No Japão, atletas, comissões técnicas e organizadores passaram por triagem diária; objetivo era identificar rapidamente pessoas infectadas – mesmo que assintomáticas – para isolá-las e evitar a disseminação do novo coronavírus entre os participantes
6 de agosto de 2021
Adiada por um ano, a edição 2020 dos Jogos Olímpicos do
Japão foi iniciada em 20 de julho, ainda sob a pandemia de COVID-19. Para
ampliar a segurança das provas e permitir que a competição fosse realizada,
muitas medidas não farmacológicas para evitar a disseminação do novo
coronavírus foram tomadas. Além de extinguir o público das provas, foram
implementados rígidos protocolos de proteção. A máscara facial devia ser usada
por todos os participantes que foram, também, instruídos a reduzir a interação
física. Além disso, o Comitê Olímpico Internacional (COI) apostou na medicina
diagnóstica para identificar o mais rápido possível qualquer participante
infectado, garantindo o seu isolamento e o rastreio de seus contatos.
“O sistema de testagem aplicado pelo COI soava muito
eficiente, pois utilizava testes com bastante sensibilidade e especificidade,
sempre processados dentro dos ambientes altamente controlados dos laboratórios
clínicos”, explica Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da
Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).
Antes mesmo de embarcar para a jornada competitiva, os
atletas tiveram de apresentar dois testes negativos para coronavírus nas 96
horas que antecediam o voo. Os testes válidos para essa etapa eram aqueles
capazes de identificar a doença na fase ativa, ou seja, testes de anticorpos
não eram aceitos. Na lista divulgada pelo Japão, constavam apenas os testes
realizados com amostras nasofaríngeas, orofaríngeas e de saliva, entre eles o
RT-PCR, padrão ouro para detecção da infeção pelo novo coronavírus, e o
RT-LAMP.
Na chegada ao Japão, ainda no aeroporto, todos realizavam um
novo exame, desta vez um teste de antígeno do SARS-CoV-2 feito com amostra de
saliva. Se o resultado fosse positivo, os responsáveis realizavam um novo exame
com a mesma amostra para confirmação do diagnóstico.
Mas a testagem não parava por aí. Durante os jogos, todos os
participantes foram submetidos à triagem diária feita com o mesmo teste
aplicado no aeroporto: detecção qualitativa de antígenos em amostras de saliva.
A logística para que essa triagem funcionasse foi muito bem planejada, visto
que eram cerca de 11 mil atletas, suas comissões técnicas e mais uma grande
leva de profissionais que atuavam para que os jogos pudessem acontecer.
Dessa forma, todos os participantes receberam recipientes
com códigos de barra que os identificavam. Todos os dias eles deviam depositar,
nesses frascos, uma amostra de saliva, entregando essa amostra nos locais
previamente indicados pela organização. Essas amostras eram recolhidas e
transferidas para um laboratório que processava o exame em aproximadamente 12
horas. “A identificação das amostras com códigos de barras representa parte
crítica do processo pré-analítico, pois contribui para evitar trocas e dar
credibilidade aos resultados. Esse processo já está bastante consolidado aqui
no Brasil e é amplamente utilizado pelos melhores laboratórios
brasileiros”, comenta Shcolnik.
Com o resultado negativo, o participante seguia normalmente
na competição. Porém, se o resultado fosse positivo, ele era notificado e o
laboratório reanalisava a mesma amostra. Quando o resultado da nova análise
também era positivo, o atleta era convocado para realização de um RT-PCR com
amostra nasofaríngea. O prazo máximo para a entrega desse laudo era de cinco
horas.
Na Internet, o atleta Douglas Souza, da equipe masculina de
vôlei de quadra, foi um dos responsáveis por divulgar a exigência. Em seu
perfil no Instagram, Douglas mostrou, por diversas vezes, a realização
cotidiana dos testes enquanto esteve no Japão.
Segundo Shcolnik, a testagem durante a competição envolvia
duas metodologias diagnósticas muito eficientes. “Primeiramente eles investiam
no teste por amostra de saliva, visto que isso facilita a logística, já que o
próprio participante podia coletar e entregar sua amostra para a avaliação
laboratorial. Caso o resultado desse exame fosse positivo ou suspeito, eles seguiam
com o cronograma podendo solicitar ao participante a realização de um RT-PCR
com amostra nasofaríngea, tipo de exame e de amostra mais certeiros para a
confirmação diagnóstica”, explica.
Além da triagem diária, os atletas também eram instruídos a
ficarem atentos a qualquer mínimo sintoma de COVID-19, comunicando a
organização para que o melhor teste fosse aplicado.
Em lista divulgada pelo COI, ao longo dos jogos foram realizados mais de 571 mil testes de triagem para COVID-19 com uma taxa de positividade de 0,02%. No geral, 198 pessoas tiveram diagnóstico confirmado para COVID-19 durante a realização dos Jogos Olímpicos de 2020.