Painel
Abramed 2019 ressalta desigualdade na oferta de exames nos estados, ocasionando
o chamado vazio assistencial; região Norte possui apenas 6% dos equipamentos do
país
Não há
dúvidas de que os equipamentos de imagem e sua evolução tecnológica são
essenciais para a melhoria na qualidade do diagnóstico e maiores chances de
cura de algumas doenças. Esse fato é ainda mais significativo quando falamos em
mamografia, exame mais indicado pela Sociedade Brasileira de Mastologia para
detecção precoce do câncer de mama – que, segundo o Instituto Nacional de
Câncer (Inca), é o câncer que mais acomete as mulheres do país, com um total de
novos 59.700 casos previstos para todo o ano de 2019.
“Os
casos detectados precocemente têm muito mais chances de cura e melhor
tratamento”, explica Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração
da Abramed. “Segundo o relatório de auditoria operacional do Tribunal de Contas
da União, uma das principais causas para imprevisibilidade da atenção
oncológica é o despreparo da atenção primária para rastrear os casos de câncer,
refletindo no diagnóstico avançado da doença”, diz.
O relatório demonstra que 53,9% dos
pacientes com câncer de mama no Brasil foram diagnosticados em estadiamento
avançado, estágios 3 e 4. Para entendimento: o câncer de mama é classificado
em 5 estágios principais (0 a 4), tendo chances melhores de tratamento quando
detectado entre os estágios 0 e 2. Mesmo sendo um número relevante e desafiador para o sistema
de saúde, existem outros entraves que cercam o câncer de mama no país, como o
vazio assistencial.
Dados
do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico mostram que dos 5.570 municípios
brasileiros, apenas 1.217 (21,8%) possuem ao menos um equipamento de
mamografia. Entre esses, o número aproximado de mamógrafos é de 4,7 por cidade,
em média. Do total de 5.723 mamógrafos em uso distribuídos no país em dezembro
de 2018, 11,4% concentravam-se nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, com
um total de 652 unidades.
A
região Sudeste concentra quase 47,44% dos aparelhos do país, tanto na esfera
pública como na privada. Em seguida vem Nordeste (22,2%); Sul (15,7%), Centro-Oeste
(8,5%) e Norte (6%). “Norte e Nordeste, juntos, com todo o seu tamanho de
território e população de quase 75 milhões de habitantes, têm um número muito
reduzido em relação ao Sudeste, por exemplo”, pontua Priscilla Franklim
Martins, diretora-executiva da Abramed.
“Nas
regiões mais urbanizadas e populosas há maior oferta dos recursos de saúde, além
de uma maior presença de hospitais, laboratórios e profissionais da área
médica”, comenta Priscilla. “Adicionalmente, os determinantes sociais e outras
características individuais ou de grupos da população influenciam a demanda. A
consequência desse arranjo é a desigualdade na oferta de bens e serviços de
saúde, ocasionando o chamado vazio assistencial”, acrescenta.
MAMOGRAFIA NO BRASIL: VOLUME DE
EXAMES ABAIXO DO IDEAL
Considerando
a disponibilidade de equipamentos em uso – nas esferas pública e privada –,
nota-se que a distribuição geográfica dos equipamentos de mamografia não é
homogênea ao longo do território nacional. O resultado dessa discrepância é a
cobertura insuficiente de exames de mamografia.
Pesquisadores
da Sociedade Brasileira de Mastologia, em parceria com a Rede Brasileira de
Pesquisa em Mastologia, divulgaram em 2018 um estudo revelando que o percentual
das mulheres da faixa etária entre 50 e 69 anos, em 2017, atendidas pelo
Sistema Único de Saúde (SUS), foi o menor dos últimos cinco anos. Para se
entender o contexto, eram esperadas 11,5 milhões de mamografias e realizaram-se
apenas 2,7 milhões, uma cobertura de 24,1%, bem abaixo dos 70% recomendados
pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Por um
lado, na saúde suplementar, dados do Painel Abramed mostram que o número de
mamografias apresentou ligeira redução, registrando 5 milhões de exames entre
2017 e 2018, queda de 0,4%. Por outro, o número de mamografias em mulheres de
50 a 69 anos alcançou 2,3 milhões e cresceu 1,8%, no mesmo período. “Na saúde
suplementar, considerando o número de exames realizados e a quantidade de
mulheres com idade entre 50 e 69 anos, a taxa de cobertura para o exame
alcançou 48,6% das mulheres, ou seja, 1/3 das mulheres nessa faixa etária não
realizou o exame preventivo. Para atender esse público seria necessário a
realização de aproximadamente 3,3 milhões de mamografias, ou seja, cerca de 1
milhão acima do observado em 2018, segundo a recomendação da OMS de 70% de
cobertura para o grupo de risco”, diz Priscilla
“Mesmo
com as campanhas de conscientização, o número de exames de mamografia ainda é
abaixo do ideal, tanto no setor público como no setor privado. Confrontando
esses dados, é alarmante ver, em algumas áreas críticas da saúde, tanta
deficiência em exames para detecção precoce de doenças graves”, finaliza
Shcolnik.
Dados
destacados (2018):
• Mamógrafos em uso distribuídos no país em dezembro de
2018: 5.723*
• Número de mamógrafos simples: 3.963*
• Número de mamógrafos computadorizados: 889; eram 456 em
2014 (aumento de 95%)*
• 1.217 (21,8%) municípios brasileiros possuem ao menos um
equipamento de mamografia*
• Distribuição de mamógrafos por região brasileira: Sudeste
(47,44%); Nordeste (22,2%); Sul (15,7%), Centro-Oeste (8,5%) e Norte (6%)*
• Distribuição de mamógrafos na rede privada, por região
brasileira: Centro-Oeste (78%), Nordeste (72,90%), Sudeste (70,90%), Sul
(67,40%), Norte (58,4%)*
• Distribuição de mamógrafos na rede pública e sem fins
lucrativos, por região brasileira: Norte (41,6%), Sul (32,6%), Sudeste (29,1%),
Nordeste (27,1%), Centro-Oeste (22%)*
• Número de mamografias apresentou ligeira redução e
registrou 5 milhões na saúde suplementar entre 2017 e 2018, com redução de
0,4%**
*Fonte: Ministério da Saúde – Cadastro Nacional dos
Estabelecimentos de Saúde do Brasil (CNES)
**Fonte: Painel Abramed 2019 – O DNA do
Diagnóstico