Soluções tecnológicas devem promover eficiência, melhorar os resultados ao paciente e ampliar o acesso
Encerrando a programação da 7ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), o debate “Novas tecnologias e seus impactos na Saúde: o que esperar do futuro?”, reuniu Eliezer Silva, diretor do Sistema de Saúde Einstein, do Hospital Israelita Albert Einstein, que atuou como moderador, os debatedores Ana Estela Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde; Jeane Tsutsui, CEO do Grupo Fleury; Gustavo Fernandes, diretor-geral de Oncologia da Dasa; e Jacson Barros, Healthcare Business Development Manager da Amazon.
A decisão sobre no que investir, segundo Silva é uma das primeiras questões quando se fala em novas tecnologias. Esses novos processos estão cada vez mais presentes no dia a dia dos gestores. Então, como decidir em qual inovação aplicar o dinheiro ou qual o setor que vai receber o investimento para a incorporação tecnológica mais eficiente?
Fernandes explicou que ação, tecnologia e pesquisa estão bastante misturadas na saúde, por isso definir onde investir requer uma análise consciente do que trará impacto positivo a mais pessoas.
“Em um país de dimensões continentais como o nosso, na minha área, em que mais de 500 mil novos casos de câncer são diagnosticados por ano e mais de 200 mil mortes são registradas anualmente, vive-se uma verdadeira pandemia. Procuro definir por soluções que possam ajudar o maior número de pacientes e que sejam mais eficientes para uma grande parcela deles”, ressaltou o oncologista, dizendo que a dúvida e a pressão sempre estarão presentes quando se toma esse tipo de decisão, pois há novas tecnologias surgindo a todo o momento e a incorporação delas nunca acontece em um processo tão rápido quanto elas surgem.
Retorno de investimento
Jeane ponderou que no momento de custo de capital alto que todo mundo vive, apesar de o cenário macro de perspectivas ser positivo para a redução de juros, de maneira geral, uma empresa de capital aberto é cobrada o tempo inteiro pelo retorno do investimento feito. Por isso, três aspectos precisam ser considerados ao se investir em tecnologia: parâmetros do ganho de produtividade; quais os benefícios que essa inovação pode trazer ao paciente, ou seja, evidências de que determinada incorporação vá trazer benefício real ao usuário; e se essa solução vai ampliar o acesso à saúde, seja no Sistema Únicos de Saúde (SUS), seja na saúde privada, ou na suplementar.
“Isso deve ser muito bem colocado, pois há a tendência de envelhecimento populacional, de maior demanda por serviços de saúde, e é preciso ponderar como vamos utilizar toda essa inovação que está surgindo. Não são decisões simples, pois o momento é de equilibrar o curto, médio e longos prazos, o que é fundamental, sem deixar de lado o foco no cuidado ao paciente”, salientou Jeane.
Opinião reiterada por Barros, que acredita ser importante avaliar os resultados que cada inovação pode trazer, de fato, ao seu público e o valor dessa nova tecnologia para aquilo que se propõe a entregar. Para tanto, ele reforça ser essencial a análise de indicadores e dos fatores de sucesso de cada solução.
“O investimento precisa ser harmônico e ter um propósito e não somente porque é novidade no mercado”, alerta Barros.
Para Ana Estela Haddad, na saúde pública, a primeira questão avaliada é o custo-benefício da inovação, em termos de cobertura populacional, do valor que ela vai gerar e a escalabilidade do uso da nova solução. Porém, ainda há um aspecto prévio que é feito que é a avaliação dos riscos que a tecnologia tem ou pode trazer ao setor.
“O Estado tem um papel importante em fomentar a inovação para que ela depois possa ser incorporada pela sociedade. Por isso, é importante dosar e equilibrar todos esses aspectos e não somente arrojar em novas tecnologias”, destacou a secretária.
Inclusão tecnológica
Sobre a questão apontada por Silva, como as diferentes tecnologias vão auxiliar o sistema de saúde em acolher o paciente, Jeane ponderou que a diferencialidade que há no país deixa claro que o fato das pessoas terem acesso a uma conexão de internet não quer dizer que ela vai conseguir usar determinada tecnologia. O processo de inclusão às novas soluções é necessário para que o cuidado possa ser feito a partir de inovações tecnológicas.
“É uma forma de contribuir para a utilização adequada dos recursos. Vimos isso com a telemedicina que levamos à favela, que com orientação usa-se melhor o potencial da tecnologia e pode-se, inclusive, fazer a estratificação de risco e contribuir para a sustentabilidade do setor”, explicou a CEO do Grupo Fleury.
Os ganhos sobre as novas soluções passam pelos resultados que a inteligência artificial (IA) pode trazer e o impacto que ela terá na vida das pessoas. Barros exemplifica que essa tecnologia desempenha um papel importante na distribuição de informações. Além disso, as discussões sobre a IA generativa prometem grandes transformações no setor, trazendo novas expectativas para a área da saúde.
“Com oportunidades na casa de trilhões de dólares, segundo o Fórum Econômico de Saúde, não há como ignorar seu impacto. Ela poderá ser importante na decisão clínica, na previsão de riscos de surtos, na medicina personalizada e no desenvolvimento de novos medicamentos”, exemplifica, destacando seu uso, inclusive, na segurança do paciente, pois aumentam as chances de prever eventos adversos.
Olhar crítico
Ao fim do debate, Ana Estela Haddad disse que a tecnologia sempre esteve presente na saúde e que é preciso ter um olhar analítico e crítico sobre as novas soluções.
“Não podemos incorporar acriticamente o aspecto das tecnologias. É necessário aprofundar, conhecer e entender como elas funcionam e como podemos moldá-las para serem usadas a favor do paciente e do que queremos promover. A inovação deve ser vista como um meio para melhorar a rede assistencial e potencializar o serviço prestado e, quando preciso, refazer os processos. Temos, então, a oportunidade de fazer diferente. Vamos aproveitar e fazer melhor”, concluiu a secretária.