Na medicina
diagnóstica, especificamente, aplicação do conceito exige diálogo consistente
com todos os stakeholders, devendo ser parte da ideologia empresarial
Considerando que a disseminação
da cultura ESG (Environmental, Social and Corporate Governance), sigla
em inglês para ambiental, social e governança corporativa, é uma das missões
que as empresas têm, a colaboração é um aspecto primordial. Organizações mais
maduras na adoção de estratégias nesse contexto podem direcionar e apoiar as
que estão ingressando. Exatamente enxergando a relevância e poder do
compartilhamento de conteúdo e de melhores práticas, que a Associação
Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) estruturou o Comitê ESG, com o
desafio de desmitificar a relação que o tema possui com práticas exclusivamente
voltadas às questões ambientais, trazendo a discussão para o contexto da área
da saúde.
A conexão da sustentabilidade com
a saúde, especialmente a medicina diagnóstica, já é antiga. Em 2000, quando as
Nações Unidas estabeleceram, na Cúpula do Milênio, oito objetivos de
desenvolvimento, três deles estavam ligados diretamente à saúde: reduzir a
mortalidade na infância; melhorar a saúde materna e combater o HIV/AIDS, a
malária e outras doenças. Em 2015,
quando se estruturou uma nova agenda para ser alcançada até 2030, 17 Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram estabelecidos, dois deles dedicados
à nutrição e à saúde e bem-estar, que aborda os desafios e riscos no ciclo de
vida das crianças, cuidados com a saúde para o seu pleno desenvolvimento, bem
como a necessidade de fortalecimento dos sistemas de saúde e redes de segurança
social.
Além disso, como parte e seus
impactos. O setor está vivendo um intenso processo de transformação digital e
de inovação com foco na ampliação do acesso à saúde. A medicina diagnóstica
contribui diretamente para a crescente do ecossistema empresarial e pode
contribuir com outros objetivos de desenvolvimento sustentável que abrangem as
temáticas voltadas ao crescimento econômico e emprego; padrões de produção e
consumo sustentáveis, e as medidas para combater a mudança do clima dinâmica
econômica e social do país e tem também uma responsabilidade grande na redução
e neutralização dos impactos das suas atividades no planeta.
De acordo com Andrea Pinheiro,
que é membro do Comitê ESG e diretora de Relações Institucionais e Comunicação
Corporativa do Grupo Sabin, atualmente se tem o ESG incluindo os aspectos
ambientais, sociais e de governança no mesmo nível e sendo incorporados pelos
mais diferentes atores. Isso torna cada vez mais pertinente estabelecer um
diálogo consistente com todos os stakeholders. Cabe salientar que a cultura ESG
precisa ser genuína. Para ter consistência, o compromisso não pode ficar apenas
no discurso. Tem que ser autêntico e engajador, além de fazer parte da
ideologia empresarial, não apenas como compromisso empresarial, mas como mindset.
O conceito ESG foi abordado na
edição 2005 da conferência das Organizações das Nações Unidas, quando Kofi
Annan – naquele momento, líder da entidade – apresentou o relatório “Who
Cares Win, Connecting Financial Markets to a Changing World”. O relatório
foi a semente para as reflexões sobre a incorporação de fatores ambientais,
sociais e de governança ao mercado de capitais.
“Com a pandemia e a crise global
em 2020, o conceito ganhou destaque, ressaltando o papel fundamental das organizações
no desenvolvimento da sociedade, e os aspectos ambientais, sociais e de
governança como uma nova referência para a entrega de valor. A pandemia foi um
divisor de águas neste sentido. A crise foi propulsora para que o conceito de
ESG retomasse de forma intensa no contexto corporativo, inclusive com diversos
rankings empresariais de avaliação desses aspectos tanto para empresas de
capital aberto quanto fechado”, fala Andrea.
Segundo Meire Ferreira, que é membro
do Comitê de ESG da Abramed e gerente-executiva de Sustentabilidade na
Beneficência Portuguesa, a sigla ficou mais famosa a partir do ano passado
devido ao movimento do mercado financeiro e de investidores, que ao realizar
grandes investimentos já avaliam a partir de uma ordem de risco de modo geral.
Por isso, o Comitê recém-criado também irá considerar a dimensão
econômico-financeira para se trabalhar uma agenda de sustentabilidade mais
integral, sistêmica e completa.
Para Andrea, a criação do Comitê
de ESG da Abramed chega para somar na governança da entidade e, em
consequência, contribuir para o setor. É um espaço muito rico para o encontro
de ideias e convidativo para um debate central. Ele tem potencial grande de
contribuir para outros comitês temáticos da entidade. “A visão da sustentabilidade
é 360 e o Comitê permite que sejamos também um elo de apoio para o
fortalecimento desta agenda e das práticas para os associados e para a própria
associação”, enfatiza.
Caminhos para o ESG
Muitos laboratórios associados à
Abramed já trilham o caminho da sustentabilidade, outros estão iniciando.
Segundo Andrea, a pauta ESG tem potencial incrível para o setor, mas ainda há,
sim, muito a evoluir. É necessário provocar uma mudança no mindset dos
líderes.
“Ainda temos uma parcela de
gestores entendendo que para implementar ESG é preciso um grande investimento e
que esse papel cabe às grandes empresas, às companhias com orçamentos mais
robustos. Mas quando falamos de ESG, nos referimos essencialmente à cultura e
aos princípios da empresa. Os aspectos de ESG estão presentes na gestão mais
responsável de recursos, nas práticas de menor impacto no meio ambiente, nas
diversas iniciativas que impactam não só a empresa, mas também a sociedade. São
práticas que podem ser implementadas em organizações de todos os portes. É
natural que algumas ações já aconteçam dentro das empresas, mas muitas vezes
não estão alinhadas e não são acompanhadas de forma efetiva para que alcancem
um patamar que impacte mais as pessoas, as organizações e o planeta”, atesta
Andrea.
“O Comitê de ESG da Abramed tem
dois papéis. O primeiro é apoiar todos os outros comitês e a própria entidade
com essa agenda, porque não é um Comitê de ESG que viabiliza ESG para todos os
associados isoladamente. Para se conseguir fazer com que ele seja parte dos
processos de gestão das organizações que integram a Abramed, precisa estar na
pauta de todos os outros grupos. O Comitê de ESG tem o papel de influenciar os
demais e trazê-los para essa agenda’, explica Meire.
Ela destaca que o outro papel é o
de ajudar a Abramed entender o tamanho da influência que pode exercer em
relação às empresas de medicina diagnóstica. Quando a entidade compreender essa
dimensão poderá direcionar para os associados pautas no Conselho de
Administração com uma gestão mais responsável e mais sustentável para as
empresas, contribuindo com o processo de tomada de decisão das organizações.
“Penso que o Comitê de ESG tem
que de fato possuir uma estratégia para poder viabilizar ações que impactem a
todos os stakeholders das empresas de medicina diagnóstica. Certamente o viés
da comunicação interna ganhará uma força muito relevante. Tudo que fizermos
deverá considerar o olhar de criação de valor compartilhado. Sem uma
comunicação estruturada não será possível”, ressalta Meire.
“Vivemos em um mundo onde temos
acesso a um grande volume e diversidade de informações, então acredito que
compartilhar conhecimento de qualidade será mais desafiador. A produção de
conteúdos relevantes, com credibilidade e consistência demandarão um maior
empenho. Algumas das sugestões que apresentei ao comitê preveem ampliarmos a
pesquisa anual para termos uma visão mais holística dos aspectos que estão
sendo trabalhados nas companhias associadas à Abramed. São informações de
extrema importância para identificar como podemos apoiar as empresas associadas
dos mais diferentes portes, fortalecer o nosso setor e também contribuir com
nosso perfil, estreando um novo capítulo neste material de referência
setorial”, antecipa Andrea.
“Gostaria de frisar que o grupo
que participou da instituição do Comitê de ESG está com uma energia muito alta,
muito positiva. São pessoas que querem fazer a diferença setorialmente falando.
O maior ativo desse Comitê é o interesse em comum dessas pessoas e das
organizações que elas representam”, finaliza Meire.