Malu Sevieri, diretora-geral da Medical Fair Brasil, fala sobre a retomada das feiras de negócios para o setor de saúde
10 de agosto de 2021
Saúde é um setor essencial e que
envolve muitos players distintos para que a complexa cadeia possa fluir. Em
entrevista exclusiva à Abramed em Foco, Malu Sevieri, CEO da Emme Brasil –
representante do grupo alemão Messe Düsseldorf –, e diretora-geral da Medical
Fair Brasil (MFB) aborda os principais impactos da COVID-19 na paralisação de
feiras de negócios, fundamentais para promoção do relacionamento entre
compradores e vendedores. A executiva fala sobre quais soluções adotou para
minimizar os imensos desafios que surgiram e reforça que a retomada está com
data e hora marcada.
Confira a entrevista na íntegra.
Abramed em Foco – É notável
que o setor de feiras e eventos profissionais foi um dos mais afetados pela
pandemia de COVID-19. Um impacto gigantesco para as organizadoras e também para
os expositores e compradores, que tiveram de encontrar outros meios para se
aproximar de seus clientes e parceiros. Quais os prejuízos dessa paralisação
para todo o setor de saúde?
Malu Sevieri – Estamos há
mais de um ano e meio sem poder realizar eventos profissionais, um setor que
movimentava, antes da pandemia, cerca de R$ 1 trilhão. O próprio Ministério do
Turismo declarou que fomos o segundo segmento mais afetado, atrás somente do
entretenimento. O setor precisou se reinventar, intensificamos nossa presença
no meio digital e embora tivéssemos alguma resposta positiva na tentativa de
ajudar nossos clientes com a geração de novos negócios, a falta do contato
presencial nos é completamente desfavorável. É incomparável o poder do olho no
olho, do estar junto e como isso se reflete em fluxo financeiro. Sem eventos
físicos, a demonstração de um produto fica comprometida. O que tivemos bastante
foi geração de conteúdo de qualidade. Isso não podemos negar. Mas qual o
objetivo de uma feira? A geração de negócios. E quanto a isso, infelizmente,
nossos resultados não foram os melhores. Além disso, vivemos todo esse tempo
com a invisibilidade do nosso setor, sem que nos dessem a atenção devida, como
se fôssemos menos importantes para a sociedade. O impacto econômico que nós
geramos prova o contrário. Quando temos evento físico são apresentadas diversas
novas tecnologias e equipamentos que todo mundo pode conhecer e manusear, o
evento é democrático, deixa a tecnologia disponível para todos, para a saúde
isso é muito importante, aqueles profissionais de hospitais e clínicas têm a
possibilidade de estar em contato com tecnologias que podem não adquirir
naquele momento, mas o aprendizado está sim sendo adquirido.
Abramed em Foco – Comparando o
impacto da COVID-19 no setor no Brasil e nos outros países, como nos saímos?
Quais as principais diferenças vistas entre nós e outras nações?
Abramed em Foco – Em
outras nações, como países da Ásia, os eventos retornaram ainda no segundo
semestre do ano passado. Claro que com protocolos de segurança seguidos à
risca, diminuição da capacidade de público, uma nova realidade, mas estavam
acontecendo, dando oportunidade de emprego a milhares de pessoas e contribuindo
justamente para a geração de negócios. No Brasil, somos um segmento propulsor
de 12 milhões de postos de trabalho, mas ainda assim fomos relegados e
silenciados, não tivemos qualquer tipo de abertura e compreensão por parte dos
governos em suas diferentes instâncias. Há mais de 50 anos, eventos como feiras
de negócios se firmaram como principal canal de relacionamento, prospecção de
oportunidades de negócios e vendas de curto, médio e longo prazo para a grande
maioria das atividades comerciais no Brasil, não somente o setor da saúde. O que
fazemos é gerar receita, circular a economia e promover o turismo de negócios
que, obviamente, também sofreu com a falta de organização de eventos. Também
faz diferença a parte da cultura das pessoas, na China todo mundo super
respeita o uso de máscara, por exemplo, todo mundo foi se vacinar. Por lá, existem
aplicativos para monitorar as pessoas, tudo isso ajuda na retomada segura.
Abramed em Foco – A medicina
diagnóstica é uma das áreas da saúde que se mantém em contínua evolução.
Depende bastante de investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação para
aumentar o portfólio de exames capazes de diagnosticar a cada dia mais rápido,
com mais assertividade e com melhor custo uma infinidade de doenças. Como, na
sua opinião, laboratórios e clínicas podem agir para se manter em contato com o
que está sendo lançado de mais inovador no mundo enquanto os eventos ainda
permanecem paralisados?
Abramed em Foco – A
indústria médico-hospitalar não ficou parada durante a pandemia. Ela se manteve
ativa, se reorganizando e analisando o seu portfólio de produtos e serviços
para suprir as necessidades de mercado, inclusive dos laboratórios. A razão de
ser dos eventos corporativos é o relacionamento e essa é a palavra que deve ser
trabalhada continuamente, inclusive no meio digital. Se informar, acompanhar os
lançamentos, participar dos eventos online. Essa tem sido a realidade atual,
mas é perene e está passando, para que nosso networking presencial torne a ocorrer
novamente. A indústria deve promover mais
encontros com os usuários, não com o CEO do laboratório ou o profissional de
compras, mas aquele que fica na ponta, que operacionaliza equipamentos, eles
são fonte barata e pura de informação para evoluir o negócio.
Abramed em Foco – É sabido que
diante da pandemia, as notícias acabam mudando muito rapidamente, bem como
medidas restritivas aumentam e diminuem com o passar dos dias. Porém, qual é a
sua expectativa hoje para os próximos meses? Podemos imaginar uma retomada das
feiras?
Abramed em Foco – A partir
do dia 17 de agosto, o governo de São Paulo vai começar a permitir o
funcionamento de eventos sociais, museus e feiras corporativas, que estavam
proibidos desde o início da pandemia. Essa liberação estará condicionada ao
controle de público e o uso de máscara será obrigatório. Foi informado que
esses eventos não podem gerar aglomeração. O setor de eventos é uma indústria e
o que nos diferenciou até agora das outras que logo retomaram foi o fato de
continuarmos inoperantes, por acreditarem que nosso negócio é menos relevante e
nos considerarem um fator de risco para transmissão do novo coronavírus, com a
justificativa de que propiciamos aglomerações. Um evento corporativo possui um
protocolo de segurança bem mais rígido que um de um shopping center, com controle,
registro e banco de dados completos de quem entra e de quem sai, pessoas que
vão única e exclusivamente para prospectar e fechar negócios e, obviamente,
para ampliarem seu networking e o alcance das marcas que representam. A retomada
está com data e hora marcada, ainda bem, agora temos que seguir os protocolos e
logo, logo estaremos juntos na Medical Fair Brasil.
Abramed em Foco – A pandemia
mudará para sempre a forma como laboratórios e clínicas de imagem se relacionam
com seus parceiros de negócios?
Abramed em Foco – Acredito
que não somente com parceiros de negócios, o que vai ocorrer é que todos nós
vamos precisar tomar decisões muito mais efetivas, que nos tragam retorno
positivo. No caso da medicina diagnóstica, essa eficiência vai se refletir no
melhor relacionamento com pacientes. É preciso que a gestão seja capaz de
estabelecer um vínculo saudável com os parceiros, para que juntos compreendam
as mudanças que o mercado já está exigindo, como o impacto cada vez maior da
tecnologia. Aplicativos, monitoramento em tempo real, soluções digitais de
maneira geral devem ser uma constante em todos os vieses. Com todos focados em
uma mesma perspectiva, o relacionamento não tem como dar errado.
Abramed em Foco – Observando a
movimentação do segmento, que tipo de soluções voltadas à medicina diagnóstica
vocês acreditam que se destacarão nesse futuro próximo?
Abramed em Foco – A pandemia do coronavírus certamente deixará um legado positivo para a medicina diagnóstica, principalmente se pensarmos que os laboratórios criaram seus próprios testes in house para já atender a população, junto com um investimento massivo em mudanças estruturais para evitar a disseminação do vírus, mudaram até o agendamento, criaram o drive- thru de exames, assim como um maior número de equipamentos portáteis para fazer exames na casa do paciente, com aumento, consequentemente da coleta domiciliar. Tudo isso, aliado aos investimentos em tecnologia certamente ditarão as tendências desse amanhã que estamos próximos. Também será interessante acompanhar a evolução deste mercado, como ficará a relação com operadoras de saúde, telemedicina, segurança dos dados? Acredito que muito vai mudar e rápido.
Abramed em Foco – Como enxerga
a atuação da Abramed no setor? O que espera da entidade como parceira para
melhoria dos negócios?
Abramed em Foco – A
Abramed é fundamental para o setor de medicina diagnóstica, não somente por
representar as empresas líderes desse mercado, como também por unir todos os
elos para uma atuação conjunta para garantir o foco na atenção ao paciente,
dialogando e estabelecendo agendas positivas com as sociedades científicas. Em
uma década, ela já compreendeu que o intercâmbio de informações e experiências
é uma maneira de propagar o conhecimento e compartilhar boas práticas,
qualidade e inovações deste segmento que assumiu protagonismo e continua sendo
fundamental ao enfrentamento da COVID-19.