Futuro do diagnóstico envolve expansão da genômica e uso inteligente dos dados

Futuro do diagnóstico envolve expansão da genômica e uso inteligente dos dados

Especialistas em análises clínicas revelam desafios e tendências que influenciam a sustentabilidade do setor de Saúde no Brasil

Uso inteligente dos dados, descentralização do diagnóstico e expansão da genômica estão entre as tendências que têm o potencial de trazer avanços significativos para o setor da saúde e contribuir para a sustentabilidade de todo o sistema. O aumento do volume de exames e o surgimento de novos biomarcadores, principalmente no diagnóstico do câncer, também podem ser citados.

Outra tendência importante para gerar resultados significativos é a descentralização do diagnóstico, desde que feita com segurança e seguindo os protocolos adequados. Segundo Gustavo Campana, vice-presidente da Alliança Saúde, poder realizar exames em locais mais próximos dos pacientes, como farmácias, postos de coleta e consultórios médicos, facilita o acesso aos serviços de saúde e agiliza o início do tratamento.

Essa possibilidade de expansão surgiu com a atualização da RDC 302/2005, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que trata dos requisitos técnico-sanitários para o funcionamento de laboratórios clínicos, de laboratórios de anatomia patológica e de outros serviços que executam atividades relacionadas a exames de análises clínicas (EACs) no Brasil. Essa medida exige ainda mais atenção à segurança nos procedimentos.

Segundo Campana, uma mudança de dinâmica relevante que pode ser observada é a inversão da posição do laboratório clínico em relação ao médico prescritor. “Em vez de apenas atender às solicitações dos médicos, os laboratórios podem se posicionar como fornecedores de pacientes diagnosticados, conectando-os aos especialistas adequados no momento certo. Essa mudança trará eficiência para o processo e menor tempo de atendimento, sendo significativa tanto para o setor quanto para o paciente”, considera.

Desafios

Além das tendências, há alguns desafios. No caso dos painéis integrados de biomarcadores, Carlos Eduardo Ferreira, patologista clínico do Hospital Israelita Albert Einstein e um dos líderes do Comitê Técnico de Análises Clínicas da Abramed, cita a precificação e a viabilidade de sua aplicação na medicina de precisão.

Ele ressalta que a tecnologia vem ganhando sensibilidade analítica, mas há poucos novos parâmetros sendo colocados no setor. Nesse ponto, May Chen, general manager Brasil, Canadá e Estados Unidos da Snibe, compartilha a experiência da empresa chinesa especializada em equipamentos para laboratórios clínicos e reagentes de diagnóstico in vitro

“Lançamos pelo menos dez novos parâmetros por ano, levando em consideração a demanda do mercado. Essas necessidades são identificadas por meio de pesquisas com clientes, inclusive laboratórios. Em um período de um ano e meio, os parâmetros comercializados para o mercado global cresceram de 185 para 211”, comenta May, destacando o crescimento da operação da empresa no Brasil.

Outra questão importante a ser enfrentada é a fragmentação do mercado. “Não conhecemos os desafios dos outros agentes da cadeia, os interesses são conflitantes, mas estão velados”, diz Campana. Sobre esse ponto, Alex Galoro, diretor médico do Grupo Sabin e líder do Comitê Técnico de Análises Clínicas da Abramed, lembra que, em sua época de residência, pensava que a patologia clínica perderia a importância porque se acreditava que o laboratório seria apenas um produtor de exames.

“No entanto, evoluímos para compreender a relevância do laboratório e dos especialistas em diagnóstico, que conhecem as ferramentas disponíveis para realizar diagnósticos mais precisos. Porém, no modelo atual, marcado pela desconfiança, ainda é difícil avançar porque há uma crença de que cada um está tentando enganar o outro”, diz.

Integração de dados

Um tema relevante que deve se desenvolver em curto prazo – até por pressão do setor e das fontes pagadoras – é o uso mais inteligente dos dados gerados. O valor dos laboratórios não se resume à realização dos exames, ele também está na forma como essas informações são utilizadas.

“O compartilhamento de dados entre os diferentes atores do sistema de saúde já é uma realidade e está sendo utilizado para estratificação de riscos e projeção de sinistros. A sustentabilidade do setor está relacionada ao uso racional dessas informações”, expõe Campana.

Ainda falando em tecnologia, espera-se que ela permita a escalabilidade de áreas como a genômica, em que há desafios a superar. Mas isso pode demorar um pouco, de acordo com o vice-presidente da Alliança Saúde.

Um dos principais obstáculos enfrentados pelos laboratórios clínicos é a implementação de sistemas laboratoriais (LIS, na sigla em inglês) de forma eficiente. Anteriormente, os processos de cadastro e registro de informações eram manuais, mas hoje em dia se depende cada vez mais da tecnologia da informação. “O uso de novos devices e a conectividade com todo o sistema são fundamentais para garantir a segurança e a confiabilidade dos processos”, diz Ferreira.

Outro desafio é progredir com a padronização e a estruturação dos dados utilizando o LOINC, sistema de código universal para identificar informações clínicas em registros eletrônicos. “Muitos laboratórios estão trabalhando nisso, o que permite a tomada de decisões mais rápida tanto no aspecto técnico-operacional quanto no gerencial. Essa integração de dados veio para ficar”, ressalta o patologista clínico do Hospital Albert Einstein.

Ainda sobre estruturação de dados, ele considera que áreas como Anatomia Patológica e Radiologia estão avançando nesse campo. O uso de Inteligência Artificial (IA) já é realidade em alguns laboratórios, como no Einstein, contribuindo para diagnósticos mais precisos. Segundo Ferreira, a utilização prática dos dados está apenas começando, mas já existem modelos em funcionamento que são extremamente úteis nas tomadas de decisões médicas.

Outra tendência na área de saúde que traz benefícios também do ponto de vista econômico, segundo Campana, é a verticalização virtual, que se refere à integração de diferentes serviços e recursos de saúde em uma plataforma online única. Isso pode incluir consultas médicas virtuais, agendamento de consultas, acesso a registros médicos eletrônicos, pedidos de exames laboratoriais, entrega de medicamentos, acompanhamento de saúde, entre outros. No entanto, ele chamou a atenção para o fato de que os médicos precisam fazer parte disso.

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