Encontro entre Abramed e ITpS marca nova fase de cooperação entre as entidades

Encontro entre Abramed e ITpS marca nova fase de cooperação entre as entidades

Parceria pode avançar em agenda conjunta na defesa de uma arquitetura nacional de dados em Saúde

A Reunião do Comitê de Interoperabilidade da Abramed, realizada na sede do Instituto Todos pela Saúde (ITpS), se colocou como um marco para a colaboração técnica entre as entidades, que irá ganhar novos desdobramentos ao longo de 2026 e tem como norte a defesa comum de uma arquitetura nacional de dados capaz de sustentar o avanço da saúde digital.

Em um contexto de crescente digitalização da saúde e pressão por maior integração dos sistemas, o encontro reforçou a interoperabilidade como condição estruturante para a evolução do setor.

Iniciada no biênio de 2023-2024 como uma parceria voltada ao monitoramento epidemiológico, a convergência entre a Abramed e o ITpS agora abarca a busca pela interoperabilidade dentro do contexto de um Sistema de Saúde ainda marcado por fragmentação, redundâncias e baixa capacidade de troca qualificada de informações. Nesse sentido, a padronização de dados surge como condição estruturante para melhorar desfechos clínicos, reduzir ineficiências e apoiar decisões.

Com abertura de Milva Pagano, Diretora Executiva da Abramed, e Vanderson Sampaio, Diretor de Operações do ITpS, a reunião contou com palestras e um debate técnico entre associados e representantes das entidades, além de hospitais e especialistas.

Na primeira apresentação do encontro, o pesquisador científico do ITpS, Juan Carlo Santos e Silva, trouxe uma leitura sobre os desafios da interoperabilidade de dados no Brasil. Um dos pontos centrais foi a distinção entre integrar e interoperar informações. “Integrar é armazenar dentro de um data lake; interoperar é conseguir trocar informações e fazer com que elas tenham valor para a tomada de decisões. Isso sim gera um impacto positivo enorme para toda a cadeia”, disse.

A apresentação destacou o papel da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), mas também suas limitações atuais, especialmente no consumo efetivo das informações por estados e municípios. Entre os principais gargalos apontados estão a baixa padronização semântica, o uso restrito de terminologias como LOINC e SNOMED, a pouca capacidade de integração dos sistemas legados do SUS e a desigualdade de capacidade técnica entre grandes grupos e pequenos laboratórios.

O pesquisador também apresentou iniciativas do ITpS voltadas à padronização e à governança de dados, com apoio, por exemplo, de automação e inteligência artificial para tradução de códigos com curadoria humana. A proposta é viabilizar caminhos escaláveis e factíveis para a interoperabilidade no Sistema de Saúde brasileiro.

Coordenação do cuidado

A segunda palestra, conduzida por Sabrina Dalbosco, gerente de projetos do Hospital Sírio Libanês, trouxe a interoperabilidade como uma das bases para a sustentabilidade do Sistema de Saúde. Ao abordar o custo da ineficiência, ela ressaltou que falhas na circulação da informação geram desperdício financeiro, retrabalho e riscos clínicos. “Interoperabilidade não é apenas tecnologia; ela está no coração da coordenação do cuidado e da segurança do paciente”, destacou.

Sabrina também alertou para o risco do chamado “falso digital”, quando processos analógicos são simplesmente replicados em sistemas eletrônicos, sem ganhos reais de eficiência ou qualidade. Para ela, padronização, governança de dados e formação de profissionais em saúde digital são condições indispensáveis para que a transformação digital produza, de fato, valor concreto.

Entre os exemplos apresentados, ganhou relevância o Sumário Internacional do Paciente (IPS), iniciativa interoperável entre países que reúne informações clínicas essenciais — como alergias, medicamentos e diagnósticos —, que foi iniciada na pandemia e avança junto ao Ministério da Saúde.

Próximos passos

O debate que se seguiu aprofundou desafios vividos pelos laboratórios diante de questões como as notificações compulsórias e a multiplicidade de exigências de vigilâncias municipais com formatos distintos para os mesmos dados, o que gera retrabalho e insegurança operacional. A centralização das notificações via RNDS, com integração padronizada, foi apontada como caminho prioritário.

Também houve consenso sobre a necessidade de envolver fornecedores de sistemas laboratoriais, mapear a maturidade digital dos associados da Abramed e documentar casos de uso que demonstrem retorno clínico e operacional. Do ponto de vista regulatório, o grupo discutiu a importância de transformar a interoperabilidade em política de Estado, com padrões claros e previsibilidade para o setor.

A reunião sinalizou a possibilidade da ampliação do escopo da parceria entre Abramed e ITpS — antes concentrada em monitoramento epidemiológico — para incorporar a interoperabilidade como agenda estruturante, com encaminhamentos técnicos e perspectiva de continuidade.

Com representantes de laboratórios responsáveis por 85% do volume de exames realizados no país, a Abramed reafirma seu papel estratégico na indução de padrões de interoperabilidade e na construção de uma agenda conjunta capaz de sustentar a qualidade, a segurança e a sustentabilidade do Sistema de Saúde brasileiro. 

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