A adoção do padrão FHIR é uma estratégia para impulsionar a mudança, permitindo a interoperabilidade de dados
Enquanto outros setores têm adotado tecnologias digitais rapidamente, a área da saúde enfrenta desafios em relação a essa transformação. A Tecnologia da Informação (TI) continua em estágios iniciais, e a utilização de padrões para integração entre negócios e usuários não está bem estabelecida. Além disso, existem outros obstáculos, como questões culturais, regulamentações e resistência às mudanças. A análise foi feita por Guilherme Zwicker, presidente do Instituto HL7 Brasil, durante palestra na Reunião Mensal de Associados da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), em setembro.
A questão sobre se o digital é realmente benéfico para a saúde pode parecer absurda agora, mas não era no passado. O setor está em constante evolução, e é importante considerar como causar um impacto positivo. Segundo Zwicker, é preciso gerenciar melhor os registros de saúde, empoderar o usuário e dar acesso ao dono do dado, que é o paciente. “No entanto, esse é um desafio complexo devido a intermediários e às dificuldades técnicas que as empresas enfrentam ao entregar isso”, expôs.
Também é preciso tornar mais eficientes as práticas de trabalho existentes e os fluxos de pacientes, bem como melhorar o processo de tomada de decisão sobre cuidados e criar novas maneiras de conectar prestadores com aqueles que requerem assistência. “Tudo isso é fácil de fazer mal, difícil de fazer bem e ameaça o modelo de negócios existente de alguém. Por isso há uma grande resistência para que essas modificações aconteçam de fato”, destacou Zwicker.
Para trazer a internet para a área de saúde, o Instituto HL7 Brasil desenvolveu o FHIR (Fast Healthcare Interoperability Resources), permitindo a troca de informações de forma mais eficiente e colaborando para a interoperabilidade dos dados. O FHIR é um padrão aberto e de domínio público que descreve como as informações de saúde podem ser trocadas por meio de interfaces de programação de aplicativos (APIs). Isso possibilita maior conectividade entre prestadores de cuidados de saúde e pacientes.
Um exemplo de sucesso na implementação do FHIR é o Projeto Argonauta, do governo dos Estados Unidos. Em 2011, o custo total de aquisição de uma conexão à prontuário de saúde pessoal (PHR) era aproximadamente de US$ 100.000,00, incluindo despesas relacionadas ao desenvolvimento, aspectos legais, marketing, testes, retrabalhos e manutenção.
O governo dos Estados Unidos estava interessado em estabelecer um acesso padronizado aos prontuários dos pacientes e propôs um projeto colaborativo com o setor privado para desenvolver uma API padrão que permitisse aos pacientes acessarem seus registros de saúde. Os fornecedores de saúde optaram pelo FHIR, que foi renomeado para FHIR US-Core.
Hoje em dia, o custo desse acesso aos prontuários de saúde praticamente foi reduzido a zero, porque a conexão PHR por meio da FHIR US-Core se tornou uma commodity, com login de acesso padronizado nos sites. As únicas despesas estão relacionadas à gestão interna de projetos, não sendo mais necessário destinar recursos à adaptação de conceitos diversos para integrar sistemas heterogêneos.
O FHIR tem sido adotado em todo o mundo em projetos de saúde. Nos Estados Unidos, é obrigatório para instituições que atuam no setor, enquanto no Canadá, na Austrália, na Europa, na América Latina e na África, também tem ganhado destaque em diversos projetos de saúde pública e cuidados de saúde.
O HL7 abriu mão da licença de uso restrito do FHIR, o que significa que é permitido copiar, modificar, distribuir e utilizar, inclusive para fins comerciais, sem a necessidade de obter permissão. “É uma das licenças mais abertas disponíveis”, reforçou Zwicker.
Qualquer pessoa ou empresa pode participar da Cultura FHIR. É uma construção comunitária, realizada por ciclos e demonstrações contínuas. Para fomentar a colaboração e a inovação na área da saúde, são realizados Connectathons, reuniões presenciais, teleconferências e fóruns.
Diferenças entre FHIR e LOINC
O FHIR é um padrão de interoperabilidade de saúde que aborda a troca de uma ampla variedade de informações de saúde eletrônicas, enquanto o LOINC (Logical Observation Identifiers, Names and Codes) é uma terminologia de codificação focada na padronização de observações clínicas e resultados laboratoriais. Ambos desempenham papéis importantes no ecossistema de saúde digital, mas têm finalidades diferentes. Frequentemente, são usados em conjunto para garantir a interoperabilidade e a padronização dos dados de saúde.