Com avanço em soluções de automação e na nuvem na saúde, setor aposta em tecnologias consolidadas para otimizar fluxos, reduzir desperdícios e melhorar a experiência do paciente
Na corrida da transformação digital que impulsiona diferentes setores da economia e da sociedade, incluindo o universo da saúde e da Medicina Diagnóstica, é muito comum que os olhares se voltem para a próxima tendência disruptiva capaz de trazer novos paradigmas para o mercado e nosso dia a dia.
No entanto, é na chamada inovação incremental – aquela que se baseia em tecnologias já existentes, implementadas para aprimorar processos e recursos – que organizações do Brasil e do mundo concentram boa parte de seus esforços de digitalização na busca por mais eficiência, qualidade e sustentabilidade financeira.
E, na Medicina Diagnóstica, em que grandes volumes de atendimentos e rotinas operacionais – como as solicitações de autorização, agendamentos, abertura de fichas, preenchimento de documentações e registros de cobranças – são processados diariamente, esse modelo de inovação que busca, por exemplo, maximizar o uso de ERPs, plataformas de auto-atendimento, sistemas de automação e soluções na nuvem, é especialmente relevante.
“A incorporação destas tecnologias já disponíveis no mercado tem tornado a experiência de todos os envolvidos no atendimento muito mais fluida, uma vez que elas tornam os processos centrais do setor mais seguros, ágeis, menos burocráticos e com um maior nível de informação que, por sua vez, melhora a tomada de decisões e permite a otimização do gerenciamento e da rastreabilidade de todo o workflow. Tudo isso potencializa a experiência para o paciente, para o colaborador e para o corpo clínico, trazendo ainda resultados práticos para a organização em termos de fluxos, tempos de atendimento e resultados financeiros”, afirma Júlio Vieira, Diretor de Negócios e Estratégias no HCor e membro do Conselho de Administração da Abramed.
E, quando lançamos um olhar para tecnologias já consolidadas no mercado, é positivo observar seu gradativo avanço no setor de saúde. O relatório Healthcare Cloud Computing Market aponta, por exemplo, que os investimentos em computação na nuvem devem crescer 17,5% até 2029 no segmento, ao passo que, segundo o estudo Medical Automation Market Size, os processos de automação na medicina já movimentaram mais de US$ 52 bilhões em todo o mundo, trazendo avanços e eficiência para o campo dos diagnósticos e exames de pacientes.
Na prática, isso significa enfrentar gargalos históricos da Medicina Diagnóstica com soluções, via de regra, de menor custo para as organizações e que podem ser integradas por meio de APIs (interfaces e protocolos de programação que facilitam a conexão entre sistemas) e dos próprios ERPs das empresas.
“Na minha visão, o próximo passo da transformação digital da Medicina Diagnóstica consiste, justamente, em explorar de modo mais estratégico os recursos de tecnologias já existentes. A maioria das empresas já tem ERPs em funcionamento, por exemplo, mas não utilizam todo o seu potencial. Temos também muitos sistemas que solucionam problemas específicos do setor. São ferramentas baratas, já maduras, que podem ser integradas e que resolvem gargalos em larga escala, mas que ainda dependem de uma maior maturidade do setor em sua jornada de digitalização. Isto inclui desde a automação de processos operacionais (elegibilidade, autorizações), e robôs que executam tarefas repetitivas (faturamento) e até softwares que aceleram a produção de exames”, diz Júlio Vieira.
Dentro do campo das inovações incrementais, Júlio explica ainda que outro pilar que pode ser melhor explorado pela Medicina Diagnóstica envolve os sistemas de predição, que combina o uso de dados, machine learning e algoritmos de inteligência artificial para melhorar a previsibilidade em processos como o planejamento de compras, gestão de estoques e dos fluxos logísticos do setor.
“Temos um case importante nesse sentido e que contou não só com a implantação de tecnologia de predição, mas também com a revisão de políticas de planejamento, saldos de estoques, distribuição entre os diversos pontos de consumo e estabelecimento de cotas e implantação de VMI (projeto em que o fornecedor apoia e executa o planejamento de compras e distribuição) no Hcor. Este projeto gerou uma economia de R$ 9 milhões para o hospital, assegurou o estoque e a disponibilidade de todos os itens padronizados, racionalizou o consumo, reduziu o índice de perdas e vencimentos, diminuindo ainda a necessidade de compras de urgência”, acrescenta o Diretor de Negócios e Estratégias no HCor e membro do Conselho de Administração da Abramed.
Os ganhos da inovação incremental podem ser observados também no dia a dia de pacientes. Segundo estudo da Abramed, por exemplo, já em 2023, tivemos um aumento de 54% no número de exames ou laudos acessados digitalmente em relação a 2022. Na comparação com 2021, o volume dobrou.
Esse número é reflexo de um ecossistema de saúde mais integrado e que explora com mais eficiência tecnologias que permitem a informatização de seus processos. Para elevar o patamar dessa corrida tecnológica, é fundamental que as empresas do setor reestruturem protocolos e treinem suas equipes para que possam atuar em ambientes organizacionais com maiores níveis de digitalização. Afinal de contas, antes de reinventar a roda, é fundamental fazer um melhor uso de recursos subutilizados.