Uma das
principais demandas da população, o setor da Saúde começa o novo ano com
grandes expectativas.
O Brasil
vem de uma das maiores crises de sua história. As turbulências não ficaram
totalmente para trás, mas sinais de recuperação e estabilidade, mesmo que tímidos,
já podem ser vislumbrados. As reformas têm caminhado em Brasília, a inflação
está sob controle e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) registrou no
país um discreto aumento do número de beneficiários de planos de assistência
médica, de 0,1% (outubro/2019). “Porém, ainda existe a desconfiança acerca do
ritmo de crescimento, mesmo diante de uma retomada lenta e gradual da atividade
econômica”, comenta Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da
Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed). Mas a conjuntura que
se apresenta já indica que 2020 será o ano da retomada, com reflexo positivo
para o setor de Saúde? Para Sérgio Rocha, presidente da Associação Brasileira
de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde (Abraidi), a Associação
projeta 2020 com otimismo. “Vemos um país que se movimenta novamente para
frente e enxergamos que a economia começa a mostrar reações positivas, o que
nos faz pensar em resultados melhores em nossa área”, sublinha. Confira a
seguir, na visão de diferentes lideranças e especialistas da Saúde, quais são
as tendências e os grandes desafios do setor para o ano que se inicia.
MEDICINA DIAGNÓSTICA
O mercado
de medicina diagnóstica é um dos que mais evolui e inova a cada ano. O avanço
de tecnologias permite que os exames de diagnóstico sejam realizados em grande
escala, em menor tempo, com melhor qualidade e precisão. Este segmento
movimenta entre R$ 42 e R$ 43,7 bilhões por ano. E as tendências apontam para
um cenário de desenvolvimento, com o surgimento de diversas healthtechs focadas
em soluções nos diversos segmentos que permeiam os cuidados do paciente. Mas o
país está atrasado quando a gente fala em incorporação tecnológica e uso de
alta tecnologia. Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed
(Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica).
LGPD
Em 2020,
precisamos falar abertamente em inserção de novas tecnologias, com o máximo de
transparência. Este, em nosso entendimento, é o principal assunto. O governo
precisa esclarecer melhor o que quer fazer na saúde e de que forma. Ser mais
transparente em suas possíveis ações para que haja previsibilidade e
planejamento. Outro assunto é a Lei Geral de Proteção de Dados, sobre a qual
nada está claro ainda. Há certa dificuldade de entendimento no setor, uma vez
que, além da LGPD, há legislações sanitárias que também lidam com dados dos
pacientes e tudo isso precisa ser bem esclarecido. Sérgio Rocha, presidente da
Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde
(Abraidi).
SAÚDE 5.0
Acredito
que a Saúde no Brasil tem evoluído muito nos últimos anos com a chegada de
novas tecnologias, como soluções paperless, telemedicina, inteligência
artificial, IoTs, wearables e a própria medicina de precisão, que possibilita
tratar o paciente de modo personalizado através de estudo genômico. Um dos
desafios já em discussão da Saúde 5.0 é manter o paciente como o foco principal
do processo contando com a otimização no atendimento e tratamento por meio da
automação desta jornada, mas ainda assim, proporcionando um cuidado humanizado.
Andréa Rangel, CEO da Associação Brasileira CIO Saúde (ABCIS).
ATENÇÃO PRIMÁRIA
Muitos não
entenderam quando começamos dizendo que iríamos reorganizar o sistema partindo
da atenção primária. No ato mais primário da atenção [a vacinação], vimos que
os índices caíram. Então iniciamos um movimento para recuperar um dos orgulhos
do SUS: o programa nacional de imunização. Já o Médicos pelo Brasil é um
programa em que os critérios não serão mais políticos. Uma série de indicadores
apontarão quais unidades e cidades precisam de profissionais. Vamos colocar
médico contratado, com carteira assinada, ganhando bem, capacitado em atenção
primária. Luiz H. Mandetta, ministro da Saúde, em entrevista para a imprensa no
final de 2019.
SUSTENTABILIDADE DO SISTEMA
Uma das
maiores expectativas do setor para este ano é a retomada no crescimento da
economia. Acreditamos que os impactos serão positivos para a Saúde no que diz
respeito à geração de empregos e ao aumento de beneficiários dos planos de
saúde, o que reflete em um maior acesso à saúde privada. Já um dos grandes
desafios é a busca pela redução de custos e maior sustentabilidade do sistema.
Muitos investimentos estão sendo feitos por nossos hospitais, como modernização
de sistemas, melhoria de processos, uso de big data, inteligência artificial,
entre outros. Marco Aurélio Ferreira, diretor-executivo da Associação Nacional
de Hospitais Privados (Anahp).
EXPECTATIVA DA SOCIEDADE
Dentre os
principais desafios estão as definições de melhores políticas públicas, que
sejam capazes de atender os direitos e as expectativas da sociedade e o
equilíbrio financeiro do setor para que sejamos capazes de manter e melhorar a
estrutura e também adquirir novas tecnologias. Quanto aos assuntos mais
abordados neste ano, estão o desenvolvimento e a aquisição de novas drogas; a
ampliação do controle e da rastreabilidade dos medicamentos; e a aquisição de
novas tecnologias para o tratamento de doenças. Paulo Cesar Maia,
presidente-executivo da Associação Brasileira dos Distribuidores de
Medicamentos Especializados, Excepcionais e Hospitalares (Abradimex).
TEMPO DE RECUPERAÇÃO
As
perspectivas são boas. Vivemos um período consistente de recuperação econômica,
tendo no ano de 2019 PIB positivo e com previsões melhores para 2020. Com a
economia aquecida, a expectativa é que a geração de emprego ganhe fôlego e isso
reflita também no número de vidas na saúde suplementar. Outro cenário de
grandes perspectivas é o de fusões e aquisições, que a cada ano ganha destaque.
Apenas no ano passado foram registradas 80 operações do ramo no setor Saúde,
melhor ano desde 2000, com um número 50% maior que no ano anterior. Breno de
Figueiredo Monteiro, Presidente da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) e
da Federação Nacional dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde (Fenaess).
MELHOR CUSTO BENEFÍCIO
A
perspectiva é dar prosseguimento ao engajamento das entidades de ensino no
projeto de integridade na formação dos profissionais de saúde e médicos.
Existem desafios no setor, como a escassez de recursos, seja no público ou
privado, obrigando a melhoria da gestão através da formação e informação dos
gestores em todos os níveis, por meio da digitalização dos processos – de forma
confiável -, visando o melhor custo benefício. Outros temas que tendem a ganhar
destaque são Telemedicina, LGPD e o cadastro único de pacientes, o qual, na
minha avalição, é o grande passo inicial para toda essa revolução. Gláucio
Pegurin Libório, presidente do Conselho de Administração do Instituto Ética
Saúde.
CAPACITAÇÃO FREQUENTE
Diante das
mudanças que a Saúde apresenta ao longo dos anos, com o turbilhão de novas
tecnologias, modelos de atendimento e regulações, é necessário que gestores
setor estejam sempre engajados com melhores práticas e procurem atualizações
constantes. Não basta ter ciência de que transformações existem, é preciso capacitar-se
para lidar com elas e estar preparado para resolvê-las. Nós, gestores, não
devemos nos acomodar. É preciso ter como hábito o estudo e a capacitação
frequentes. É desta maneira que alcançamos o modelo de saúde que esperamos.
Líderes bem formados e organizados podem transformar o mercado de Saúde.
Francisco Balestrin, presidente do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde
(CBEXS).
ROTA DA PRODUTIVIDADE
A
perspectiva é sempre positiva. Com as movimentações políticas que levam à
aprovação de importantes reformas para a transformação do atual cenário
econômico do país, a indústria tende a ganhar. Acreditamos que somente as
reformas poderão nos colocar novamente na rota da produtividade. É o caminho
para aumentarmos a nossa competitividade dentro e fora do país. Do lado de cá,
seguimos batalhando por uma indústria inovadora, em parceria com universidades
e institutos de pesquisa, a fim de desenvolver soluções disruptivas capazes de
atender às demandas de um país em desenvolvimento e que está em processo de
envelhecimento. Franco Pallamolla, presidente da Associação Brasileira da
Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos (ABIMO).
QUALIDADE DE VIDA
Embora
existam motivos para preocupações, a indústria farmacêutica tem sido otimista
com o futuro imediato do País. Quanto à ciência, tem caminhado cada vez mais
para tratamentos personalizados e complexos, como as terapias gênicas e novos
tratamentos biológicos. Ao observar essas abordagens, precisamos levar em conta
não apenas a sobrevida do paciente, mas também a qualidade de vida, com
controle de sintomas e resgate da autonomia. O papel do setor produtivo é
participar da discussão com o governo e as agências reguladoras, para que as
novas tecnologias possam ser trazidas ao Brasil de maneira segura para o
paciente. Elizabeth de Carvalhaes, presidente-executiva da Interfarma.
ATENÇÃO AO PACIENTE
Com a
tecnologia cada dia mais presente em nossas vidas, a expectativa é que possamos
estar preparados para atender nossos pacientes da melhor forma, com agilidade e
precisão das informações. Assim, temas como Internet das Coisas e Transformação
Digital, devem ser olhados com muita atenção pelos Gestores da Saúde. Mesmo com
toda tecnologia a nosso favor, não podemos deixar de lado itens como Atenção ao
Paciente e tudo que o cerca. Em 2020 temos que observar e dar atenção para
temas como Maturidade de Gestão; Projetos de Longevidade; e Neuroética. Marcio
Moreira, presidente da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
(FBAH).
QUALIFICAÇÃO HUMANA
Depois de
muitas perdas de leitos e fechamento de hospitais, desejamos e seguimos
confiantes com o crescimento da economia, o desenvolvimento da saúde, mas,
também, da educação, pois, para se ter um setor de qualidade, a qualificação é
o principal instrumento de avanço e evolução. Acredito que estamos no momento
de investir na qualificação humana. Não há dúvidas de que a tecnologia
continuará evoluindo e se inovando. O que precisamos é de cuidar da formação
dos profissionais. Acredito que 2020 será o ano da consolidação de tecnologias
digitais, não apenas como ferramentas de gestão, mas também de assistência, a
exemplo da telemedicina e da tecnologia 3D. Adelvânio Francisco Morato,
presidente da Federação Brasileira de Hospitais (FBH).
DEMANDA PERMANENTE
Os
principais desafios da saúde para 2020 são: mudanças nas relações entre
pagadores e fornecedores; restrições do orçamento público para o setor da
saúde; maior demanda da população em relação à saúde, principalmente pelo
envelhecimento populacional; maior demanda por novas tecnologias e novos
tratamentos. E três temas tendem a ser bastante abordados neste ano: modelos de
pagamento, tabelas SUS e saúde corporativa. Acredito que a saúde tem perdido
espaço nas discussões públicas. Nos períodos eleitorais, a Saúde é a demanda
número um da população. É preciso que esta demanda seja permanente. Ruy Baumer,
diretor titular do Comitê da Cadeia Produtiva da Saúde e Biotecnologia
(ComSaude) da Fiesp.
VALOR EM SAÚDE
Precisamos
avançar na pauta relativa à melhoria da atenção primária. E temos que encontrar
caminhos para melhorar a sustentabilidade financeira do setor de saúde, em
função das questões de orçamento público, o aumento das contribuições privadas
para os planos de saúde e o impacto do envelhecimento da população nos custos
da Saúde. Teremos um aprofundamento não apenas dos debates, como também das
experiências práticas na implantação de modelos de gestão relacionados a
oferecer valor em Saúde. Já no setor de dispositivos médicos, vamos continuar
observando o rápido avanço da tecnologia. Fernando Silveira Filho,
presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia
de Produtos para Saúde (Abimed).