Líderes do setor debatem o papel da qualidade para a eficiência no Sistema de Saúde

Líderes do setor debatem o papel da qualidade para a eficiência no Sistema de Saúde

Dados, interoperabilidade e gestão contínua foram apontados como base para garantia valor clínico aos pacientes

A importância da qualidade para a eficiência do sistema de saúde esteve no centro de um debate de alto nível durante a 9ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS).

Moderado por Wilson Shcolnik, membro do Conselho de Administração da Abramed e Gerente de Relações Institucionais do Grupo Fleury, a discussão reuniu Jeane Tsutsui (CEO do Grupo Fleury), Anderson Mendes (CEO da Rede Total Care), Marcos Queiroz (diretor de Medicina Diagnóstica no Hospital Israelita Albert Einstein) e o ex-ministro da Saúde e Consultor Senior na Teich Gestão em Saúde, Nelson Teich.

Com perspectivas distintas, mas complementares, os debatedores destacaram que o verdadeiro avanço da saúde depende da integração de práticas clínicas, da gestão inteligente de dados e do foco em resultados para o paciente, ressaltando ainda que a interoperabilidade e a qualidade diagnóstica são eixos decisivos para a sustentabilidade do setor.

Qualidade e eficiência caminham juntas

Jeane Tsutsui reforçou que a busca por eficiência só é possível quando ancorada na gestão da qualidade. “Não basta entregar o resultado, ele precisa responder a uma pergunta clínica e orientar uma decisão”, afirmou. Segundo ela, o Grupo Fleury tem trilhado uma longa caminhada nesse sentido, combinando padronização de processos e otimização de recursos.

“Esse é justamente nosso papel: ir além da qualidade e da eficiência interna para olhar para todo o sistema de saúde. A gente tem trabalhado muito em difundir a visão do processo diagnóstico, pois sabemos que 70% das decisões médicas são baseadas em um exame. A qualidade, a precisão e a rapidez com que esse diagnóstico é feito influenciam diretamente nos resultados”, acrescentou.

Dentro dessa jornada, a CEO destacou números importantes: quase 100 mil assessorias médicas para discussão de casos complexos, o processamento de 335 milhões de exames e investimentos expressivos em inovação. Jeane comentou ainda que o Grupo destina 6,4% da receita líquida anual a investimentos, sendo metade em tecnologia, e ressaltou que, graças a esse esforço e ao de outras organizações, a medicina diagnóstica ampliou o acesso e cresceu em escala no Brasil.

Dados, interoperabilidade e cultura tecnológica

Para Anderson Mendes, o maior desafio está na integração de dados. “Todo mundo quer gerar dados, mas a questão é: o que fazer com eles? Um dado sem ação é irrelevante”, pontuou. Ele explicou que a Amil estruturou uma interoperabilidade de informações entre hospitais, laboratórios e parceiros credenciados, permitindo acesso em tempo real e com forte auditoria de resultados a partir de um centro de comando estratégico.

Essa cultura tecnológica, segundo ele, é decisiva para garantir mais agilidade, precisão e qualidade na medicina diagnóstica. Anderson lembrou ainda que a inteligência artificial não deve ser confundida com simples automação. “Não dá pra falar de dados e qualidade hoje sem olhar para a Inteligência Artificial (IA). A IA é a base da predição e temos grandes referenciais no mundo que servem de exemplo, como a China e Israel. Todo dado, para orientar decisões qualitativas, precisa ser filtrado, e a inteligência artificial cumpre uma função central para esse objetivo. Mas, para que tudo isso seja possível, é preciso entender onde se quer chegar e compreender que IA é diferente de automação e muito mais profunda do que o ChatGPT.”

Certificações e governança clínica

O papel da governança é fundamental para garantir processos de qualidade padronizados e, assim, impulsionar a eficiência. Marcos Queiroz mostrou como o Einstein vem utilizando algoritmos preditivos para prever patologias em check-ups e, internamente, para mapear vulnerabilidades sociais de colaboradores — integrando saúde clínica e determinantes sociais.

Ele destacou também o papel das certificações, que são ferramentas importantes, mas não garantem eficiência por si só. “A certificação revela o compromisso de uma organização com a excelência técnica e com uma cultura de aprendizagem. Mas, embora fundamental, ela não garante eficiência. É preciso que haja um sistema de gestão da qualidade e de governança com foco na melhoria contínua. Em conjunto, esses são os verdadeiros pilares da eficiência”, defendeu.

Nesse sentido, ressaltou a importância da governança clínica para avaliar a pertinência dos exames e reduzir desperdícios. O Einstein conseguiu, por exemplo, diminuir de 14% para 7% o número de pedidos de baixa pertinência, gerando economia e sustentabilidade. “Qualidade sem eficiência é ruim; eficiência sem qualidade é inaceitável”, enfatizou.

Planejamento e priorização

Nelson Teich alertou para o risco de confundir eficiência operacional com qualidade no cuidado em saúde. “Informação não é feita simplesmente para gerar conhecimento, é feita para gerar ação”, ressaltou. Para ele, a discussão deve sempre partir de duas perguntas centrais: que problema se busca resolver e o que acontece com o paciente após o diagnóstico.

Teich destacou ainda que o setor subestima o custo e a complexidade de se obter um dado de qualidade e defendeu a necessidade de planejamento e priorização. “É preciso definir quais prioridades você vai ter para interoperar, porque senão você vai querer interoperar tudo. Além disso, sem planejamento e estratégia adequada, os projetos não conseguem avançar em larga escala.”

Segundo ele, o ideal não é ter uma grande quantidade de dados, mas sim capacidade de analisá-los e contar com inteligência treinada para acompanhar casos e entender os impactos das intervenções. “Todo modelo matemático tem a chance de dar errado. Ele não foi feito para prever o futuro, mas para ajudar na tomada de decisão. Não podemos ser enganados pela precisão de um número impreciso”, concluiu.

Caminhos para a sustentabilidade

O debate deixou claro que qualidade e eficiência são dimensões complementares de um sistema de saúde sustentável. Seja pela integração diagnóstica, pela interoperabilidade de dados em tempo real, pela governança clínica ou pela valorização do olhar humano, os participantes reforçaram que o futuro do setor depende da capacidade de gerar valor concreto para os pacientes.

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