Inteligência Artificial e Radiologia no Brasil: no CBR25, especialistas apontam caminhos para equilibrar inovação, sustentabilidade e regulação no setor

Inteligência Artificial e Radiologia no Brasil: no CBR25, especialistas apontam caminhos para equilibrar inovação, sustentabilidade e regulação no setor

Equilíbrio entre tecnologia, regulação e sustentabilidade marca debate sobre os rumos da Inteligência Artificial na radiologia brasileira

A aplicação da Inteligência Artificial (IA) no campo radiológico e no setor de Medicina Diagnóstica esteve no centro de um importante debate realizado pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) no 4º Simpósio de Qualidade e Gestão de Clínicas, que ocorreu durante o CBR25 (Congresso Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem), em Curitiba, no último dia 19 de setembro. O painel reuniu representantes da indústria, gestores e lideranças médicas para analisar oportunidades, riscos e o futuro do radiodiagnóstico frente às inovações tecnológicas que estão transformando o contexto clínico e o ambiente de saúde brasileiro e global.

Com abertura e boas-vindas de Milva Pagano, Diretora Executiva da Abramed, o Painel contou com a participação de Ademar Paes Jr., sócio da Clínica Imagem e Membro do Conselho de Administração da Abramed; Cesar Higa Nomura, Diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Sírio-Libanês e Presidente do Conselho de Administração da Abramed; João Paulo Souza, General Manager da GE HealthCare Brasil; e  Marcos Queiroz, Diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Israelita Albert Einstein e Membro do Conselho de Administração da Abramed.

Milva Pagano destacou os propósitos da Abramed e a importância da parceria histórica do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, reforçando também alguns dos temas centrais do painel. Segundo ela, a evolução do setor diagnóstico como um todo depende do tripé confiança, segurança e sustentabilidade.

“Os debates em nosso segmento sempre circundam a necessidade da ampliação do acesso à Saúde para a população. Esse ponto é fundamental, mas não dá para discutir acesso sem falar em qualidade e segurança. A missão da Abramed, nesse sentido, é conectar nossos associados para impulsionar práticas que promovam confiança, sustentabilidade e inovação, sempre olhando para a jornada do paciente”, afirmou.

Milva também lembrou a importância da cooperação setorial para o fortalecimento do segmento diagnóstico: mesmo empresas concorrentes no mercado unem esforços dentro da Abramed para fortalecer a qualificação de todo o ecossistema.

A Inteligência Artificial e a Radiologia no Brasil: cenário e tendências

Representando a indústria, João Paulo Souza, da GE HealthCare Brasil, ressaltou o crescimento exponencial da IA aplicada à radiologia: “Em 2024, havia cerca de 900 dispositivos com infraestrutura de IA aprovados pelo FDA (Federal Drug Administration), dos quais quase 700 voltados para a radiologia. É uma aceleração de investimentos enorme em todo o mundo, em um espaço de tempo muito curto”.

Segundo ele, o verdadeiro desafio hoje para a consolidação da IA na Medicina Diagnóstica não é gerar dados, mas estruturá-los e contextualizá-los para que tragam valor real ao paciente – ponto que dialoga de modo direto com os esforços da Abramed em prol da interoperabilidade informacional na Saúde. Nesse processo, Souza frisou que o letramento digital é fundamental para reduzir frustrações e acelerar a adoção consciente da tecnologia.

O executivo destacou ainda a estratégia da GE de desenvolver soluções locais, citando como exemplo um software de embolização prostática criado no Brasil em parceria com a FMUSP e hoje reconhecido mundialmente. “Não adianta tentarmos trazer soluções que são desenvolvidas para o exterior sem as devidas formatações para o mercado brasileiro. Esse entendimento de nosso contexto de saúde é indispensável e ajuda as companhias a investir de maneira mais assertiva. Temos de adotar tecnologias de modo inteligente, considerando a nossa realidade local”, pontuou.

Essa ênfase na adaptação ao contexto nacional conecta-se diretamente à percepção de que a radiologia, por suas características técnicas e estruturais, é um terreno naturalmente fértil para a incorporação de inovações.

Em sua exposição, Ademar Paes Jr. listou fatores que tornam o segmento de imagem um campo propício ao desenvolvimento de soluções baseadas em IA: uso de padrões interoperáveis (como o DICOM), maturidade dos algoritmos de imagem, ambiente intensivo em capital e volume crescente de publicações científicas.

“O mito da garagem é bacana, mas o que constrói grandes empresas são publicações científicas, áreas de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e investimentos consistentes que impulsionam ecossistemas de inovação maduro. A radiologia tem um grande papel nesse universo por ser uma via agregadora que conecta hospitais, ambulatórios e pacientes. Ou seja: estamos falando de um terreno fértil para a IA e outras inovações”, explicou.

Para o sócio da Clínica Imagem e Membro do Conselho de Administração da Abramed, a atual revolução do setor não está mais no hardware, mas no software. “Nós vivemos revoluções com o raio X, a ultrassonografia, a tomografia, a ressonância magnética e o PET-CT. Agora, a revolução da nossa geração é o software. A IA será o motor que vai permitir levar a radiologia para populações que hoje ainda não têm acesso. Seu potencial, nesse sentido, é desenvolvimento civilizatório”, completou.

Já Cesar Nomura, alertou para os impactos do marco regulatório da IA, atualmente em discussão no Congresso Nacional. Para ele, é fundamental que o setor de saúde participe ativamente desse debate para garantir que a legislação não limite inovações.
 “A radiologia é a área que mais incorporou IA no mundo. Temos que ser protagonistas para discutir esse tema no âmbito regulatório, pois, dependendo de como o marco for aprovado, ele pode se tornar um limitador para a incorporação de novas tecnologias. A legislação precisa acompanhar as mudanças e a Abramed tem participado ativamente dessas discussões”, afirmou.

Nomura também chamou atenção para a lacuna de formação técnica em ciência de dados aplicada à saúde no Brasil: “Se eu pudesse investir em algo hoje, investiria em formar técnicos em ciência de dados em saúde. Esse é o elo que falta para transformar a IA em prática clínica segura e eficiente”.

Convergências e futuro

Ao longo da discussão, os painelistas convergiram em alguns pontos centrais. Segundo eles, a adoção de IA precisa equilibrar benefícios clínicos, eficiência operacional e sustentabilidade financeira. Para tanto, a interoperabilidade de dados é pré-condição para que os algoritmos entreguem resultados efetivos.

Do ponto de vista regulatório, o marco de IA deve ser construído com participação ativa do setor de Medicina Diagnóstica, garantindo segurança na aplicação, mas sem a criação de barreiras para a tecnologia. E, em todo esse contexto, a formação profissional é decisiva para que a tecnologia seja incorporada de maneira ética e responsável.

O debate reforçou a percepção de que a Inteligência Artificial já é uma realidade incontornável para o segmento radiológico, mas que seu potencial só será plenamente alcançado com planejamento estratégico, capacitação profissional e regulação adequada. Entre expectativas e desafios, os painelistas concordaram, por fim, que a IA será uma aliada essencial para ampliar acesso, qualidade e sustentabilidade na radiologia brasileira.

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