Os desafios do envelhecimento populacional já batem à porta do ecossistema de saúde no Brasil

Os desafios do envelhecimento populacional já batem à porta do ecossistema de saúde no Brasil

É hora de darmos o próximo passo, rumo a um futuro em que todos nós possamos viver com mais qualidade, autonomia e dignidade

*Por Milva Pagano

Impulsionado por transformações socioculturais e econômicas, o Brasil atravessa uma transição demográfica sem precedentes e, em 2030, de acordo com projeções do IBGE, o País terá um número maior de cidadãos com 60 anos ou mais do que de jovens com até 14 anos. Até 2060, o que se espera é um aprofundamento da curva de inversão da pirâmide etária, com a faixa populacional de idosos representando aproximadamente 30% do total de brasileiros.

O fato é que estamos falando de uma transformação em curso acelerado, cujas implicações alcançam um natural aumento da demanda por serviços médicos, exames e tratamentos de qualidade para o sistema de saúde nacional público e privado. Afinal de contas, não se trata apenas de viver mais, mas de ter acesso a cuidados adequados para que a qualidade de vida caminhe em conjunto com uma população longeva.

Alguns desafios já se impõem enquanto a curva se altera. O envelhecimento está diretamente associado ao aumento da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como hipertensão arterial, diabetes, neoplasias e doenças neurodegenerativas – condições muitas vezes silenciosas e que precisam de acompanhamento médico e o diagnóstico prévio e preciso.

Os dados mais recentes ilustram essa realidade com clareza quando observamos a frequência de exames por habitante, cujo crescimento é exponencial a partir dos 50 anos, atingindo seu ápice nas faixas entre 70 e 79 anos.

Outro indicador que reforça esse cenário envolve o expressivo crescimento no número de exames de Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (Mapa), que se expandiu 117% entre 2016 e 2023 na saúde suplementar.

É importante salientar que esse crescimento da demanda por exames é somente parte de uma realidade multifacetada. A tendência é que haja uma necessidade cada vez maior por profissionais especializados em geriatria e gerontologia, capazes de lidar com múltiplas comorbidades de forma integrada. Soma-se a isso o aumento na busca por serviços de cuidados de longa duração — como lares para idosos, centros de atendimento diurno e suporte domiciliar.

Outro ponto sensível é a saúde mental. O avanço da idade, aliado a fatores como isolamento social, perdas funcionais e luto, pode levar a um aumento significativo de quadros de depressão, ansiedade e demência – já em 2019, os idosos lideraram o ranking dos mais afetados pela depressão, segundo o IBGE.

Transformação tecnológica na rota da inversão etária. O aumento da demanda pelo acompanhamento da população exigirá mais integração, eficiência e inovação de todo o sistema de saúde, com a evolução tecnológica cumprindo um papel decisivo.

Nesse sentido, foi positivo observar que, em 2023, cerca de 27% dos investimentos realizados pelas principais empresas do setor de medicina diagnóstica foram direcionados à inovação. Houve um crescimento de 54% no número de exames ou laudos acessados digitalmente em relação ao ano anterior — e, na comparação com 2021, o índice dobrou.

Além disso, o crescente uso de inteligência artificial, algoritmos de apoio à decisão clínica, soluções de big data e plataformas digitais já tem sido determinante para que o setor seja capaz de oferecer diagnósticos mais ágeis e precisos, facilitando ainda a integração com os demais elos do ecossistema assistencial.

Finalmente, a tecnologia será fundamental para que o setor de saúde como um todo encontre caminhos para a sustentabilidade financeira – projeções apontam que, até 2060, as despesas assistenciais da saúde suplementar crescerão 28,9% e segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), as despesas médias por diária de internação alcançam uma média de R$ 14 mil a partir dos 59 anos (até os 18, a média é R$ 6 mil).

Ou seja: investir na transformação digital, mais do que uma escolha, é uma necessidade, enquanto que a medicina diagnóstica deve ser vista como investimento, pois se coloca como uma ferramenta de prevenção para quadros mais críticos – estudos apontam que o investimento em atenção primária pode reduzir em até R$ 400 milhões os custos do sistema de saúde.

Essa é uma mudança de mentalidade que precisa ser incorporada com urgência no Brasil.

Sim, o envelhecimento populacional é uma realidade, fruto da conquista de uma maior expectativa de vida, que traduz os avanços nos sistemas assistenciais e na própria medicina diagnóstica. É hora de darmos o próximo passo, rumo a um futuro em que todos nós possamos viver com mais qualidade, autonomia e dignidade.

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