Wilson Shcolnik participou do workshop on-line promovido pelo CBEXs em que comentou os diferentes testes de Covid-19
26 de abril de 2021
Convidado pelo Colégio Brasileiro de Executivos da
Saúde (CBEXs) para falar sobre os diferentes tipos de testes para a detecção da
COVID-19 desde o início da pandemia, o presidente do Conselho de Administração da
Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Wilson Shcolnik,
destacou a relevância da medicina diagnóstica e reforçou o protagonismo do
setor durante a pandemia.
No encontro virtual, coordenado pelo presidente do
Conselho de Administração do CBEXs, Francisco Balestrin, realizado no dia 14 de
abril, Shcolnik fez uma avaliação do cenário desde a declaração de emergência
em saúde pública decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no início
de 2020 até os dias atuais.
Ele afirmou que foi um grande desafio para o setor,
pois ninguém no mundo estava preparado para enfrentar essa crise. “Tivemos que
organizar nossas infraestruturas e fluxos de atendimento, bem como buscar
insumos pelo país e no mercado internacional, trabalhar a comunicação com as
comunidades médicas e sociedades científicas quanto com a sociedade, principalmente após a OMS declarar que o melhor
caminho para contenção da COVID-19 era a testagem em massa”, disse.
Mas o setor de medicina diagnóstica reagiu
rapidamente e se adaptou à nova realidade, sendo pilar essencial para uma
resposta eficaz, focada na menor geração possível de danos. “Os laboratórios clínicos ganharam destaque e os
testes foram muito valorizados”, destacou Shcolnik, enfatizando a relevância
dos exames diagnósticos em momentos de crises de saúde.
Entre os fatores que alavancam o protagonismo do
setor estão o fato de que o exame molecular RT-PCR, considerado padrão-ouro
para detecção do novo coronavírus, foi desenvolvido in house para que o
diagnóstico fosse mais ágil. “Em meio a tantas incertezas sobre como agir
contra esse patógeno desconhecido, testar o maior número possível de
infectados, isolá-los e testar seus contatantes sempre foi a estratégia número
um para combate à disseminação do novo coronavírus. Nunca houve dúvidas quanto
à relevância do diagnóstico precoce”, ressaltou Shcolnik.
Além do teste molecular RT-PCR, contou
o executivo, no Brasil os laboratórios privados rapidamente passaram a oferecer
alternativas como o teste por proteômica, que detecta a proteína do novo
coronavírus em amostras nasofaríngeas; o RT-LAMP, capaz de identificar material
genético do vírus em amostras de saliva; e o sequenciamento genético de nova
geração.
O presidente da Abramed ainda lembrou
dos testes sorológicos (exames laboratoriais para IgG, IgM, IgA e anticorpos totais), que,
diferentemente dos testes rápidos, quando realizados em ambientes controlados,
que respeitam as boas práticas laboratoriais, são bastante confiáveis para
identificar anticorpos e, assim, auxiliar no diagnóstico tardio e em inquéritos
epidemiológicos.
E para ampliar a capacidade de testagem e, ao
mesmo tempo, proteger os cidadãos, as unidades laboratoriais adaptaram suas
estruturas para receber os pacientes com suspeita de COVID-19 separadamente dos
que foram realizar outros exames. Uma das alternativas encontradas pelos
laboratórios foi oferecer o exame para detecção do novo coronavírus em sistema drive-thru,
como forma de minimizar qualquer risco ao paciente.
Com todas essas ações, mais de 40% dos
diagnósticos da infecção pelo novo coronavírus realizados no Brasil ao longo de
2020 foram feitos por associadas à Abramed. Segundo Shcolnik, essas empresas
realizaram, até o fim de dezembro, 10,1 milhões de testes, sendo 4,5 milhões
RT-PCR e 5,6 milhões de sorológicos.
Dados confiáveis
A união do setor e a parceria
público-privado para a análise de amostras coletadas por laboratórios menores
em todas as regiões do país contribuíram para os resultados efetivos dos exames
e para o maior controle da COVID-19, contou o presidente da Abramed. Ele explicou
que o canal de comunicação direto criado entre os laboratórios privados e a
Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde tem sido importante
para a notificação rápida dos resultados dos exames para diagnóstico da infecção
e tem contribuído para que o mesmo ocorra com a unidades laboratoriais do
Sistema Único de Saúde (SUS).
O executivo ressaltou que os dados gerados a partir
dos testes positivos e negativos são essenciais para consolidar análises e
fundamentar estratégias. Porém, não basta gerar dados, é preciso que essas
informações estejam corretas. “De nada
adianta coletarmos informações ruins ou, então, de instrumentos pouco
confiáveis. Esse é o caminho para tomarmos decisões erradas”, pontuou Shcolnik.
Por isso, ele enfatizou que os testes autorizados pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a serem realizados fora do
ambiente controlado, como as unidades laboratoriais, devem ser realizados em
ambientes apropriados, por profissionais capacitados, que usem controles de
qualidade. “Caso contrário, teremos resultados questionáveis, pois um resultado
falso negativo gerado pela realização de um teste rápido dentro da janela
imunológica do paciente pode, por exemplo, criar uma falsa sensação de
segurança.”
Dentro deste aspecto, sobre as Consultas Públicas 911 e 912 –
sobre realização de exames laboratoriais em qualquer serviço de saúde –, realizada
pela Anvisa em 2020, o presidente da Abramed explicou que a revisão da RDC
302/2005, que regulamenta os laboratórios clínicos para funcionamento, era um pleito
frequente do segmento, visto que com a modernização de tantos processos que
impulsionaram novas práticas, uma atualização se fazia necessária.
Porém, a revisão da norma por meio das CPs 911 e 912 assustou
o setor. “A CP 911 trata das práticas farmacêuticas após a lei nº 13.021/2014
que dá a esses estabelecimentos o status de serviços de saúde. Desde então,
farmácias estão se preparando para esse novo papel. Mas, para nós, essa
assistência farmacêutica estaria relacionada ao monitoramento e uso de
medicamentos (NQSurgicalDentistry). Não seria tão abrangente como estamos vendo agora que outros
serviços também são oferecidos”, explicou Shcolnik.
Já a CP 912 cogita, sem limites, a liberação
da realização de exames fora dos ambientes altamente controlados dos
laboratórios clínicos, e, para o presidente da Abramed, adota terminologias
incompatíveis com a realidade internacional, desconstrói os laboratórios
brasileiros e desrespeita os profissionais do setor. “Entendemos que para o
riscos sanitários serem minimizados, qualquer procedimento realizado em
farmácia deve obedecer às regulamentações e normativas para as práticas
laboratoriais exigidas dos laboratórios clínicos para a realizações de exames”,
afirmou.
Shcolnik disse que as duas CPs (911 e
912) já foram encerradas e agora as entidades do setor de medicina diagnóstica
e de análises clínicas aguardam o relatório da área técnica da Anvisa para
dialogar com o órgão regulador.
Papel da ANS
A Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS), na opinião de Wilson Shcolnik, teve um papel importante ao
longo da pandemia ao incluir, desde março de 2020, no Rol de Procedimentos e
Eventos em Saúde, o teste RT-PCR para diagnóstico laboratorial da COVID-19. Em maio,
mais seis exames que auxiliam no diagnóstico e tratamento do novo coronavírus
foram incluídos na lista de coberturas obrigatórias dos planos de saúde e
fizeram a diferença principalmente para o controle da doença nas pessoas
internadas. “Os exames de dosagem de Dímero D, fundamental para diagnóstico e
acompanhamento do quadro trombótico tem papel importante na avaliação
prognóstica na evolução dos pacientes com COVID-19, e de Procalcitonina, que auxilia
na distinção entre situações de maior severidade e quadros mais brandos da
doença, são dois bons exemplos que constituíram um marco importante dessa pandemia”,
frisou.
Porém, a suspensão no atendimento aos procedimentos
eletivos determinado pela ANS nos primeiros meses da pandemia, para o
presidente do Conselho de Administração da Abramed, foi a responsável por
momentos difíceis enfrentados pelo setor em 2020. “Chegamos a um decréscimo de
quase 40% no número de atendimentos. Com o conhecimento adquirido pelos
profissionais, o preparo de infraestrutura das empresas e com o correr natural
da crise, o movimento começou a ser recuperado no fim do ano”, disse.
Shcolnik informou que no início de 2021, o setor teve
o receio de novamente a agência reguladora decidir pela suspensão da resolução
nº 259, responsável pela instituição de prazos para realização dos
procedimentos pelos planos de saúde, o que não aconteceu. “A ANS entendeu que
tal feito traria impactos à sustentabilidade do setor”, afirmou.
Desafios para o setor
Com o avanço da vacinação contra a COVID-19, o
desafio para os laboratórios agora passa a ser também encontrar o teste
sorológico com maior precisão para apontar a presença dos anticorpos protetores
gerados a partir dos diferentes estímulos vacinais, já que os disponíveis
atualmente podem não conseguir.
Shcolnik explicou que os testes sorológicos são
desenvolvidos para verificar a presença de anticorpos contra o SARS-CoV-2,
proteínas específicas que se ligam ao vírus com o intuito de defender o
organismo. Porém, o vírus produz tipos diferentes de proteínas e o organismo
pode contra-atacar por várias frentes. As principais proteínas que estimulam o
sistema imunológico são a Spike, responsável pela ligação do vírus na célula
humana e peça-chave na infecção; e as do nucleocapsídeo viral, envelope que
protege e carrega a carga genética do vírus, o RNA viral.
“Dentro desse cenário, os fabricantes de testes de
anticorpos utilizam uma dessas proteínas para o desenvolvimento dos reagentes”,
ressaltou o executivo, lembrando ainda que cada vacina tem um tipo de mecanismo
diferente de levar à imunidade e dependendo do tipo do imunizante, há um
estímulo específico de anticorpos contra uma proteína. “Se o teste utilizado
não cobrir essa proteína, o resultado pode ser um falso-negativo em alguém que
está, de fato, imunizado”, completou.
O que há neste momento, segundo o presidente da
Abramed, é que não existe evidência do que possa ser a melhor utilidade do exame
que quantifica os anticorpos neutralizantes, mas ele acredita que esses testes
podem trazer informações importantes. “Tenho acompanhado estudos nacionais de
pessoas vacinadas que não desenvolveram anticorpos neutralizantes. Por isso, eu
considero que esse exame, embora não seja ainda inteiramente conhecido, pode
trazer sim informações relevantes que podem nos ajudar a entender a ação que
houve por parte de organismos que já receberam o imunizante. Só não conhecemos
ainda todo o espectro de utilidade dessas informações”, concluiu Shcolnik.