Exames de diagnóstico não são vilões nos gastos na saúde suplementar

Exames de diagnóstico não são vilões nos gastos na saúde suplementar

*Ademar Paes Junior

O título desse artigo é direto e objetivo. A intenção é justamente deixar registrado desde as primeiras palavras que não deve haver dúvidas sobre o tema. Os exames estão longe de ser a causa principal da pressão de custos que aflige o setor de saúde. Mais que isso: em tempos de profundas mudanças na sociedade brasileira, com o envelhecimento populacional e o aumento na incidência de doenças crônicas, os exames de acompanhamento ou diagnóstico tendem a se tornar cada vez mais comuns e assumem papel importante como parte de políticas de promoção da saúde.

Para comprovar o que está dito, vamos analisar alguns dados. A sexta edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico indica que os brasileiros fizeram praticamente 2,4 bilhões de exames de diagnóstico em 2023. O número cresceu 11% na comparação com o ano anterior. A saúde suplementar foi responsável por metade dos procedimentos: 1,2 bilhão de exames. Os demais foram realizados no Sistema Único de Saúde (SUS). Esse crescimento não é um fato isolado, há uma clara tendência de as pessoas fazerem mais exames que permitam o acompanhamento da própria saúde.

A análise de números da saúde suplementar é ilustrativa. Entre 2019 e 2023, o total de beneficiários no país cresceu 8%. Houve aumento de 17% no número de procedimentos de todos os tipos pagos pelas operadoras. O volume de exames realizados cresceu 27% no período, as internações, 6%, e os atendimentos ambulatoriais, 13%. Houve, portanto, um aumento no volume de utilização por indivíduo no caso dos exames e dos atendimentos ambulatoriais.

Mas a análise precisa levar em conta também as despesas assistenciais totais, que cresceram 10% em valores reais (descontada a inflação do período, medida pelo IPCA). O custo dos exames (descontada a variação do IPCA) caiu 16%. Resultado: as despesas assistenciais com exames cresceram 7% em valores reais (descontada a inflação), o que fez diminuir o peso desse item na participação total dos custos da saúde suplementar. Em poucas palavras: os brasileiros estão fazendo mais exames, mas a remuneração real (sem impacto inflacionário) de cada procedimento caiu.

O quadro revela um enorme desafio que temos pela frente, pois há uma tendência de elevação no número de exames, devido aos fatores já mencionados, que exigem monitoramento constante.

Evidente que esses procedimentos não devem ser prescritos sem uma prévia anamnese e avaliação adequada do paciente pelos médicos – condições garantidas pela adequada formação profissional, bandeira histórica das entidades que representam os médicos brasileiros.

No entanto, é justamente aqui que reside o desperdício: profissionais malformados e a busca livre dos pacientes por múltiplos especialistas resultam em uma jornada de saúde excessivamente fragmentada, com solicitações redundantes e sobreposição de exames em muitos casos. Precisamos combater essa realidade.

De qualquer forma, é indiscutível que os exames são fundamentais na promoção da saúde. Exames permitem o diagnóstico precoce de doenças, a definição de tratamentos mais assertivos, a definição de perfis de pacientes que exigem planos de cuidados preventivos específicos, além de contribuir para o planejamento da saúde pública.

Dito de forma mais clara: exames de diagnóstico bem indicados ajudam a melhorar as condições de saúde de indivíduos – e da população –, bem como geram economias para a saúde, seja privada ou pública. Um exemplo é a campanha Outubro Rosa, que alerta sobre a importância da mamografia. A cobertura populacional do exame não é a adequada, o que contribui para diagnósticos tardios que exigem tratamentos mais agressivos – e caros.

O impacto sobre as mulheres que sofrem com a doença é incalculável. Os custos com internações, segundo levantamento da empresa de gestão hospitalar Planisa, podem passar dos R$ 200 milhões anuais. Nessa e em diversas outras situações, a prevenção seria essencial para proteger as pessoas, o que é o mais importante, e, ao mesmo tempo, reduzir gastos.

Em resumo, os exames ganham cada vez mais importância na prática médica – sem qualquer intenção de dizer, com isso, que eles substituem o conhecimento técnico e a experiência do médico, a boa anamnese e os exames tradicionais – e devem manter a trajetória de crescimento de demanda. Ao mesmo tempo, é preciso reavaliar a remuneração desses serviços. Hoje a demanda cresce mais do que o faturamento (em termos reais, descontada a inflação) e há uma pressão de custos sobre as prestadoras de serviços.

Preservar a capacidade de investimentos dessas companhias em novas tecnologias, em aperfeiçoamento de pessoal e em melhores práticas demanda garantir sua saúde financeira. Alcançar o melhor equilíbrio desse sistema complexo, que funciona com orçamentos finitos e demanda crescente, por certo exigirá o empenho de todos.

*Ademar Paes Junior
Membro do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Radiologista da Clínica Imagem e CEO da LifesHub.

(14/02/2025)

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