Por Tommaso Montemurno*
A pandemia de covid-19 acelerou o processo de transformação digital na saúde, algo para o qual estávamos nos preparando e já tínhamos à disposição as tecnologias necessárias, mas que ainda sofria por algumas resistências e preconceitos. Como consequência disso, percebeu-se, de um lado, uma maior oferta de ferramentas digitais para o cuidado de nossos pacientes e, do outro, uma maior aceitação na adoção dessas ferramentas por parte deles e das estruturas sanitárias.
Precisamos destacar que a maioria das tecnologias que estão surgindo e sendo implementadas visam a melhor assistência ao ser humano. Isso envolve diagnóstico, tratamento e monitoramento remoto – uma série de ferramentas e de informações que irão colaborar com o cuidado individualizado e contribuir com a antecipação das necessidades.
Trata-se de uma mudança de paradigma: estamos passando de um modelo onde o cuidado é concentrado no atendimento à doença para um modelo focado em prevenção para garantir a saúde de cada pessoa. As novas ferramentas digitais viabilizam um maio foco no indivíduo e na sua singularidade, ao longo de toda a jornada de saúde.
A indústria também precisou se adaptar para compreender as demandas e estabelecer a sua atuação nesse novo cenário, para suportar a digitalização desse segmento.
Como representante da indústria de diagnostico, a reflexão que faço começa pela ótica de como estamos nos posicionando diante dessa mudança do sistema. Em muitos casos, a indústria traz inovações; em outros, colabora com a entrega de um elemento facilitador. Assim, o nosso papel é criar e personalizar alternativas para disponibilizar aos nossos clientes prestadores de serviços sanitários as melhores soluções em prol da nova realidade do sistema.
A indústria tem uma responsabilidade relacionada com a sustentabilidade de todo o setor. As novas tecnologias digitais nos permitem implantar soluções que aumentam a eficiência, otimizando as operações de hospitais, clínicas e demais estabelecimentos de saúde, viabilizando a disponibilidade de mais recursos e a redução dos custos de provisão de serviços. A nós cabe fornecer soluções que sejam sempre mais eficientes para que o custo final do atendimento ao cliente, aquele que garantirá a saúde do cidadão, seja o menor possível.
Quando nos referimos à responsabilidade da indústria no ecossistema de saúde, em outras palavras, falamos do nosso papel em prover soluções tecnológicas, informáticas e modelos de negócio que otimizem o uso dos nossos produtos, reduzindo o desperdício e otimizando a base de custos.
Além da sustentabilidade, há o viés do conhecimento. Na indústria, temos hoje a possibilidade de intensificar a divulgação de informações sobre os nossos produtos e das melhores práticas médicas. Durante a pandemia, tivemos uma profusão de lives de treinamentos, discussões e fóruns online; agora vivenciamos um momento em que podemos alavancar todas as tecnologias utilizadas durante a crise pandêmica, otimizando-as para entregar mais facilidade, maior eficácia e conhecimento para os nossos clientes.
Não podemos esquecer a responsabilidade na pesquisa e desenvolvimento de novas soluções e no aprimoramento das existentes. A indústria precisa estar envolvida nesse processo, tendo à disposição ferramentas de networking e de trabalho colaborativo, que permitem acelerar os processos de aprimoramento e lançamento de produtos bem como aumentar a eficácia dos departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Tudo isso nos ajudará a entregar produtos e atendimento de maior qualidade.
Muito se tem discutido, por exemplo, sobre o potencial da Web 3.0 na saúde, com os conceitos de realidade virtual e aumentada e, potencialmente do metaverso, que vêm trazendo a possibilidade de uma extensão da realidade que conseguiremos agregar informações e conexões. Com essas inovações digitais, podemos combinar dados que recriam situações teóricas na prática. Essa complexidade nos permite testar nossos produtos e nossas soluções, no que chamamos de hiper-realidade – situações que podem acontecer e que conseguimos levar ao extremo para compreender a sua previsibilidade. Com isso, certamente, temos um cenário em que somos mais eficazes nos testes dos nossos produtos.
A tecnologia está ajudando os profissionais a reduzir a carga de trabalho em atividades de menor valor agregado, liberando a capacidade do sistema de saúde para conseguir se dedicar mais ao paciente, garantindo um atendimento mais próximo, uma medicina mais humanizada, com foco acentuado nas relações humanas, com maior eficácia e rapidez.
O caminho, apesar de acelerado, não é simples e apresenta algumas barreiras que precisaremos ultrapassar.
Dentre as barreiras para a implementação do cuidado temos, principalmente, as barreiras culturais. Isso é algo que exige amadurecermos para que a tecnologia seja vista como um código, e não como um complemento da interação humana. Com ela, agilizamos e otimizamos processos que antes desviavam a atenção do foco principal, as pessoas. Além disso, liberamos, também, capacidade para que os prestadores de serviços e operadores de saúde, dediquem mais tempo às pessoas.
Soma-se a essas barreiras as necessidades de investimento tecnológico. Infelizmente, vivemos em um país desigual em muitos aspectos, inclusive no acesso à tecnologia, que é diferente entre as regiões, e precisamos lutar para derrubar isso. Não podemos ter um Brasil com velocidades diferentes de acesso à internet. Conseguiremos grande valor à população quando dermos a ela acesso tecnológico igualitário. Dessa forma, poderemos explorar o enorme potencial da saúde digital, propiciando atendimento de qualidade e humanizado em todo território, levando o cuidado às regiões mais remotas, com profissionais capacitados para atender da melhor maneira possível.
Não tenho dúvidas de que a tecnologia nos ajudará a ficarmos mais próximos dos nossos pacientes, atentando às suas exigências individuais.
Esse é o um paradoxo que a tecnologia permite: de um lado, ela padroniza o atendimento e, ao mesmo tempo, possibilita customizá-lo para cada ser humano, aprimorando técnicas para cada situação, de acordo com o histórico da pessoa, considerando sua situação física e psicológica naquele momento.
O próximo futuro nos reserva muitas oportunidades de aprimorar o serviço às pessoas, aumentando a proximidade e a interação, reduzindo os custos e potencializando o acesso a saúde. Por isso vejo a inovação digital como um grande símbolo de uma revolução humanizada do atendimento.
*Tommaso Montemurno é Country Manager da Bracco Imaging do Brasil