Debate sobre desafios, perspectivas e inovação em interoperabilidade encerrou programação do 8º FILIS

Debate sobre desafios, perspectivas e inovação em interoperabilidade encerrou programação do 8º FILIS

O painel destacou a importância da tecnologia e da colaboração público-privada na construção de um sistema de saúde mais eficiente e sustentável.

4 de setembro de 2024 – O último painel do 8º FILIS tratou do tema “Interoperabilidade na Saúde: Desafios, Perspectivas e Inovações”, com a moderação de Eliézer Silva, membro do Conselho de Administração da Abramed e diretor do Sistema de Saúde no Einstein. Participaram Adriana Costa, diretora-geral da Siemens Healthineers Brasil; Ana Estela Haddad, secretária de Saúde Digital do Ministério da Saúde; Marina Viana, diretora-executiva Brasil da GE HealthCare; e Giovanni Guido Cerri, presidente do Conselho Diretor do InRad-HCFMUSP e Coordenador da Comissão de Inovação do HCFMUSP – InovaHC.

Eliézer começou com uma frase impactante. “Um membro do Comitê Digital do Einstein disse uma vez que quando morremos somos doadores de órgãos e enquanto vivos somos doadores de dados. Ambas as situações podem salvar vidas. A doação de órgãos por motivos óbvios, mas aos sermos capazes de reconhecer os dados e as variantes que determinam a saúde da população e de um indivíduo, também poderemos salvar vidas.”

E provocou os participantes: “por que o Spotify me conhece mais do que o meu médico?”. Marina iniciou respondendo que o Spotify se destaca pela integração dos dados, combinando Internet das Coisas (IoT) com inteligência artificial (IA). A IA identifica padrões nos gostos musicais, enquanto a IoT integra dados de diferentes fontes para recomendar músicas alinhadas com esses padrões. “No entanto, na área da saúde, enfrentamos a limitação de não ter uma integração semelhante entre a IoT e a IA. Isso resulta em menos informações disponíveis para os médicos comparado ao que o Spotify oferece. O que falta é a interoperabilidade, e é por isso que estamos aqui para discutir e desenvolver novas soluções para melhorar o setor”, expôs.

Para Ana Estela, não há dúvida de que estamos vivendo a era da dataficação da vida, uma realidade presente em muitos aspectos do cotidiano. Por um lado, a capacidade de interoperar os dados de saúde, algo que estamos cada vez mais próximos de alcançar, permite garantir a continuidade do cuidado médico. Isso significa que qualquer profissional de saúde que nos atenda, em qualquer ponto de atendimento, terá acesso aos nossos dados de forma integrada, o que representa um uso positivo dessa dataficação.

No entanto, ela apontou ser crucial manter uma análise crítica desse fenômeno. “Plataformas como Spotify e YouTube, que utilizamos de maneira quase automática, muitas vezes conhecem mais sobre nós do que percebemos conscientemente. Precisamos, então, refletir sobre a dataficação também nesses aspectos, para que possamos construir uma arquitetura de saúde pública virtuosa e orientada para o benefício do paciente, evitando que outros interesses, que também permeiam o setor de saúde, se sobreponham”, disse.

Complementando, Adriana ressaltou ser fundamental que continuemos a refletir sobre o propósito por trás do desenvolvimento da tecnologia e a importância da aceleração da integração dos dados. “Concordo plenamente que o paciente deve ser sempre o foco principal, para que a interoperabilidade e conectividade tragam benefícios tangíveis, priorizando-o acima de tudo. Isso também resultará em melhorias na cadeia de valor e na eficiência do sistema como um todo”, expôs.

Por sua vez, Cerri comentou que a interoperabilidade é uma necessidade coletiva. “O grande desafio que enfrentamos hoje, tanto no Brasil quanto no mundo, é a sustentabilidade. Como podemos oferecer uma saúde de qualidade, garantir acesso para todos e reduzir as desigualdades de forma sustentável? Acredito que a interoperabilidade é um caminho inevitável para atingirmos essas metas ambiciosas.”

E, nesse processo, a tecnologia tem um papel vital, especialmente em um país como o Brasil, onde a quantidade de dados de saúde gerados é imensa. Gerenciar e integrar trilhões de dados é uma missão desafiadora, mas essencial para a construção de um sistema mais eficaz e equitativo.

Cases práticos

Na Siemens Healthineers, a interoperabilidade e a conectividade de dados são abordadas há mais de 12 anos, com iniciativas como a plataforma eHealth, desenvolvida na Áustria, que já interconecta setores público e privado na região. A empresa implementa projetos semelhantes no Brasil e na América Latina, sempre adaptando-se à realidade local.

“A colaboração entre setores público e privado é vista como essencial para enfrentar desafios globais, como o acesso limitado à saúde de qualidade e a necessidade de uma cadeia de saúde mais sustentável. A interoperabilidade é crucial para acompanhar o paciente em todas as etapas, desde a prevenção até os desfechos, promovendo uma transformação cultural e tecnológica no setor”, disse Adriana.

Em linha com alguns dos pontos acima, a GE HealthCare está focada na próxima etapa da jornada de integração, que envolve expandir a conectividade para diversas regiões do país. “A nossa grande missão é assegurar primeiro a parte básica, que é ter um equipamento conectado e funcionando. Há mais de 20 anos temos trabalhado nisso”, expôs Marina.

O próximo passo é garantir que as soluções da GE HealthCare sejam compatíveis com as de outras empresas, como Siemens e Philips, evitando monopólios. “A padronização da linguagem entre empresas, hospitais e clínicas é fundamental, e a GE HealthCare busca criar novas alianças com startups, especialmente no Brasil, que é um dos maiores polos de startups do mundo”, acrescentou.

Já o InovaHC, voltado para inovação e empreendedorismo, tem focado em políticas públicas relevantes, como a saúde digital, em colaboração com entidades como o governo britânico e o Ministério da Saúde. Durante a pandemia, desenvolveu a plataforma de inteligência artificial RadVid-19 para ajudar no diagnóstico da Covid-19, em parceria com várias empresas.

Também criou o primeiro laboratório de IA na saúde com a Siemens, e hoje tem parceria também com Philips e GE HealthCare. Reconhecendo a importância da conectividade, o InovaHC trabalhou no projeto 5G para a saúde e, agora, prioriza a interoperabilidade do sistema, com inspiração em casos de sucesso do sistema bancário e da Estônia.

“Com base nessa experiência, desenhamos um projeto viável para compartilhar dados. Em vez de criar uma plataforma centralizada com trilhões de dados, seguimos o espírito da RNDS, permitindo que cada instituição mantenha seus próprios dados, mas de forma que possam ser compartilhados. Nosso objetivo agora é propor um modelo de interoperabilidade para o sistema de saúde, que possa ser discutido e implementado tanto no setor público quanto no privado”, explicou Cerri.

Como case prático, Ana Estela falou sobre a cooperação técnica entre o Ministério da Saúde e a Abramed para padronização dos dados de exames de notificação compulsória. Ela ressaltou que o Brasil tomou uma decisão muito corajosa e vem perseguindo a interoperabilidade, embora enfrente desafios, como a fragmentação. “Temos muita informação, mas precisamos interoperar esses sistemas para que possamos de forma coletiva transformar os dados que possuem capacidade de analítica em predições, tanto para o atendimento clínico quanto para prever pandemias e acidentes climáticos. Se fazermos isso através de uma parceria público-privada, integrando toda a população em uma perspectiva igualitária, poderemos dar os passos necessários sem deixar ninguém para trás”, salientou.

O debate também ressaltou a necessidade de capacitação profissional para acompanhar as transformações digitais e a construção de políticas públicas eficazes, enfatizando que a inovação na gestão e a colaboração entre diferentes atores são essenciais para uma saúde mais eficiente e sustentável.

Encerramento

Encerrando o 8º FILIS, Lídia Abdalla, CEO do Grupo Sabin e vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed, fez o discurso final, destacando que o evento abordou temas essenciais para o futuro da medicina diagnóstica, incluindo a integração da cadeia de valor para otimização de processos, a adaptação às mudanças climáticas e seus impactos na saúde, e a importância da interoperabilidade global.

“O FILIS não é apenas um encontro de ideias, mas uma oportunidade valiosa para propor soluções reais, fomentar parcerias público-privadas, apoiar iniciativas de responsabilidade social e ambiental, e impulsionar inovações que transformarão o futuro da saúde, como vimos hoje”, encerrou Lídia.

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