Mulheres sem histórico familiar para câncer de mama não estão isentas de risco

Mulheres sem histórico familiar para câncer de mama não estão isentas de risco

No mês dedicado à conscientização sobre a doença, Abramed ressalta o papel fundamental dos exames para diagnóstico precoce e melhor qualidade de vida das mulheres

Desde o início dos anos 2000, no Brasil, o mês de outubro é dedicado à conscientização da população sobre o câncer de mama. Milhares de campanhas contribuem para fortalecer a cultura da prevenção, garantindo a saúde e, principalmente, salvando vidas. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) ressalta que a prevenção está ligada a duas abordagens distintas: impedir que o câncer se desenvolva, ou seja, evitar a exposição aos fatores de risco adotando estilos de vida mais saudáveis; e detectar e tratar doenças pré-malignas ou cânceres ainda quando são assintomáticos e estão em seus estágios iniciais e, neste momento, a medicina diagnóstica tem papel fundamental no processo.

Segundo dados do “Painel Abramed 2021 – O DNA do Diagnóstico”, no ano passado, as empresas associadas à Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) realizaram cerca de 1,2 milhão de mamografias. O número equivale a 25% do total estimado de todas as mamografias realizadas pela saúde suplementar e a 15% de todas as mamografias realizadas em 2021 no país.

Estima-se que no último ano foram realizadas 8,1 milhões de mamografias no Brasil, sendo 4,6 milhões na saúde suplementar e 3,5 milhões no Sistema Único de Saúde (SUS). No âmbito da saúde suplementar, a população-alvo desses exames corresponde a cerca de 7,3 milhões de mulheres com idade acima de 50 anos – conclui-se que 64% dessa população-alvo fez o exame em 2021.

A diretora-executiva da Abramed, Milva Pagano, ressalta que todos os associados realizam campanhas e ações especiais de conscientização da importância do diagnóstico precoce – não apenas durante o Outubro Rosa – para aumentar o número de mamografias de rastreio. O entendimento de que diagnosticar pacientes precocemente salva vidas e pode reduzir consideravelmente as despesas assistenciais já está consolidado há muito tempo e é uma premissa da entidade e de seus membros. 

“Outubro já está na mente das pessoas como o mês da prevenção do câncer de mama, mas isso precisa acontecer nos outros meses. Na Abramed, por exemplo, estamos com a campanha “De peito aberto”, no qual trazemos depoimentos e dados nas redes sociais de representantes da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e do Instituto Lado a Lado pela Vida, reiterando o papel do diagnóstico na detecção precoce. Todos os anos damos bastante destaque às ações de outubro, mas reforço: a conscientização deve ocorrer durante o ano inteiro”, salienta Milva.

De acordo com a médica mastologista e coordenadora do Podcast da SBM, Rebeca Neves Heinzen, existe uma disseminação errônea de que a mamografia seria um exame responsável por causar câncer de mama, por isso muitas mulheres acreditam que, ao realizá-la para o rastreamento, estariam causando a neoplasia. Essa interpretação nada mais é do que fake news. Somado a isso, há ainda o estigma em torno da palavra “câncer”, o que muitos enxergam como uma sentença de morte, o que, segundo Rebeca, é inadmissível na atualidade: no caso do câncer de mama, há maior chance de cura quando detectado em estágio inicial.

Para entender o conhecimento, a atitude e a prática das mulheres brasileiras em relação ao câncer de mama, a SBM, em parceria com a Libbs Farmacêutica, realizou uma pesquisa que identificou como principais resultados: informações distorcidas, medo do diagnóstico, dificuldades de acesso. O levantamento, feito através de um questionário disponível na internet, mostrou que praticamente todas já ouviram falar sobre a doença, porém a maioria acredita que o histórico familiar (95,7%) é o principal fator de risco para o seu desenvolvimento.

Segundo a SBM, isso é preocupante, já que apenas 10% a 20% dos casos são hereditários ou têm história familiar próxima, ou seja, 80% não têm história familiar. Portanto, o risco pode ser subestimado nesta população, que deixa de se prevenir porque acha que está protegida. Esses e outros dados comprovam a necessidade de ampliar-se não só a conscientização sobre a doença, mas também a orientação sobre ela.

O estudo indicou que a maioria das pessoas entrevistadas (90,1%) realiza exames para a detecção do câncer de mama incentivadas pelo aconselhamento médico (69,4%), por medo de desenvolver a doença (53,2%) e devido a casos de câncer na família (34,9%). Embora tenham informado que a mamografia é o melhor exame para identificar a doença, apenas 46,2% realizaram uma vez ao ano (o mais recomendável pelos mastologistas) e 27% nunca realizaram.

Já as barreiras para as mulheres não realizarem os exames foram: dificuldade de acesso (64,9%), medo de encontrar anormalidades (54,5%), falta de conhecimento sobre as técnicas de detecção (54%), longo tempo para conseguirem uma consulta (45,6%) ou experiências negativas em relação ao tema (34,2%), entre outras.

“Essa pesquisa visou entender o atual cenário do câncer de mama no país. Tivemos o apoio de uma farmacêutica, porque obviamente ela é quem fornece os medicamentos. A metodologia utilizada foi um questionário eletrônico e, por incrível que pareça, a grande parte das respondentes ainda acredita que, se não tem ninguém na família com câncer de mama, seria isenta de risco. Isso, na realidade, é a raridade”, contextualiza Rebeca.

A médica reitera que muitas mulheres não realizam o exame porque acreditam que não têm fator de risco e acham que nunca irão desenvolver a doença, sendo necessário desmistificá-la.

“A mamografia é o exame capaz de detectar o câncer mais precoce, o qual, às vezes, é subcentimétrico, com menos de um centímetro. E isso pode aumentar a chance de cura. A neoplasia mamária quando descoberta no estágio inicial chega a taxas de quase 100% de cura. Penso que é um papel da sociedade médica, dos meios de comunicação, das empresas, trazer esse assunto à tona para que as mulheres realizem o exame tendo em vista que é o câncer mais comum na população feminina”, enfatiza Rebeca.

Fundado há 13 anos, o Instituto Lado a Lado pela Vida é a única organização social brasileira que se dedica simultaneamente às duas principais causas da mortalidade no país – o câncer e as doenças cardiovasculares –, além do intenso trabalho relacionado à saúde do homem. A diretora de Relações Institucionais e Internacionais, Fernanda Carvalho, reitera a importância do diagnóstico precoce.

“Queremos que a população busque sempre conhecer o seu corpo, conhecer o que está acontecendo com ele e nada melhor do que o diagnóstico precoce para qualquer tipo de doença e, no nosso caso, dedicamos bastante atenção ao câncer e às doenças cardiovasculares. Sobre a neoplasia mamária, a detecção precoce é muito importante, porque sabemos que não é um câncer com prevenção sob a perspectiva primária, de você evitá-lo, mas ele tem, sim, a prevenção secundária, ou seja, a possibilidade de se descobrir cedo. Quanto antes você tiver a informação de um diagnóstico correto, melhor para que possa seguir o tratamento e tenha uma sobrevida e uma qualidade de vida melhor”, fala Fernanda.

Segundo ela, o câncer de mama tem atingido mulheres mais jovens, sendo preciso atenção quanto a fatores de risco evitáveis, como obesidade e tabagismo. Além disso, Fernanda conta que muitas pacientes entendem que o autoexame é suficiente e acabam postergando a mamografia ou o ultrassom de mama, conforme a orientação clínica. O autoexame, na verdade, é mais uma ferramenta para que a pessoa se mantenha atenta aos sinais do corpo, contudo não substitui os exames médicos.

Sobre o desconforto da mamografia, que muitas mulheres alegam, Fernanda revela que é uma dor sem memória e muito breve (Pi Center). “Agora, se você imaginar que ela salva sua vida, passa bem rápido. Atualmente temos excelentes profissionais, equipamentos ultramodernos e técnicas menos invasivas. Mesmo assim, ao pensar na dor, pense que vale a pena sentir”, garante Fernanda.

“Além de falarmos da prevenção, é imprescindível ter sempre em mente a necessidade da detecção precoce do câncer de mama, orientação que serve para outras doenças também. Além do autoexame, as mulheres precisam consultar um médico regularmente e as que têm mais de 50 aos devem realizar a mamografia anualmente. Trata-se do exame mais eficaz para o diagnóstico precoce e somente com auxílio médico será possível a eficácia e êxito no tratamento. Em tempos de consultas excessivas à internet, sempre válido ressaltar que elas nunca substituirão o contato com o profissional”, reforça Milva.

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