Desafios na saúde suplementar afetam sustentabilidade de toda a cadeia de saúde

Desafios na saúde suplementar afetam sustentabilidade de toda a cadeia de saúde

É fundamental a utilização responsável dos recursos e a promoção de um diálogo constante entre todos os envolvidos. Tema foi debatido em Reunião Mensal de Associados da Abramed

De 2013 a 2023, o número de beneficiários com idades entre 20 e 39 anos diminuiu 7,6%, enquanto o de pessoas com mais de 60 anos aumentou em 32,6%, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Além disso, tem se tornado cada vez mais comum o reembolso assistido, prática ilegal que leva a operadora de plano de saúde a pagar por procedimentos que, muitas vezes, o beneficiário sequer realizou.

Vale lembrar, ainda, que os resultados das operadoras de saúde de 2022 foram os piores dos últimos 20 anos, de acordo com a ANS. Uma reportagem publicada pelo jornal O Globo mostrou que o prejuízo operacional acumulado em 12 meses foi de R$ 11,5 bilhões. Essa crise na saúde suplementar afeta a sustentabilidade de todo o sistema e precisa ser analisada com a devida atenção. 

“A Abramed tem plena consciência de que suas associadas dependem do setor privado, por isso acompanhamos de maneira muito próxima e consciente todos os movimentos que acontecem e que podem impactar essas empresas”, disse Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, durante a Reunião Mensal de Associado da Abramed (RMA) de junho, realizada em São Paulo.

Para assegurar o equilíbrio econômico e financeiro dos planos de saúde, é fundamental adotar uma abordagem responsável na utilização dos recursos disponíveis, além de promover um diálogo constante entre as operadoras, a ANS, as empresas contratantes, os prestadores de serviços e os representantes dos beneficiários.

“Há muito tempo estamos falando da insustentabilidade do setor e entendemos que os prestadores de saúde precisam se unir para fazer as mudanças. Quando falamos de combate aos desperdícios e às fraudes, precisamos de ações práticas para que o impacto causado nas operadoras não afete toda a cadeia”, comentou Aline Araujo Giovannetti, diretora de negócios na Dasa.

Segundo ela, a fonte pagadora acaba negando alguns atendimentos que não julga pertinentes, sem uma análise profunda, mas é preciso entender que o pedido médico é mandatório. “Não adianta adotar maneiras simplistas de controlar o sinistro e repassar para o prestador uma responsabilidade que não é apenas dele. Precisamos trazer outras ferramentas, estar abertos a novos modelos”, expôs.

A falta de recursos também se reflete no investimento em novas tecnologias. De acordo com Patricia Frossard, country manager Brazil da Philips, não adianta desenvolver um equipamento extremamente tecnológico se ele não for absorvido pelo mercado nas atuais condições. “Por isso, procuramos apoiar o setor oferecendo soluções que ajudem as empresas a passarem pelas dificuldades e se adequarem à nova demanda, como softwares que contribuem para a conectividade, a integração e o aumento da produtividade. Equipamentos voltados para telemedicina e desospitalização também colaboram na redução de custos”, compartilhou a executiva.

O Brasil voltou para o mapa da indústria global da Philips porque a economia está se apresentando melhor que a de outros países. No entanto, é necessário mais, segundo Patricia. “Nossa complexidade tributária precisa ser melhorada. Se a reforma tributária fizer isso sem elevar os custos, conseguiremos aumentar os negócios no Brasil, trazer inovação para o país e oferecer melhores preços.”

Complexo da Saúde 

No âmbito da produção e inovação, o governo federal retomou recentemente as atividades do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, que tem medidas para reduzir a dependência do país e assegurar o acesso universal à saúde. A meta do governo federal, segundo a ministra da Saúde, Nísia Trindade, é produzir 70% das necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS) do país em até dez anos.

Segundo Patricia, é importante o retorno desse assunto com a ministra, mas a meta é bastante ambiciosa. “Parte do orçamento da pasta pode ser direcionada para financiar a inovação no Brasil, mas também é importante a participação estrangeira. Não podemos nos fechar para a troca com outros países, porque corremos o risco de ficar de fora do cenário de inovação mundial. No entanto, outros fatores precisam contribuir para isso, ou seja, a reforma tributária e a da previdência, além da desoneração de folha, são agendas que devem caminhar com as demais. Precisamos de um projeto de Estado e não de governo”, disse. 

O retorno a essa pauta reafirma o que o governo federal valoriza: a industrialização e a nacionalização, como apresentou o jornalista Fábio Zambeli, vice-presidente executivo do Ágora, durante a RMA. 

Em abril, o governo federal criou o Grupo Executivo do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Geceis), para promover articulação governamental e formular medidas que fortaleçam a produção e a inovação no país na área da saúde. O Geceis é parte de um programa de investimentos voltados à inovação, tecnologia e desenvolvimento regional no sentido de viabilizar a expansão da produção nacional.

O vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, tem estimulado o desenvolvimento do Complexo da Saúde, como destacou Claudia Cohn, integrante do Conselho de Administração da Abramed. “A tendência agora é uma atuação mais prática a partir da implantação de um cronograma”, disse.

Atualmente, o setor da saúde representa 10% do Produto Interno Bruto, garante a geração de 25 milhões de empregos diretos e indiretos e responde por um terço das pesquisas científicas no país.

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