NR-1 e riscos psicossociais: por que a Saúde precisa assumir o protagonismo?

NR-1 e riscos psicossociais: por que a Saúde precisa assumir o protagonismo?

Por Lucilene Costa, Líder do Comitê de Recursos Humanos da Abramed

A recente atualização da NR-1, que incluiu a obrigatoriedade de mapear riscos psicossociais nos Programas de Gerenciamento de Riscos (PGR), trouxe para o setor de saúde uma responsabilidade que vai além do cumprimento regulatório. Estamos falando de fatores do ambiente de trabalho que afetam diretamente a saúde mental, como excesso de jornada, sobrecarga emocional e pressão constante. E, no caso dos hospitais, laboratórios e serviços de diagnóstico — ambientes naturalmente intensos —, não podemos ser coadjuvantes na construção das soluções que vão definir como essa norma será aplicada.

O prazo de adequação, inicialmente previsto para junho deste ano, foi prorrogado para 2026. Mas, como costumo dizer, esse é apenas um “respiro curto”, reflexo de um cenário confuso, marcado por informações desencontradas, disputas de interpretação e ofertas precipitadas de soluções.

Esse tempo extra é, na verdade, um chamado à ação e deve ser visto pelo que realmente é: uma oportunidade para organizar dados, estruturar processos e apresentar evidências que retratem a realidade do setor.

Ao contrário de outras áreas, lidamos diariamente com jornadas intensas, contato com sofrimento humano e decisões críticas em tempo real. Sabemos na prática o que significa risco psicossocial. Temos, portanto, legitimidade — e também dever — de assumir o protagonismo e conduzir esse debate.

As consequências da omissão são conhecidas e custosas. Estão nos indicadores previdenciários (FAP e RAT), em potenciais ações regressivas do INSS, em passivos trabalhistas. Traduzindo: milhões de reais em custos adicionais para empresas que já vivem sob pressão. E, sobretudo, estão no bem-estar dos profissionais — porque equipes fragilizadas e absenteísmo crescente comprometem, no fim das contas, a segurança do paciente.

É por isso que a NR-1 não deve ser vista como burocracia. Mapear riscos psicossociais com consistência técnica, envolver equipes multidisciplinares e propor caminhos são passos indispensáveis para mostrar que a saúde não só cumpre normas, mas contribui para aperfeiçoá-las.

Na Abramed, já estamos nesse caminho: promovendo treinamentos, articulando com parceiros e levando ao Ministério do Trabalho as particularidades do setor. Mas nenhuma entidade consegue sozinha. É hora de cada instituição colocar o tema no topo da agenda.

Porque, quando o assunto é saúde, não há setor mais preparado para liderar essa discussão. Esse protagonismo não é apenas sobre cumprir uma exigência legal: é sobre garantir sustentabilidade e qualidade na assistência que o Brasil precisa.

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