As propostas de reforma tributária representam grande avanço em
direção à modernização de estruturas arcaicas que subsistem no Brasil do século
XXI. A ideia de simplificação do modelo arrecadatório é muito bem-vinda, mas
precisa contemplar especificidades de setores estratégicos para evitar
distorções.
Espera-se de um bom sistema tributário que seja simples e
transparente para os contribuintes, neutro para não prejudicar a organização eficiente
da produção e equânime para não onerar cidadãos com menor capacidade
contributiva. A matriz arrecadatória brasileira, no entanto, não apresenta
nenhuma dessas características: é complexa e onera excessivamente o consumo,
contribuindo para aumento da regressividade; é cumulativa, desorganizando a
produção; gera distorções alocativas, estimulando tensões federativas; além da
absoluta falta de transparência, causando insegurança jurídica e altos custos
de litígio. Neste sentido, os projetos em discussão no Congresso trazem
esperança de superação dessa estrutura paquidérmica e ineficiente, rumo a um
caminho de estímulo aos investimentos e ao crescimento do país.
Apesar dos benefícios que podem advir da reforma, havemos de nos
atentar para seus problemas escondidos, sob pena de prejudicar setores
estratégicos para a sociedade, como a saúde. Não obstante as diferenças
presentes nos textos em análise, o principal objetivo é reunir todos os
tributos incidentes sobre o consumo em um único imposto, com previsão de regime
não cumulativo e alíquota uniforme para todos os bens e serviços. Tais
características impedem que as particularidades do setor sejam consideradas.
A cadeia de prestadores de serviços da saúde é de complexidade e de
capilaridade muito grandes, mas a folha de pagamentos – maior parte da despesa
do setor – não poderá ser deduzida do imposto único sobre a receita bruta,
resultando em significativo aumento da carga tributária. Nas simulações que
fizemos, se a tributação do setor da saúde (ISS + PIS/Cofins) for substituída
por uma alíquota de 25% de IBS, haverá aumento de aproximadamente 100% sobre a
atual carga tributária!
Em um cenário já combalido pela prolongada crise econômica aliada às
altas taxas de desemprego, a saúde tem sido pressionada tanto pelo lado do
consumidor, que gradativamente perde capacidade de arcar com os custos dos
planos de saúde, quanto pelo lado das fontes pagadoras, que veem suas receitas
diminuídas com a perda de usuários. Se acrescentarmos a isso o ônus para o
setor da transformação no modelo tributário, a saúde comprometerá seu potencial
de contratações e investimentos em inovação.
Fabio
Cunha, Diretor da Câmara Jurídica da Abramed