A importância dos gêmeos digitais na personalização da medicina e no futuro da saúde

A importância dos gêmeos digitais na personalização da medicina e no futuro da saúde

Colaboração entre países, interoperabilidade, empoderamento e experiência do paciente foram temas abordados por Tobias Zobel, palestrante internacional do FILIS 2023

É fato que o perfil da população mudará em breve e que até 2050 deverá chegar a 10 bilhões. Como consequência desse maior número de pessoas, haverá também um aumento da demanda e saúde de alta qualidade. Por outro lado, ao mesmo tempo, o mundo terá um déficit de 18 milhões de profissionais de saúde até 2030. É exatamente nesse contexto que a automação e a inteligência artificial (IA) tornam-se essenciais para o setor da saúde, sendo inseridas no diagnóstico e no tratamento.

Segundo Tobias Zobel, diretor do Digital Health Innovation Platform (d.hip) e embaixador do Medical Valley – um dos complexos mais ricos para engenharia aplicada à medicina no mundo, localizado na região norte do estado alemão da Bavária -, a automação aumentará continuamente por meio de robôs virtuais e físicos baseados em IA para, desta forma, apoiar os profissionais de saúde e, em última instâncias, os pacientes e indivíduos saudáveis. O executivo foi um dos palestrantes internacionais que participou do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), no dia 31 de agosto, e falou ainda sobre os desafios na saúde no Brasil e na Alemanha e como os países podem colaborar mutuamente para solucioná-los.

Embora na d.hip, que consiste em uma aliança de inovação entre pesquisa industrial, clínica e tecnológica, existam, por exemplo, diversos projetos, que incluem data center de saúde digital e os próprios gêmeos digitais, ainda há muito o que avançar. Também é notável a necessidade de engajar as pessoas na IA. 

“Não sabemos o que vem pela frente, apenas que o resultado será bom. Mas, por hora, o que podemos dizer é que estamos em uma espécie de área cinza e precisamos definir o máximo de padrões possível. Nas legislações existem tópicos que ainda não foram contemplados, é muito parecido aqui no Brasil, onde existem projetos que precisam ser considerados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Governo. É o caso da proteção de dados, que apesar de ser importante, tem o outro lado da equação no sentido do quanto o dado beneficia o diagnóstico? O maior desafio que enfrentamos hoje na Alemanha e que, finalmente, estamos discutindo, está relacionado à identificação dos pacientes”, complementa Zobel.

Gêmeos digitais 

Com relação ao gêmeo digital de saúde, modelo baseado em tecnologia que vincula o mundo real ao digital para tornar os dados em percepções acionáveis, o especialista explicou que existem muitas definições.  Mas, salientou que o digital patient twin aprende e evolui constantemente com uma pessoa para evitar tanto que ela fique doente ou para ajudá-la a recuperar sua condição de saúde o mais rápido possível quando adoecer.

A prevenção, nesse caminho de um gêmeo digital pessoal, é um dos tópicos mais importantes, mas com ela vem o empoderamento do paciente. É preciso garantir que eles compreendam seu estado de saúde e o quanto são responsáveis por ela. Atualmente o princípio está em comparar pacientes com a base toda de dados, identificar semelhanças e diferenças. Porém, a ideia é dar um passo além, coletando dados anteriormente de quando ela ainda é saudável e em seguida olhar para a avaliação do estado de saúde, o risco e criar um plano de prevenção personalizada para que eles possam mudar seu comportamento e detectar precocemente doenças. Trata-se de informações simples, que podem ser extraídas, sem nenhum contato com o paciente. 

“Os dados também podem servir para melhor percepção da situação de saúde. O próprio paciente pode ajudar a fazer monitoramento, olhando para tudo o que impacta em suas vidas. Por isso, os wearables são tão essenciais. E quando chegamos finalmente na etapa da consulta, já conseguimos levar os dados clínicos fornecidos em etapas anteriores em relatório clínico completo, sem perda de nenhuma informação relevante para o diagnóstico e terapia. E quem tem esse dado é o próprio paciente. Um twin digital holístico é o que permite praticar medicina personalizada”, reforça.  

Para Zobel é preciso implementar o máximo de inteligência artificial possível. Exatamente por todas essas questões, ele reforçou a importância da interoperabilidade e da criação de padrões. Porém, enfatizou que, essa, não deve ser uma responsabilidade do Governo.  

“Encabeçar a solução desse desafio é um papel da indústria. A Abramed e outras associações estão fazendo um trabalho excelente neste sentido, e não vemos isso na Alemanha, por exemplo. Mas, se não tivermos esse avanço, não poderemos tirar proveito dos benefícios da IA”, atesta.

Além da criação de um modelo internacional de IA e de parâmetros que norteiam todos os processos desde o processamento até a anonimização, Zobel falou de desafios como integração, normalização e manutenção de dados; implementação nos fluxos de trabalho; acesso dos pacientes aos dados e direito de decidir sobre o uso; considerações regulatórias e interação com outras plataformas e repositórios. Esses, segundo ele, são os pontos que, inclusive, deverão ser olhados pela Anvisa para a regulação desses aspectos. 

“Isso tudo é um grande desafio. Temos que colocar esses pontos em um fluxo de trabalho real nos hospitais, que estão 20 anos atrasados. Em nosso hospital, por exemplo, temos 700 sistemas de TI para extrair dados clínicos de pacientes. E ainda precisamos garantir a proteção e a gestão da informação, bem como o paciente tem que dar consentimento sobre como podemos usar os dados. Esse é um aspecto prévio e primordial nessa discussão toda”, finaliza.

Associe-se Abramed

Assine nossa Newsletter