Especialistas analisam transição demográfica e mudanças ambientais, reforçando o papel estratégico da Medicina Diagnóstica para o futuro da sociedade
O envelhecimento populacional acelerado e os efeitos crescentes das mudanças climáticas configuram uma combinação que pressiona os sistemas de Saúde no mundo inteiro. A 9ª edição do Fórum Internacional de Lideranças em Saúde (FILIS) reuniu especialistas para discutir como essas duas forças de transformação impõem o desenho de novos paradigmas e estratégias para o setor, ao mesmo tempo em que reforçam o papel da Medicina Diagnóstica como peça-chave para prevenção, sustentabilidade e resiliência social.
O painel com o tema “Do Clima à Saúde: Desafios de um Mundo em Transformação”, contou com a presença de Paulo Saldiva, Médico Patologista, Professor e Pesquisador (FMUSP); Ione Anderson, Associate Partner e Diretora Executiva para Sustentabilidade na EY; e o deputado federal Pedro Westphalen (PP/RS). A moderação foi de Claudia Cohn, Membro do Conselho da Abramed e Diretora de Negócios Dasa e Relações Institucionais, que provocou reflexões sobre como adaptar protocolos médicos diante do envelhecimento acelerado da população, que verá a faixa etária 50+ dobrar até 2050 e o número de pessoas com mais de 90 anos passar de 770 mil para mais de 2,8 milhões em 2050.
O diálogo gerou análises que englobam desde o impacto clínico do envelhecimento até a necessidade de métricas internacionais de sustentabilidade que incorporem a Saúde como eixo central de uma agenda indispensável para o futuro do planeta.
Reescrevendo protocolos e enfrentando riscos
Para Paulo Saldiva, o aumento da longevidade exigirá uma revisão profunda de parâmetros médicos, que hoje não contemplam adequadamente a população de idade mais avançada.
“Estamos envelhecendo rápido e mal preparados. Protocolos médicos precisarão ser reescritos”, alertou Saldiva. “Vamos ter que desenvolver, do ponto de vista da farmacocinética e dos exames laboratoriais, uma nova medicina. O envelhecimento traz vulnerabilidade, inclusive diante de agentes infecciosos, e isso exige estratégias preparadas para a nova realidade”, afirmou.
O médico também chamou atenção para os efeitos das mudanças ambientais, reforçando que eventos climáticos extremos ampliam desigualdades e agravam doenças já presentes, e defendeu que o setor de Saúde precisa dialogar melhor com a sociedade:
“Temos uma quantidade de informações acadêmicas muito importantes, mas é preciso comunicação. Não adianta publicar apenas em ecossistemas especializados. É necessário traduzir esse conhecimento e trabalhar com um viés real de políticas públicas para que possamos, de fato, superar desafios”.
Avançando no tópico da sustentabilidade, Ione Anderson trouxe ao debate a perspectiva global das conferências do clima, lembrando que a Saúde não pode ser tratada à margem das discussões ambientais.
“Na COP28, os países concordaram que é preciso saber medir como estamos nos adaptando ao novo contexto climático. A Saúde, nesse sentido, tem um papel decisivo nas discussões da COP30, porque sem ela não conseguimos dar o próximo passo”, afirmou a Diretora Executiva da EY.
Trazendo sua experiência com projetos da EY, Ione Anderson explicou que a sustentabilidade deve ser tratada como base das estratégias de negócio dentro do panorama socioeconômico atual e não como uma obrigação acessória.
“Ainda há uma resistência muito grande no mercado e entre as pessoas. É importante deixar claro, nesse sentido, que sustentabilidade não é uma ação à parte, é estratégia. Para tanto, precisamos conectar ESG com Saúde e construir indicadores integrados. E aqui a Medicina Diagnóstica é decisiva, no sentido de auxiliar empresas a mapear vulnerabilidades e a planejar políticas de mitigação de riscos”, explicou a executiva.
Para ela, a COP30 será um marco nesse debate, colocando o Brasil em posição de protagonismo nas definições globais.
Já o deputado federal Pedro Westphalen destacou o papel do Legislativo em criar consensos duradouros, mesmo em um ambiente marcado por disputas.
“Vejo com preocupação as pessoas se afastando da vida pública, mas também observo o surgimento de uma nova geração que compreende a importância do debate. Precisamos de instituições renovadas para dar conta de um cenário social em que desafios como o envelhecimento acelerado da população e as mudanças climáticas são uma realidade”.
Ele ressaltou ainda a necessidade de maior valorização da Medicina Diagnóstica e da integração público-privada na Saúde.
“Políticas de Saúde precisam ser planejadas para a longevidade, e o diagnóstico é a primeira linha dessa preparação, mas, sem uma real integração entre os sistemas público e privado do setor, vamos apenas apagar incêndios em vez de prevenir”, concluiu Westphalen.
Finalizando o painel, Claudia Cohn fez uma provocação sobre o consumo de plásticos, afirmando que a produção global deve saltar de 200 megatoneladas em 1995 para 1.800 em 2050. Diante desse dado alarmante, ela questionou como o setor pode repensar seus pacotes e embalagens para reduzir impactos ambientais, indo além da adoção de novas tecnologias.
A provocação encontrou respostas diretas dos debatedores. Ione Anderson lembrou que ainda há uma grande resistência em associar o impacto do plástico aos benefícios que sua redução traria para o meio ambiente e para a Saúde, e destacou que sustentabilidade pode ser um diferencial estratégico em toda a cadeia.
Já Paulo Saldiva defendeu a criação de indicadores capazes de traduzir o efeito dos poluentes persistentes em desfechos de Saúde e sugeriu um esforço de comunicação nas escolas para modificar atitudes desde cedo. O deputado Pedro Westphalen relacionou o tema às tragédias climáticas recentes e reforçou que cabe ao país fortalecer suas agências reguladoras para transformar essas discussões em políticas públicas consistentes.
Diagnóstico como alicerce da sustentabilidade
O debate demonstrou que, diante de pressões simultâneas do clima e da curva demográfica no Brasil, a sustentabilidade dos Sistemas de Saúde dependerá da capacidade de antecipar riscos e de adotar políticas preventivas. O diagnóstico, ao fornecer dados confiáveis e precoces, posiciona-se como elo estratégico entre ciência, gestão pública e sociedade.
A Medicina Diagnóstica se coloca, assim, não apenas como ferramenta clínica, mas como instrumento de resiliência social. Fomentar essa integração é um dos compromissos da agenda ESG da Abramed, que tem atuado como articuladora entre os players envolvidos nessa temática.