Tema encerrou a participação da Abramed na segunda edição da Digital Journey by Hospitalar
01 de setembro de 2021
A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed)
encerrou sua participação na segunda edição da Digital Journey, evento virtual
promovido pela Feira Hospitalar, com uma rica apresentação sobre a inteligência
artificial como facilitadora do acesso ao diagnóstico e redutora das disparidades
sociais. O tema foi conduzido por Cesar Higa Nomura, superintendente de
medicina diagnóstica do Hospital Sírio-Libanês e membro do Conselho de Administração
da entidade, na noite de 30 de agosto.
“A inteligência tem várias faces e nosso foco, nessa
apresentação, é apontar suas funcionalidades quando aplicadas ao diagnóstico
relacionado à linha de cuidado”, disse Nomura ao iniciar sua palestra que
trouxe uma sequência de exemplos, sempre fundamentados em evidências
científicas, de como algoritmos bem treinados são capazes de auxiliar na
definição diagnóstica e otimizar os tratamentos em diversas especialidades
médicas.
Câncer de pele e dermatologia
Em 2016, o The Lancet, um dos principais periódicos
científicos do mundo, publicou um artigo que questionava se o câncer de pele
poderia ser diagnosticado por meio de inteligência artificial. Naquele mesmo
ano, um trabalho divulgado por outra renomada revista, a Nature, apontou que
algoritmos de inteligência artificial conseguiam identificar carcinomas e melanomas
com alta acurácia.
“O estudo envolveu a análise de 129 mil imagens
dermatológicas e o trabalho de diagnóstico de 21 médicos e o que foi observado
foi que a acurácia do algoritmo para a detecção do câncer de pele foi de 0.96,
ou seja, o software atingiu uma excelente capacidade”, explicou Nomura.
Segundo o executivo, no Brasil há, inclusive, um aplicativo
de teledermatologia que permite que o paciente tire uma foto e envie para
avaliação e potencial diagnóstico de câncer de pele. “Se pensarmos que não
temos especialistas em dermatologia em todos os cantos do nosso país, esse app
tem muita utilidade e pode ser absolutamente interessante”, destacou.
Oftalmologia
Outra possibilidade diagnóstica somada à inteligência
artificial foi publicada pelo JAMA Network. “120 mil imagens de fundo de olho
foram analisadas junto com sete oftalmologistas experientes. Nesse caso, a
acurácia do software para detectar retinopatia diabética foi de 0.99. É o
algoritmo ajudando o diagnóstico de um acometimento muito importante relacionado
à diabetes”, explicou Nomura destacando que a inteligência artificial é tão
precisa que com essas imagens consegue até mesmo apontar se o paciente é homem
ou mulher.
Cardiologia
A cardiologia também se beneficia do diagnóstico via
inteligência artificial. Existem algoritmos para eletrocardiograma capazes de
detectar infarto agudo do miocárdio. “Esses algoritmos também podem predizer a
função ventricular, apontando se está normal ou alterada. Além disso, trazem
estimativas interessantes”, disse Nomura. Segundo o especialista, a capacidade
é tão vasta que a inteligência artificial pode identificar até mesmo anemia por
esse eletrocardiograma e predizer o risco daquele paciente falecer nos próximos
doze meses.
Outra adesão tecnológica à especialidade mencionada por
Nomura diz respeito a reserva de fluxo para avaliar angiotomografia de
coronária. “Existe a tomografia de coronária e é possível avaliar o fluxo por
meio dela. Porém, os algoritmos que existem atualmente utilizam
supercomputadores, são exames caríssimos que precisam de um longo tempo de
processamento e que exigem que as imagens sejam enviadas para fora do país.
Porém estão surgindo alternativas. No Sírio-Libanês publicamos, este ano,
conteúdos com algoritmos mais simples em machine learning que conseguem
simplificar a análise para uso em estações de trabalho mais simples. São
softwares que avaliam a coronária e ainda dizem se, além da estenose, há algum
achado que possa estar reduzindo o fluxo”, pontuou. “É um campo vasto de
possibilidades”, complementou.
COVID-19
No Brasil, um trabalho ganhou destaque. Qualquer
assistência, em qualquer local do país, que tivesse um equipamento de
tomografia poderia enviar gratuitamente as imagens dos seus pacientes para um
servidor que utilizava dois algoritmos para detectar a chance daquela imagem
representar um caso de COVID-19 e quantificar o comprometimento do pulmão.
Com apoio e financiamento de muitas instituições e empresas,
o projeto auxiliou 52 hospitais espalhados por todo o Brasil. “Avaliamos 27 mil
tomografias computadorizadas de tórax nessa plataforma que ficou em
funcionamento até janeiro de 2021. E além da contribuição diagnóstica, alguns
achados foram interessantes. Dados preliminares mostraram que pacientes com
mais de 50% do pulmão acometido com vidro fosco tinham maior mortalidade. Além
disso, os pacientes com mais da metade do pulmão afetado tinham mais chances de
irem para a UTI e de precisar de intubação”, destacou o especialista que
participou ativamente do projeto.
Por fim, ao encerrar sua apresentação, Nomura declarou que
mesmo na inteligência artificial existem falhas e que para sanar essas falhas é
preciso investir em treinamento contínuo dos dados. “É um passo de cada vez com
um conhecimento que vai sendo adquirido aos poucos”, disse.
Na visão do executivo, os algoritmos quando bem empregados
aumentam a acurácia diagnóstica, encurtam distâncias e democratizam o acesso.
“Com a comunidade, a academia, o setor privado e o governo trabalhando como
parceiros, é possível fazer muito mais com muito menos”, finalizou.