Algoritmos de IA podem identificar sinais iniciais da doença, aumentando as chances de sucesso no tratamento
A inteligência artificial (IA) tem desempenhado um papel fundamental na saúde em várias áreas, especialmente oncológica. Neste Novembro Azul, mês usual de conscientização à respeito de doenças masculinas, a Abramed chama atenção para sua aplicação no combate ao câncer de próstata. Afinal, a IA pode ajudar tanto na detecção quanto no diagnóstico e no planejamento terapêutico.
Quem explica é Regis Otaviano França Bezerra, radiologista do Hospital Sírio-Libanês – associada Abramed – e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Segundo ele, a IA pode ser utilizada na análise de imagens, permitindo que os algoritmos avaliem exames médicos, como ressonâncias e ultrassonografias para detectar anormalidades sutis ou áreas suspeitas de câncer de próstata. “Dessa forma, esses modelos de aprendizado oferecem dados importantes para aprimorar a precisão na identificação de regiões cancerígenas”, expõe.
O segundo ponto está relacionado à estratificação de risco. Utilizando algoritmos que incorporam informações como idade, histórico familiar e níveis de biomarcadores, a IA possibilita uma análise mais precisa. Outros papéis igualmente relevantes da IA estão na radiômica e na patômica, dois campos emergentes na pesquisa médica que visam extrair dados de alta dimensão de imagens médicas e amostras de tecidos, respectivamente. Em resumo, trata-se da extração de dados tanto da patologia quanto da imagem.
Outro aspecto relevante é a aplicação da inteligência artificial nos sistemas de suporte à decisão, especialmente em cenários nos quais há uma profusão de dados complexos. “Quando lidamos com volumes substanciais de informações, como dados clínicos, de imagem, de patologia e histórico familiar, a integração dessas informações em sistemas de inteligência artificial possibilita o fornecimento de suporte para decisões clínicas mais precisas e embasadas”, salienta Regis.
Mais uma utilização da IA é no monitoramento do progresso da doença. Isso significa que, ao enfrentar o câncer de próstata, é possível acompanhar de perto sua evolução e a resposta ao tratamento. Esse monitoramento permite avaliar se um paciente específico terá uma resposta positiva ou negativa a um determinado tratamento.
Por último, Regis cita a integração com os registros eletrônicos de saúde. Ao conectar os dados do paciente a esses registros, tem-se uma visão abrangente do histórico médico, permitindo uma análise mais personalizada do indivíduo.
Inteligência Artificial na prática
Há alguns meses, o médico patologista Leonard Medeiros, líder de pesquisa no Grupo Oncoclínicas, conduziu um estudo que revelou a maior precisão no diagnóstico do câncer de próstata com a aplicação da inteligência artificial. O estudo, intitulado “Aplicação independente no mundo real de um sistema automatizado de detecção de câncer de próstata de nível clínico”, destaca a eficiência aprimorada do processo por meio dessa nova tecnologia.
A inteligência artificial permite a análise digitalizada do tecido prostático, reduzindo a possibilidade de falso negativo ao detectar áreas menores do câncer que poderiam passar despercebidas pelo método tradicional com microscópio. A pesquisa indicou uma redução de 65,5% no tempo de diagnóstico, evidenciando os benefícios da inteligência artificial na detecção mais rápida e precisa da doença.
O procedimento atua como um tipo de verificação dupla, assemelhando-se à atuação de uma equipe de patologistas que examinam minuciosamente a amostra. Além disso, o algoritmo desempenha um papel significativo no processo de treinamento e aprimoramento de novos profissionais. Medeiros destacou que a literatura médica evidencia uma variação na taxa de falso negativo entre 2% e 4% entre especialistas, e quando se usa o algoritmo, há uma redução para a faixa de 1% a 2%.
Informação é a chave
Mais de 65 mil novos casos de câncer de próstata foram diagnosticados por ano, entre 2020 e 2022, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Os homens mais propensos a desenvolverem o tumor são aqueles com mais de 55 anos, com excesso de peso e obesidade.
“A informação é a chave para que o homem conheça e entenda a necessidade da realização de exames precoces, principalmente em relação ao rastreamento no câncer de próstata, pois só é possível classificar essa doença como agressiva ou de baixo risco após resultados de exames como PSA, toque retal e eventualmente de imagem”, comenta Igor Morbeck, Oncologista e membro do Comitê Científico do Instituto Lado a Lado pela Vida.
Segundo ele, as campanhas de conscientização são fundamentais. “Elas devem alcançar diretamente o público, eliminando preconceitos e quebrando tabus, esclarecendo que o toque retal não compromete a masculinidade, não gera complicações e é realizado em aproximadamente 30 segundos”, explica.
É preciso entender que a atenção à saúde masculina é tão importante quanto à feminina. Conforme revelam as estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os homens, em média, vivem sete anos a menos que as mulheres. Vale lembrar que o sedentarismo, o tabagismo e os hábitos de vida prejudiciais são fatores que contribuem para o surgimento de doenças crônicas, cardiovasculares, metabólicas, como diabetes, e até mesmo câncer. “A população masculina demanda nossa atenção e intenção, necessitando de cuidados especiais para combater esses desafios à saúde”, complementa Morbeck.
A pesquisa “A Saúde do Brasileiro”, realizada pelo Instituto Lado a Lado pela Vida em parceria com o Instituto QualiBest, revela que 83% dos homens entrevistados reconhecem a necessidade de cuidar melhor da saúde, sendo que 63% expressaram grande preocupação com seu bem-estar. No entanto, mais da metade (51%) aponta a rotina estressante como o principal obstáculo para um cuidado adequado, enquanto 32% citam o acesso à saúde como um desafio.
Participaram do estudo 815 pessoas, sendo 52% dos 401 homens usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), 27% atendidos pelo Sistema Suplementar e 21% utilizando ambos os sistemas. A pesquisa também destaca que 88% dos homens consultados visitam o médico pelo menos uma vez ao ano, sendo que 84% agendam as consultas por conta própria, e apenas 10% afirmam que as esposas realizam o agendamento.
Dados do Ministério da Saúde de 2022 indicaram o aumento do índice de mortalidade por câncer de próstata em 25 estados do Brasil no período 2008/2022. A análise considerou a taxa por cada 100 mil habitantes. Entre os estados que mais registraram aumento está o Pará (111,3%), o Amapá (97,9%); o Maranhão (82,6%) o Mato Grosso (65,9%) e a Bahia (63,8%). Os que tiveram menores taxas de crescimento são Rio de Janeiro (12,5%), São Paulo (14,8%), Distrito Federal (17,5%) e Rio Grande do Sul (19,2%). Mato Grosso do Sul e Acre tiveram redução de casos em 4,5% e 24,5%.