Com representantes de toda a cadeia produtiva, encontro virtual falou sobre reflexos da pandemia, incorporação tecnológica e responsabilidade compartilhada rumo à sustentabilidade do sistema
28 de abril de 2021
O primeiro episódio da edição 2021 da série
#DiálogosDigitais Abramed trouxe à tona debates valiosos sobre o futuro da
saúde suplementar. Realizado virtualmente na noite de 27 de abril e moderado
por Leandro Figueira, vice-presidente do Conselho de Administração da
Associação, o encontro contou com a participação de Alex Galoro, diretor do
Comitê Técnico de Análises Clínicas da Abramed e gestor médico no Grupo Sabin
Medicina Diagnóstica; Carlos Eduardo Gouvêa, presidente-executivo da Câmara
Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL); e Vera Valente,
diretora-executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaúde).
Relembrando todos os impactos que a pandemia de COVID-19
causou nas estruturas de saúde globais, Figueira iniciou o bate-papo
questionando como a rede suplementar de saúde no Brasil – indispensável ao
atendimento populacional como um complemento à rede pública – fará para dar
vazão a todos os procedimentos que foram represados nos últimos meses em
decorrência do afastamento dos pacientes das consultas, exames e cirurgias
eletivas.
Com ampla expertise nesse cenário e representando uma parte
valiosa da rede suplementar nacional, Vera pontuou que houve sim uma
paralisação bastante forte nos primeiros meses da crise, mas que o movimento
foi sendo retomado e, hoje, já supera o anotado na pré-pandemia. “No final do
ano começou uma retomada expressiva e esse primeiro trimestre de 2021 foi
histórico. Tanto que o número de autorizações emitidas para realização de
exames e terapias em março desse ano foi maior do que o que observamos em março
de 2019”, declarou.
Trazendo a perspectiva de quem está dentro de uma das
principais redes de laboratório do país, Galoro pontuou que a queda do
movimento chegou a 50% em abril do ano passado e que as demandas por testes de
COVID-19 chegaram a representar metade do faturamento ao longo de alguns meses.
Porém, com o movimento de preparação dos laboratórios e clínicas e a indicação
de que as pessoas não deveriam postergar seus atendimentos, houve uma evolução
gradual.
“O movimento foi sendo retomado com a busca de outros exames
além da COVID-19. Assim, com a chegada da segunda onda, nos deparamos com as
duas situações: um nível de exames para detecção do novo coronavírus já alto,
acima da linha basal anterior, e o crescimento pelos outros diagnósticos”,
disse. Falando sobre o futuro, pontuou que “teremos uma retomada, uma pressão
grande para atender as demandas que foram deixadas em segundo plano e a rede
precisa estar preparada para absorver”.
Então, sobre o futuro da saúde suplementar no Brasil, Vera
finalizou que a pandemia mostrou de forma ainda mais clara como a rede privada
atua em conjunto com a rede pública para atendimento geral da população e que
esse pensamento de um sistema integrado precisa ser valorizado. “A saúde
suplementar cuida de 47 milhões de brasileiros que deixam de utilizar o SUS.
Essa complementaridade é importante e temos que compreender formas de trazer
ainda mais beneficiários para a saúde suplementar. Essa é uma agenda que
estamos bem alinhados, tanto prestadores quanto operadoras”, finalizou.
Rol da ANS
Dentro desse contexto de que a pandemia não exclui as outras
doenças que seguem acometendo a população, o quarteto debateu sobre os
processos de inclusão de novos exames e procedimentos no Rol da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Para introduzir o assunto, Figueira lembrou que a ANS
continuou se movimentando para, mesmo diante de um cenário pandêmico, seguir
com a inclusão de novos exames e procedimentos em benefício da população
atendida pelas operadoras de saúde.
“O processo de atualização do rol se repete a cada dois anos
e esse ano entraram 109 novos procedimentos entre exames, medicamentos,
imunobiológicos, cirurgias e terapias, o que foi uma atualização bastante
expressiva”, disse Vera ao enfatizar a importância das análises de impacto para
que o sistema possa absorver essas novas tecnologias de forma sustentável.
Outro ponto mencionado pela executiva foi a rápida
incorporação dos testes de COVID-19 em caráter excepcional. “A ANS, ainda em
maço de 2020 e independente do Rol, incorporou o RT-PCR e, segundo nosso
levantamento, a rede suplementar desde então já realizou mais de 3 milhões de
testes. Ainda dentro da COVID-19, em junho incorporou também os sorológicos e
nossas operadoras, até agora, já fizeram cerca de 1,5 milhão desses exames que
detectam os anticorpos”, pontuou.
Figueira concorda com Vera quanto a necessidade do uso
racional dos exames para a construção de um sistema sustentável. “Tudo tem que
ser racionalizado e precisamos ser guardiões das boas práticas junto com o
sistema de saúde. Temos, inclusive, essa responsabilidade de disseminar
conhecimento técnico para a aplicação das tecnologias disponíveis”, declarou.
Porém, o vice-presidente da Abramed lembra que na última
incorporação da ANS, feita em 2018, o impacto orçamentário estimado não foi
alcançado. Segundo estudo da Associação – que computou a quantidade de exames
realizados por suas associadas ao longo do primeiro ano de vigência do novo rol
e, também, os dados compartilhados pela ANS nesse mesmo período – a estimativa
da Confederação Nacional da Indústria (CNI) era de que seriam efetivados 77.441
exames da lista de 10 novos procedimentos diagnósticos apontados como de
cobertura obrigatória pelos planos de saúde. Porém, encerrado o primeiro ano de
vigência, as associadas à Abramed confirmaram a realização de apenas 37.665
exames, o que confirma que a inclusão de novos procedimentos não atingiu sequer
50% do volume de exames que eram esperados para os primeiros 12 meses após a
ampliação do Rol.
Exemplificando que a incorporação sempre acaba trazendo um
cunho de racionalidade, Galoro utilizou, como exemplo, os testes de COVID-19
que foram incluídos no Rol em 2020. “As diretrizes de utilização (DUTs) são
importantes para racionalizar e regularizar o uso. Para o RT-PCR, a
recomendação era de aplicação em pacientes sintomáticos. E quando foram
incluídos os sorológicos, também vieram com diretrizes especificadas”, disse.
Outro ponto que também acaba interferindo nesse impacto está
na qualidade dos kits. Durante os primeiros meses da pandemia de COVID-19, o
Brasil assistiu à uma disseminação de kits de baixa qualidade que entregavam
resultados pouco confiáveis e atrapalhavam a estratégia de contenção do novo
coronavírus. Mas esse cenário foi minimizado pela atuação da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa) e também por projetos paralelos de validação.
Pensando nisso, Figueira questionou Gouvêa se ele acreditava
que a Anvisa deveria ser envolvida na validação de todo e qualquer tipo de
teste disponibilizado no mercado. Porém, para o executivo, não há essa
necessidade. “Na minha opinião, não precisa. Temos, como indústria, controles
suficientes para garantir bons produtos. E quando há algum extremo, o mercado
também tem condições de monitorar, reclamar e denunciar”, finalizou.
Testes pós-vacina de COVID-19
Um dos assuntos mais comentados do momento, os testes
sorológicos feitos após a imunização também entraram no debate na noite de 27
de abril. Galoro enfatizou que há o questionamento sobre a importância dessa
testagem e que ele é válido, porém trouxe pontos que também devem ser
relevantes.
“Os resultados desses testes não interferem na conduta. Se
der negativo ou se der positivo, o paciente deve seguir usando máscara, com as
medidas de isolamento e proteção. Não há, inclusive, qualquer indicação de
reforço da dose, visto que a imunidade pode vir de uma resposta celular, por
exemplo, e não dos anticorpos. Porém esses testes trazem informações para a
nossa evolução. Sem testar a população vacinada, não teremos esses dados para
avaliação”, pontuou.
Ainda sobre os testes pós-vacina, Gouvêa complementou que,
infelizmente, a população brasileira vacinada ainda é muito pequena e que
muitos só tomaram a primeira dose. “E não há indicação de testagem antes da
segunda dose”, disse.
Em um papo muito produtivo, os especialistas também
abordaram outros diversos assuntos como, por exemplo, os desafios tributários do
setor – que apesar de muitos apontarem impactar apenas a área privada, acabam
respingando também no SUS, visto que a indústria muitas vezes precisa repassar
o custo dos impostos aumentados – e a relevância da telemedicina como forma de
ampliar o acesso populacional às especialidades médicas.
Para encerrar o encontro, Milva Pagano, diretora-executiva
da Abramed, agradeceu a participação de todos e aproveitou para falar sobre o
próximo episódio do #DiálogosDigitais que acontecerá em junho. “No dia 22 de
junho falaremos sobre gestão de saúde corporativa e a medicina diagnóstica.
Importante lembrarmos sobre a responsabilidade de todos os players
dentro dessa busca por sustentabilidade”, comentou.
O primeiro episódio está disponível na íntegra no canal do
YouTube da Abramed. Clique AQUI
para assistir.