder me dedicar ao trabalho, eu tinha uma infraestrutura de
apoio terceirizada. De repente, com a crise de COVID-19, eu me vi cheia de
trabalho e com dificuldades para gerir a minha casa. E aí percebemos que é justamente
essa infraestrutura que nos permite uma maior dedicação à vida profissional”,
pontuou posteriormente enfatizando a necessidade de o país inclusive rever essa
dinâmica que, por vezes, sobrecarrega as mulheres, visto que são elas que
tantas vezes ofertam esse suporte doméstico.
Pensando em todo esse cenário, Patrícia pontuou que mulheres
aproveitaram o momento de pandemia para ressignificar sua existência. “Muitas
empresárias perceberam que estavam dando um peso muito maior a uma área da vida,
tentando sempre provar que eram capazes e provar seu valor. Veio a pandemia e
elas se viram, algumas vezes por necessidades de saúde na família, obrigadas a
parar e readequar. Foi um momento de reflexão que, antes, elas nem se permitiam
ter”, disse.
E as cobranças em cima do perfil da mulher brasileira, de
fato, não param. Milva trouxe mais um contexto ao debate: a necessidade de as
famílias promoverem uma quebra de estereótipos já dentro de casa, com os filhos
e a família. “Falta esse equilíbrio de gênero dentro das residências que se
estende ao âmbito profissional. Quando um homem, por exemplo, desmarca um
compromisso de trabalho para levar o filho ao médico, ele é aplaudido. Quando a
mulher o faz, ela ainda é recriminada. E essa é uma visão muito ultrapassada”,
destacou.
Para finalizar o bate-papo, Milva salientou a importância
da habilidade feminina de conciliação e acolhimento, especialmente no cenário
que vivemos e declarou torcer para que cada mulher nunca perca seu dom do
acolhimento. “Um acolhimento verdadeiro e altruísta que enxerga a
situação pelo olhar do outro, sem deixar de ser
assertiva e eficiente e compreender seus próprios limites. Esse deve ser
um exercício de todas as mulheres em todos os dias”, finalizou.