Value-Based Healthcare na medicina diagnóstica em pauta

Value-Based Healthcare na medicina diagnóstica em pauta

União entre players em prol de mais valor e menos gasto em medicina foi unanimidade na discussão que ocorreu no HIS 2018

21 de Setembro de 2018

Aconteceu nos dias 19 e 20 de setembro mais uma edição do Healthcare Innovation Show (HIS). O evento, promovido pela unidade de negócios Healthcare da UBM Brazil trouxe dezenas de palestras, oferecidas por profissionais de renome nacional e internacional, tratando dos mais atuais assuntos inerentes ao setor de saúde.

Entre eles, estava o Value-Based Healthcare (VBHC), o conceito de mudança de mercado para os cuidados baseados em valor que se torna cada vez mais inevitável nos Estados Unidos e vem emergindo como uma saída para lidar com o aumento dos custos de cuidados de saúde no Brasil.

Em modelos baseados em valor, os médicos e hospitais são pagos para ajudar e melhorar a saúde das pessoas que apresentam doenças crônicas com uma abordagem baseada em evidências.

De acordo com o Dr. Michael E. Porter, autor do livro Redefining Health Care: Creating Value-Based Competition on Results, alcançar valor elevado para os pacientes deve tornar-se a meta primordial da prestação de cuidados de saúde, ou seja, se o valor melhorar, os pacientes, os provedores e os fornecedores podem se beneficiar, enquanto a sustentabilidade do sistema de saúde aumenta.

O objetivo é reduzir os custos dos cuidados de saúde e melhorar a qualidade e os resultados. Como o valor depende dos resultados, não dos insumos, o cuidado de saúde passa a ser medido pelos resultados alcançados, e não pela quantidade, ou volume de serviços prestados, e mudar a atenção do volume para o valor é um desafio central.

A mudança se afasta completamente do modelo de reembolso; em vez disso, será sobre os custos e resultados dos pacientes, que visam a recuperações mais rápidas, redução de taxas de infecções, menos readmissões, ou seja, tudo baseado no valor percebido.

Como a medicina opera em um ambiente em rápida evolução, os sistemas de cuidado de saúde devem adotar a redução dos custos sem comprometer a qualidade dos resultados.

Alguns gestores apresentam resistência em relação à possibilidade de migrar para VBHC, visto que o nível de investimento financeiro (FFS) é significativo/considerável, bem como a atual estrutura de pagamento e taxa de serviço ainda é rentável. Entretanto, algumas instituições estão se preparando ativamente para a transição; sendo assim, entender esse modelo de trabalho é o primeiro passo.

O VBHC específico na medicina diagnóstica foi um dos temas discutidos no HIS, em palestra durante o summit dedicado ao segmento, que trouxe a presidente da Abramed, Claudia Cohn; a diretora executiva da Anahp, Martha Oliveira; o superintendente geral da Unimed Porto Alegre, Dr. Flávio da Costa Vieira; e o secretário do Ministério da Saúde, Francisco Figueiredo, moderados pela jornalista Camila Galvez para tratar o assunto.

Em sua fala, Claudia Cohn colocou a vertical da mudança de remuneração como uma das mais importantes do conceito de VBHC. “Não se deve incentivar através do volume, e sim através de um desfecho bem feito”, iniciou, classificando a vertical da educação médica como importante: “Quanto mais respaldado o médico estiver, com protocolos, com interoperabilidade, tendo acesso aos dados anteriores do paciente, mais efetivos seremos”, disse. A presidente da Abramed citou como grande o desafio amadurecer o setor em seu todo para que se entenda que a receita não é o que trará diferença. “É importante saber que o desprendimento precisa existir e que isso é um benefício para todos. As pequenas iniciativas talvez tragam um modelo que podemos seguir juntos para termos oportunidade de futuro”, concluiu.

Martha, da Anahp, seguiu a mesma linha, adicionando a importância da mudança de cultura que se faz necessária, principalmente sobre hospitais e prestadoras de serviço. “Estamos em um processo e até a forma como nos posicionamos é importante para termos o tema valor no centro”, disse, além de afirmar que não pode haver segregação entre os atores. A representante dos hospitais privados adicionou que o conceito precisa ser mais bem definido. “Hoje falamos muito de valor, em vários eventos, mas será que o que é valor pra mim é o mesmo valor para o outro? Precisamos definir é o que é esse valor que tanto falamos e depois trazer o paciente para o centro.”

O representante da Unimed, Flávio da Costa Vieira, também ressaltou a necessidade da integração do sistema, já que o dado é fundamental para se conseguir fazer o modelo por performance. “O nosso modelo de remuneração está errado, e precisamos também, cada vez mais, trazer todos os agentes envolvidos para a mesa.” Para Vieira, muito precisa mudar no mindset de operadores, prestadores, usuários e médicos. Ele abordou ainda a questão da cultura do próprio paciente, que “não se considera bem-atendido se não sair com pedidos de exame. Além disso, os médicos não são preparados dentro das universidades para ter uma relação mais direta com a solicitação de exames”, afirmou, frisando a formação deficiente do profissional médico no que diz respeito à medicina diagnóstica. Para ele, essa discussão tem que ser levada também para os bancos da academia.

Quando indagado sobre os desafios da remuneração na saúde pública, principalmente no tocante aos relativos à tabela SUS, o representante do Ministério da Saúde, Francisco Figueiredo, falou da grandeza do sistema e do amplo número de pessoas dependentes dele. “Nós temos hoje no ministério 43 mil unidades básicas de saúde que não têm uma visão logística”, disse. “Temos exemplos de um hospital onde estamos fazendo vários diagnósticos. Um exame de urgência que demora duas horas e meia para ficar pronto passou para uma espera de apenas quarenta minutos. Com isso, o tempo de permanência na urgência, que era de seis horas, caiu para uma hora e quarenta”, exemplificou.

“No que diz respeito à remuneração, nós sabemos que o SUS tem que ser repensado, mas a tabela a todo momento citada é somente parte do movimento de remuneração”, disse, salientando – em uníssono com os outros participantes – que todos os players precisam estar juntos.

Também em consonância com o que já havia sido falado pelo setor privado, Figueiredo concordou com a necessidade de implementação da digitalização de dados: “Nós precisamos informatizar as unidades básicas de saúde”, afirmou. “Essa é uma grande necessidade, pois o ministério tem que saber o que acontece em cada canto desse país.”

Para Cláudia, da Abramed, Francisco tocou em um ponto crucial ao abordar a universalidade do sistema de saúde e a pluralidade da população atendida. “Quando falamos de modelo de remuneração, temos que entender que as políticas ou definições de prestação de serviço ou de prescrição devem levar em consideração cada realidade. O que para uma população distante e o que é para quem está na capital precisa ser feito, por exemplo”, afirmou, dando como exemplo um mutirão de mamografia feito em um local afastado que detectou precocemente um grande número de cânceres de mama. “Quando falamos de uma população que não tem acesso e que precisa fazer um trabalho de screnning estamos falando de um outro tipo de política.”

“Quando falamos em performance, temos que saber para quem estamos voltando essa política e essa prestação de serviço”, pontuou, asseverando que vê um amadurecimento do setor e que as definições precisam ocorrer independentemente de qualquer governo.

O presidente do Conselho da Abramed elencou outro ponto importante ao levantar o assunto compliance. “Focamos na Associação no tema ética, trabalhando para que todos os associados definitivamente adotassem uma conduta adequada, não aceitando nenhum tipo de incentivo”, contou. “Esse é o ponto mais importante e vem antes de qualquer outro, que vem da condição e do valor que a gente pode impor para o sistema, com o paciente no centro dessa questão.”

Mais sobre o HIS

O HIS também ofereceu, pela primeira vez, um recurso dentro do aplicativo do evento para marcar reuniões de negócios entre expositores e participantes com interesses em comum. A plataforma, disponibilizada de forma gratuita para download no Google Play e na App Store, gerou diversos encontros na Meeting Arena, a qual foi pensada especificamente para este fim. Além disso, o evento também realizou as premiações “Referências da Saúde”, patrocinada pela Hermes Pardini, e “GPTW – Saúde”, patrocinada pelo Sesc, para reconhecer as empresas de destaque do setor em diversas categorias, como gestão administrativo-financeira e governança corporativa, além das 90 melhores companhias para se trabalhar escolhidas neste ano.

Para o próximo ano, Rodrigo Moreira, diretor de Estratégia do portfólio de saúde da UBM Brazil, afirma que a expectativa é continuar com o crescimento expressivo do evento, “agregando ainda mais conhecimento para o público de altíssimo nível que atendemos e que tem um perfil muito forte de geração de impacto. A temática de tecnologia e inovação é um vetor de desenvolvimento setorial muito importante, e nós percebemos um incremento na maturidade do segmento para discutir essas questões. Este ano é de muita relevância porque o evento entra de fato no calendário do mercado de saúde”, finaliza.

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