Com ajuda da IA, radiologia do futuro será mais precisa e mais atuante no tratamento de doenças

Com ajuda da IA, radiologia do futuro será mais precisa e mais atuante no tratamento de doenças

* Giovanni Cerri

A inteligência artificial (IA) está mudando o dia a dia dos radiologistas mundo afora. A possibilidade que ela oferece de melhorar a precisão diagnóstica, prevenir erros médicos ou formular laudos com mais agilidade tem criado uma “cultura” na área.

Programas e equipamentos antes exclusivos dos centros de pesquisa experimentais estão sendo integrados ao cotidiano de qualquer hospital. Logo, longe de substituir o radiologista, a inteligência artificial está, na verdade, criando demanda por novo perfil de profissional, capaz de compreender e operar com desenvoltura novas ferramentas digitais.

O mesmo vale para os dispositivos de realidade aumentada, que permitem modelar em 3D o que antes seria uma imagem bidimensional, como uma radiografia. Com isso, melhora muito a comunicação entre radiologistas e cirurgiões, por exemplo, já que os primeiros podem indicar com maior acurácia onde exatamente deve ocorrer a intervenção cirúrgica.

Mesmo as atividades mais tradicionais da área estão ganhando sofisticação. Hoje contamos, por exemplo, com métodos híbridos para o diagnóstico do câncer e outras doenças, como a PET-CT e a PET/RM (ou PET-Ressonância), ambas combinações de duas modalidades distintas de tomografias em um único exame de imagem.

O armazenamento em nuvem também está tornando mais fácil levantar o histórico de um paciente. Com a digitalização e integração dos acervos de diferentes instituições de saúde, os médicos dependerão cada vez menos daquela famosa “pastinha” com exames que o paciente leva embaixo do braço para sua consulta.

Todos esses movimentos têm um ponto em comum: o radiologista do futuro precisará de um grau maior de domínio da tecnologia.

No entanto, as mudanças da área não dizem respeito só a quesitos como precisão ou agilidade, mas também à função da radiologia no sistema de saúde. Cresce a noção de que ela não deve se restringir à etapa do diagnóstico, servindo, portanto, de “apoio” às demais especialidades. O radiologista vem ganhando espaço também no âmbito do tratamento.

O conceito de teranóstico (combinação de diagnóstico e tratamento numa única prática terapêutica) descreve essa nova e crescente realidade. É o caso da medicina nuclear, em que o radioisótopo injetado no paciente para identificar um tumor pode, simultaneamente, dar início ao tratamento desse câncer.

Como o Brasil pode se preparar para esse futuro? Em primeiro lugar, é preciso investir em infraestrutura hospitalar e digital, garantindo a disponibilidade dessas tecnologias modernas para o maior número possível de pessoas.

Mas há um desafio ainda maior. O Brasil precisa mudar a formação de seus radiologistas, preparando esses profissionais não para a rotina que encontrarão hoje em um hospital, mas para a medicina dos próximos 30 ou 40 anos. Isso exigirá um grande esforço por parte das faculdades de medicina, públicas ou privadas.

Essa é uma tarefa fundamental para assegurar a sustentabilidade da saúde brasileira. Nossa população está ficando mais velha. O último Censo apontou que mais de 15% da população brasileira já é formada por pessoas com mais de 65 anos, índice que era de apenas 10% uma década atrás. Mantido o ritmo atual de envelhecimento, os idosos serão quase 40% da população brasileira em 2070.

Isso significa, dentre outras coisas, que precisamos de medicina preventiva eficiente, capaz de evitar doenças crônicas associadas ao envelhecimento e de prevenir doenças. Isso depende de uma radiologia moderna, precisa e ágil.

Investir em uma radiologia mais tecnológica e, sobretudo, num profissional preparado para essa nova realidade da profissão é investir no futuro da saúde no Brasil.

*Giovanni Cerri

Presidente do Conselho Diretor do Instituto de Radiologia (InRad) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina e do Conselho de Administração do Instituto Coalizão Saúde (ICOS).

19/11/2024

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