Sustentabilidade e qualidade em saúde foram foco de painel da Abramed durante a FISWeek 24

Sustentabilidade e qualidade em saúde foram foco de painel da Abramed durante a FISWeek 24

Um dos destaques foi o Programa de Monitoramento de Indicadores de Qualidade e Segurança do Paciente em Medicina Diagnóstica, da ANS.

20 de novembro de 2024 – No dia 6 de novembro, durante a FISWeek, no Rio de Janeiro, a Abramed promoveu o painel “O Futuro da Medicina Diagnóstica: Inovações e Desafios em Qualidade”. Moderado por Milva Pagano, diretora-executiva da entidade, o debate contou com a participação de Fernando Berlitz, gerente de Serviços de Acreditação e Indicadores da Controllab; Guilherme Oliveira, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML); e Maurício Nunes, diretor de Desenvolvimento Setorial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Milva conduziu o painel em torno de três eixos principais: o impacto da inovação na medicina diagnóstica; a relação entre a qualidade oferecida pelos prestadores e a sustentabilidade de todo o sistema; e o Programa de Monitoramento de Indicadores de Qualidade e Segurança do Paciente em Medicina Diagnóstica, da ANS.

Segundo Oliveira, da SBPC/ML, a área de medicina diagnóstica tem a inovação como uma de suas bases e sua evolução acontece de forma acelerada. “Precisamos entender o impacto que essa evolução vai causar tanto individualmente quanto globalmente na cadeia de saúde, afinal, ela precisa trazer ganhos reais para o paciente e não onerar de maneira desproporcional o sistema”, comentou.

Mas a dificuldade é colocar isso em prática, porque, como Oliveira expôs, não se tem as informações necessárias para a tomada de decisões. “Hoje há poucos dados confiáveis de desfecho e os exames de medicina laboratorial, principalmente, têm um impacto indireto na resolução do caso do paciente. Precisamos evoluir muito nessa questão, inclusive de integração de dados”, acrescentou o vice-presidente da SBPC/ML.

Berlitz acredita que o grande desafio é trabalhar com inovações e incorporações tecnológicas que realmente aprimorem os processos, melhorem os desfechos para os pacientes e agreguem valor, ao mesmo tempo em que tornem os processos mais eficientes, utilizando menos recursos. “Precisamos fazer com que essa incorporação seja feita de maneira segura e que traga valor”, expôs.

Segundo ele, acreditação, qualidade e padronização são fundamentais. “Embora pareça que padronizar possa dificultar a incorporação de novas tecnologias, é justamente o contrário. Padronizações permitem que tenhamos critérios claros para avaliar, checar e validar inovações com mais segurança, garantindo que sejam úteis para os pacientes. Se houvesse melhores padrões de qualidade em muitos casos, erros e falhas poderiam ser evitados”, disse.

Por sua vez, Nunes, da ANS, falou do processo de inovação com o olhar de quem contrata o plano de saúde. “Temos percebido, cada vez mais, uma busca crescente por melhores desfechos, tecnologias acessíveis e sustentáveis, que garantam a entrega de qualidade ao beneficiário.”

Ele abordou o acordo de cooperação entre a ANS e o Serviço Social da Indústria (SESI), que busca fomentar a integração de práticas preventivas e a construção de indicadores de qualidade, permitindo que empresas e operadoras desenvolvam programas mais eficientes, como telemedicina e atenção primária. Essas ações visam reduzir custos, ampliar o acesso à saúde e melhorar a qualidade do atendimento oferecido.

“Até cerca de três anos atrás, a participação ativa dos contratantes dos planos de saúde nesse processo era praticamente inexistente. Porém, recentemente, observamos um movimento importante, coordenado com a indústria, para identificar as operadoras que efetivamente entregam resultados de saúde aos seus beneficiários”, disse.

Nunes também citou o Programa de Qualificação de Prestadores de Serviços de Saúde – Qualiss, que monitora, avalia e divulga os resultados dos indicadores de qualidade de hospitais privados. A iniciativa está estruturada em diversas dimensões, como eficiência, segurança do paciente e efetividade, entre outras. Os resultados estão sendo consolidados para divulgação em um portal oficial, com identificação das unidades participantes.

“Os contratantes da indústria estão esperando os dados desse trabalho, por ser um referencial na contratação de plano de saúde coletivo empresarial e, por que não, individual e familiar. O portal será um repositório da agência com os indicadores desses hospitais. A adesão é voluntária e já temos 215 instituições inclusas”, explicou Nunes.

Indicadores de qualidade na medicina diagnóstica

Milva lembrou que inovação não é apenas sobre tecnologia, mas também encontrar maneiras diferentes de aumentar a eficácia e a eficiência. “Quando entendemos a inovação dessa forma, trazemos qualidade para o setor e, com isso, melhoramos a jornada do paciente, criando um sistema mais integrado e sustentável. No entanto, isso nem sempre acontece na prática”, observou.

A medicina diagnóstica enfrenta o desafio de desenvolver indicadores de desfecho que comprovem que suas ações impactam positivamente a saúde do paciente e no resultado como um todo. Sabe-se que os exames fundamentam mais de 70% das decisões médicas. Sem eles, não há diagnóstico, prevenção, nem gestão eficaz. Segundo afirmou, o diagnóstico é a base, e é preciso desconstruir o equívoco de que há excesso de exames impactando o sistema.

“Ao avaliar a jornada completa do paciente, podemos direcioná-lo a prestadores com melhores desfechos, otimizando recursos e cuidados”, comentou Milva. Neste ponto, citou o Programa de Monitoramento de Indicadores de Qualidade e Segurança do Paciente em Medicina Diagnóstica, no mesmo modelo do Qualiss, que a ANS está encabeçando e que conta com o apoio da Abramed e da SBPC/ML.

O modelo será semelhante ao dos hospitais, buscando trazer transparência ao mercado em relação ao desempenho, à qualidade e ao desfecho dos prestadores, o que é importante para os contratantes. “O objetivo é elevar o padrão, mas enfrentamos o desafio de não obter a contrapartida na remuneração. A transparência é essencial, mas também é necessário um tratamento diferenciado que reconheça os investimentos feitos”, comentou Milva.

A SBPC/ML recebeu muito bem a ideia desse programa, como declarou Oliveira. “No entanto, há um trio essencial que deve caminhar junto: qualidade, segurança do paciente e sustentabilidade do negócio. Para isso, precisamos de incentivos que permitam reconhecer aqueles laboratórios que já aderiram à acreditação e incluir aqueles que ainda estão fora desse padrão”, expôs.

Como uma empresa que opera uma plataforma de indicadores na medicina diagnóstica há quase 20 anos e parceira da Abramed e da SBPC/ML, a Controllab vê com bons olhos a questão da transparência e da medição de desempenho. “Acreditamos que somente ao mensurar o impacto dos serviços podemos melhorar nossas operações. Mostrar esses resultados à população é muito natural, especialmente em uma era de empoderamento do paciente”, declarou Berlitz.

Ele considera que o mercado de medicina diagnóstica está mais pronto do que o hospitalar no que diz respeito à medição de desempenho. “Temos 400 organizações associadas à nossa plataforma e trabalhamos com integração de ecossistemas para garantir a lisura dos processos.” A respeito do programa da ANS, considera que a auditoria dos dados deve ser um ponto fundamental, pois assegura a confiabilidade das informações e a transparência do setor.

Nunes explicou que a iniciativa da agência voltada à medicina diagnóstica está na fase de chamamento público para colaboração no processo de desenvolvimento. Após selecionar as entidades participantes, será formado um grupo técnico para definir os produtos, indicadores e sistemas necessários.

Para ele, investir em qualidade e transparência de dados traz mudanças significativas. “A indústria de saúde conta com 17 milhões de beneficiários. Quando a agência começar a divulgar os indicadores dos prestadores, isso gerará uma concorrência positiva. Cada vez mais, quem contrata um plano vai querer ter prestadores que entreguem valor aos usuários.”

Olhando para o futuro

Berlitz reiterou que não é possível tomar decisões sem dados, pois são eles que permitem tomar decisões informadas. “Graças à inovação tecnológica, hoje temos a capacidade de trabalhar melhor esse recurso. Como tendência, vejo cada vez mais profissionais especializados em analytics ajudando a interpretar essas informações. Isso também envolve uma mudança cultural, pois precisamos olhar para os dados de forma estratégica, usando-os para tomar decisões que melhorem os serviços e sustentem o negócio”, expôs.

Segundo ele, no Brasil, há laboratórios que nem sabem exatamente quanto faturam, e as realidades no setor de saúde são muito variadas. “Iniciativas como a da ANS são fundamentais para destacar a relevância de medir o desempenho de maneira transparente. Então eu vejo os dados e o uso deles como a grande tendência para os próximos ciclos”, disse.

Oliveira destacou que o Brasil precisa avançar em termos de ferramentas de informática e infraestrutura tecnológica. “No Brasil, só o governo tem poder para capitanear uma iniciativa de criar um prontuário único. Mas enfrentamos outro problema: há uma grande desconfiança no mercado. Os players não conseguem trabalhar em colaboração”, ressaltou.

Ele também destacou a importância de um trabalho educativo e da criação de mais protocolos para o uso racional dos exames. “Precisamos enfrentar esse problema para poupar recursos que poderão ser direcionados para as demais ações”, disse.

Ao final, Milva parabenizou a ANS pela iniciativa e colocou a Abramed à disposição da agência para novas parcerias.

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