Segundo Claudia Cohn, é necessário discutir questões éticas e de governança dos dados para a evolução da tecnologia e a disponibilidade de dados no setor de saúde
24 de outubro de 2018
Não é de hoje que se discute o impacto da tecnologia e a disponibilidade de dados no setor da saúde. A atuação das tecnologias disruptivas e sua influência no ecossistema de saúde suplementar foram discutidos durante o 4º Fórum da Saúde Suplementar, promovido pela Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), em 22 e 23 de outubro, no Rio de Janeiro.
No segundo dia do Fórum, o painel “O Futuro da Informação” teve a presença da presidente do Conselho da Abramed, Claudia Cohn, além de Henrique von Atzingen do Amaral, líder do ThinkLab na IBM Brasil; Flávio Bitter, diretor-gerente da Bradesco Saúde e vice-presidente da FenaSaúde; Franklin Padrão Junior, diretor-presidente da Golden Cross e vice-presidente da FenaSaúde; e Josier Marques Vilar, diretor-presidente do IBKL.
Para a presidente da Abramed, o setor de saúde – que sempre teve a desconfiança como premissa no que diz respeito à disponibilização de dados de pacientes – está em vias de chegar a um ponto de mudança, mas é preciso discutir ética e governança. “O avanço na questão do uso e a disponibilidade dos dados dos pacientes vai acontecer. Mas tudo isso é um processo. Da mesma forma que falamos em evolução tecnológica, também é necessário entender que a governança e a ética de se tratar disso em uma cultura analógica e em um ambiente de desconfiança precisa de um processo”, destacou Claudia.
A recém-sancionada Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) deve colaborar para a evolução no setor. “A legislação vem para trazer transparência e padrão, mas não está no tempo certo. Temos aí um trabalho de Câmara e Senado, e a demonstração de que o Brasil precisa avançar nessa questão com consciência”, pontua. “Já temos inúmeros wearables, mas não sabemos o que fazer com os dados. Como reunir e tratar os dados de maneira a começar o piloto?”, questiona.
Nesse contexto, Claudia destacou que a Abramed colabora para promover um ambiente confiável e transparente, que gere confiança ao usuário para usar e compartilhar seus dados. “Na prática, é preciso se despir da desconfiança. Temos iniciativas com umas dez empresas, entre hospitais, operadoras e laboratórios, que se reuniram para formar essa governança de dados. Estamos na fase final para levar sugestões para a iniciativa privada.”
O futuro da informação
Estamos diante de inovações que podem trazer muito valor aos beneficiários. Na abertura do painel mediado pelo jornalista William Waack, o líder do ThinkLab na IBM Brasil, Henrique von Atzingen do Amaral, destacou de que forma tecnologias disruptivas como inteligência artificial e blockchain podem atuar a favor da saúde. Segundo ele, estamos frente a uma curva exponencial de geração de dados e a capacidade de adaptação da população ainda é linear. “Cada vez mais a importância do conhecimento de ética vai crescer”, destacou. Ele falou também sobre como o blockchain pode promover essa confiança ao fornecer um ambiente seguro para transações e troca de informação.
Flávio Bitter, diretor-gerente da Bradesco Saúde e vice-presidente da FenaSaúde, pontuou que o maior desafio do setor é ter transparência no emprego dos dados do usuário, e a LGPD vem beneficiar nesse sentido. “A lei traz desafio, mas não é impeditiva. A comunicação adequada e clara que é necessária.” Segundo ele, tecnologias podem inclusive permitir a integração de dados da saúde pública e privada. “Precisa de liderança, investimento e firme propósito do uso da informação.”
A atualização dos profissionais também é importante, destacou Josier Marques Vilar, diretor-presidente do IBKL. “Muitas pessoas têm dificuldade de entender, são analógicas. Médicos e terapeutas precisam entender como essas tecnologias podem gerar valor ao paciente. Para a cadeia, isso contribui para reduzir custos e proporcionar uma entrega de melhor qualidade.”
Franklin Padrão Junior, diretor-presidente da Golden Cross e vice-presidente da FenaSaúde, segue a linha de Vilar. “O caminho para a evolução é inexorável. Existe resistência. Médicos precisam ser treinados. Pacientes não são o problema real com a autorização da informação. A dificuldade está com os médicos.”
No final do painel, ficou claro que a evolução no compartilhamento de dados no setor de saúde por seus vários agentes, incluindo o usuário do sistema, precisa ainda de muita discussão para que gere realmente valor para todo o ecossistema. Além da discussão acerca da governança e ética no uso desses dados, o setor caminha para definir um modelo de uso que possa contribuir sobretudo para aumentar a qualidade de vida do cidadão, seja do sistema privado, seja do sistema público de saúde.