Campanhas como o Setembro Amarelo reforçam a importância do cuidado contínuo com a saúde mental, promovendo a conscientização sobre prevenção, tratamento adequado e qualidade de vida.
Ansiedade e depressão estão entre os maiores desafios de saúde pública no Brasil e no mundo. A Organização Mundial da Saúde estima que mais de 300 milhões de pessoas sofram de depressão — hoje a principal causa de incapacidade laboral. No Brasil, estudos epidemiológicos apontam prevalência de sintomas depressivos em 15,5% da população ao longo da vida, enquanto a ansiedade atinge mais de 18 milhões de brasileiros, quase 10% dos habitantes do país.
Nesse contexto, campanhas como o Setembro Amarelo assumem papel essencial ao ampliar a visibilidade sobre a importância de cuidar da saúde mental e conscientizar a população em relação à necessidade do acompanhamento contínuo e tratamento adequado para reduzir o impacto dos transtornos mentais na qualidade de vida das pessoas, evitando desfechos mais graves.
O papel emergente dos exames laboratoriais
Tradicionalmente, a identificação de transtornos ocorre a partir da avaliação clínica, baseada em anamnese, critérios diagnósticos e observação de sintomas. Contudo, esse processo, muitas vezes subjetivo, enfrenta desafios como a sobreposição de comorbidades e a influência de fatores sociais e ambientais.
Nos últimos anos, a pesquisa científica tem explorado biomarcadores hormonais, metabólicos, genéticos e inflamatórios que podem oferecer apoio adicional ao olhar clínico. A proposta não é substituir a avaliação psiquiátrica ou psicológica, mas sim complementá-la, trazendo mais precisão, personalização e monitoramento contínuo.
Estudos recentes reforçam essa tendência. Pesquisadores da Universidade de Newcastle avaliaram dados genéticos, bioquímicos e psiquiátricos de quase 1 milhão de pessoas e identificaram correlações entre níveis de glóbulos brancos, substâncias inflamatórias no sangue e risco de depressão — parâmetros que podem ser detectados em análises laboratoriais. Outro exemplo vem da Universidade de Illinois Chicago, em parceria com outras instituições, que identificou em plaquetas humanas um biomarcador capaz de indicar a presença de depressão e auxiliar no acompanhamento da resposta a medicamentos psiquiátricos.
Além desses achados, diferentes grupos de pesquisa investigam marcadores inflamatórios, hormonais e metabólicos, que podem apoiar tanto no diagnóstico quanto no monitoramento da evolução clínica. Embora ainda não estejam incorporados à prática de rotina, esses estudos reforçam o potencial dos serviços diagnósticos como ferramenta complementar no cuidado com a saúde mental.
Quando integrados, os exames laboratoriais podem reduzir a subjetividade das análises, identificar predisposições antes do agravamento dos sintomas, monitorar com maior precisão a resposta aos tratamentos e ainda relacionar saúde mental e física, considerando comorbidades como diabetes, doenças cardiovasculares ou alterações metabólicas. Essa integração contribui para um cuidado mais individualizado e assertivo, trazendo benefícios tanto para médicos quanto para pacientes.
Limites e cuidados necessários
Apesar dos avanços, é preciso reconhecer limitações. Muitos marcadores apresentam grande variação entre indivíduos, influenciados por fatores como alimentação, estresse cotidiano e uso de medicamentos. Além disso, a sensibilidade e a especificidade dos testes ainda não permitem que sejam usados isoladamente como ferramenta diagnóstica.
Outro ponto central é a ética e a regulação. Garantir a privacidade dos dados e evitar riscos de estigmatização dos pacientes são princípios indispensáveis. Também é fundamental que a interpretação dos resultados seja realizada apenas por profissionais qualificados, dentro de protocolos bem estabelecidos.
A incorporação responsável desses testes depende de protocolos alinhados às melhores evidências científicas e de políticas que assegurem qualidade, equidade e acesso. O futuro aponta para a criação de painéis laboratoriais integrados a aplicativos de saúde mental e wearables, capazes de monitorar em tempo real indicadores relevantes para o bem-estar emocional.
Trata-se de uma área em plena expansão, que já apresenta evidências consistentes de que os biomarcadores podem apoiar milhões de pessoas. Eles não substituem o olhar clínico, mas representam um reforço importante na busca por conclusões mais precisas e tratamentos mais eficazes.
A contribuição da Medicina Diagnóstica nessa área está apenas começando a ser explorada. Avanços em biomarcadores, inteligência artificial e análises multiômicas abrem perspectivas otimistas para um futuro em que ansiedade e depressão possam ser identificadas e acompanhadas com maior precisão.
Combinar ciência de qualidade, protocolos bem definidos e acesso responsável é o primeiro passo para transformar dados em cuidado efetivo e salvar vidas.