Nelson Teich defende integração, diagnóstico precoce e foco em valor ao paciente durante sua participação no 9º FILIS

Nelson Teich defende integração, diagnóstico precoce e foco em valor ao paciente durante sua participação no 9º FILIS

Com a temática “O futuro do diagnóstico e a segurança do paciente”, ex-ministro da Saúde destacou que o Brasil convive com fragmentação e desigualdade no atendimento à população

Com base em sua experiência no setor público e privado, o ex-ministro da Saúde e oncologista Nelson Teich trouxe uma visão ampla, crítica e propositiva acerca do modelo implementado no Brasil durante a sua participação no 9º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS). O evento promovido anualmente pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica – Abramed foi realizado no último dia 21 de agosto, no Teatro B32, em São Paulo (SP).

A partir de uma análise fundamentada em dados e experiências internacionais, Teich chamou a atenção para os desafios de acesso, fragmentação e baixa integração no atendimento à população, afirmando a urgência de repensarmos o sistema de Saúde nacional a partir dos pilares do diagnóstico precoce, regionalização, acompanhamento dos desfechos clínicos e do uso inteligente da inovação.

 Para ele, a desigualdade no acesso e a ausência de uma visão sistêmica são barreiras centrais para a construção de um modelo baseado em valor, afetando, inclusive, a Saúde Suplementar, que também enfrenta gargalos importantes de integração.

“O Brasil tem um sistema fragmentado, desigual e com grande iniquidade. A gente comemora promessa quando deveria comemorar entrega.”, afirmou.  “A Saúde Suplementar não é desenhada para atuar como um sistema e a ANS, atualmente, não a direciona nesse sentido. O que temos é um conjunto de instituições, algumas vezes com objetivos distintos”.

Para Nelson Teich, como resultado, temos um ambiente de saúde com baixo nível informacional que aumenta as barreiras para a atenção primária, a definição de protocolos de tratamento e para o uso de indicadores mais assertivos que permitam medir desfechos clínicos com mais eficiência.

“Gestores deixaram de ser condutores e passaram a ser passageiros do sistema. Isso é um problema, porque é o gestor que tem capacidade de refazer equidade e justiça social. É necessário mapear o caminho do cuidado, do dinheiro e da política para contar com direcionamentos claros.”, apontou Teich, reforçando que não basta ampliar recursos sem organização e foco em qualidade.

Comparativo internacional e o papel da Abramed

Ao comparar o Brasil com outras nações, Teich ressaltou que o problema não é apenas o volume de recursos, mas a forma como eles são utilizados. Enquanto o SUS investe cerca de R$ 2.309 por pessoa e a saúde suplementar R$ 5.465, sistemas como o do Reino Unido chegam a R$ 21.265, e programas públicos norte-americanos, como Medicare e Medicaid, variam entre R$ 45 mil e R$ 75 mil.

De acordo com o ex-ministro: “Vamos ter cada vez menos recursos para melhorar o sistema. Quando há pouco dinheiro e a tecnologia evolui como tem evoluído, não haverá recursos nem para pagar o que funciona. Não é apenas uma questão de gastar menos, é um modelo desorganizado que precisa ser repensado”.

Na prática, esse cenário se traduz em desigualdades complexas em campos decisivos da medicina como o cuidado oncológico. Em São Paulo, dados da Fundação Oncocentro (FOSP) de 2017–2018 mostram que apenas 25,9% das mulheres atendidas pelo SUS são diagnosticadas com câncer de mama nos estágios iniciais (0–I) – quando há mais chances de cura –, enquanto esse índice chega a 53,3% na Saúde Suplementar. Já em estágios avançados (III–IV), a diferença se inverte: 41,5% no SUS contra 17,3% na rede privada.

Para Teich, o tempo do diagnóstico é decisivo para os desfechos, ao passo que os exames devem ser vistos como instrumentos para uma medicina personalizada, com potencial de, cada vez mais, mudar radicalmente a trajetória de doenças graves como o próprio câncer ou Alzheimer.

De acordo com o ex-ministro, o Brasil não pode ter uma solução média ou padrão; tudo precisa ser regionalizado.

Ele destacou ainda o papel da inovação tecnológica, desde a biópsia líquida até o uso de inteligência artificial, mas alertou: “Inovação sem sabedoria é um desastre. É preciso treinar profissionais para usar bem essas ferramentas e interpretar exames com competência”.

Nesse processo, Teich vê a Abramed como peça-chave na consolidação de um modelo de Saúde baseado em evidências. “O papel da Abramed é garantir que testes e exames tenham evidência suficiente de eficácia para justificar sua implementação”, disse. A entidade pode ainda contribuir para a capacitação de profissionais e para a produção de dados que permitam medir resultados de forma consistente.

Um olhar para o futuro

Ao concluir sua participação no 9º FLIS, Nelson Teich deixou um olhar esperançoso para o futuro:

“Em várias áreas e com muito menos recursos, conseguimos entregar resultados semelhantes ao de países desenvolvidos. Isso mostra que há uma oportunidade real de cuidar melhor das pessoas dentro de padrões mundiais de excelência.”

Para ele, esse progresso acontece quando a evolução científica se traduz em impactos concretos a partir da regionalização de soluções e do uso inteligente de recursos limitados, passando pela construção de um sistema que, de fato, coloque o paciente no centro.

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