Por meio de plataforma virtual, participantes responderam a questões sobre verticalização, modelos de remuneração e inserção de inteligência artificial
03 de Setembro de 2018
A participação ativa da plateia foi um dos grandes destaques do 3º FILIS – Fórum Internacional de Lideranças da Saúde. Durante sessões interativas, todos os participantes foram convidados a responder, em uma plataforma virtual, a perguntas sobre alguns dos temas mais atuais do setor de saúde. Após centenas de participações, as respostas foram debatidas por quatro especialistas: Ademar José de Oliveira Paes Jr, presidente da Associação Catarinense de Medicina (ACM); Carlos Senne, presidente da Senne Liquor; Eliezer Silva, diretor de medicina diagnóstica do Hospital Israelita Albert Einstein; e Leandro Figueira, diretor de relacionamento da Alliar Médicos à Frente.
Metade dos participantes que responderam à sessão interativa pertenciam ao setor de medicina diagnóstica e a outra metade estava dividida entre membros de hospitais, de operadoras de saúde, ou atuantes diretos no setor de equipamentos médicos ou suprimentos para análise clínica.
Muitas questões estavam direcionadas à necessidade de investimentos na sustentabilidade do sistema de saúde, ponto que 66% dos participantes concordaram ser de responsabilidade de todos os players de forma igualitária.
A primeira pergunta feita ao público dizia respeito ao conhecimento sobre as expressões “underuse” e “overuse”, tema que tem sido foco de muitas discussões no setor. Com 71% dos participantes mostrando entendimento sobre o que esses termos representam, o assunto mereceu uma explicação histórica por parte de Leandro, que reforçou que em meados da década de 1980, as consultas médicas foram encurtadas e, como consequência, a responsabilidade da anamnese e do exame físico completo acabou sendo dividida entre o médico e os exames laboratoriais, o que aumentou a quantidade de solicitações por exames nesse primeiro contato com o paciente. “Existe a oportunidade de racionalização de custos, mas para isso é preciso mudar essa cultura, senão passaremos os próximos dez anos debatendo o mesmo assunto”, declarou.
Ainda em busca de soluções para melhorar a saúde brasileira, o time de especialistas observou que a grande maioria dos presentes planeja mudanças nos modelos de remuneração, visto que 56% já implementaram novos modelos e estão avaliando os resultados, 20% já confirmaram a obtenção de resultados positivos e apenas 3% disseram ter obtido resultados negativos. Nesse ponto, Eliezer fez um alerta importante de que é preciso pensar na sustentabilidade da saúde como um todo, e não apenas de um único segmento: “O que preocupa é que diferentes organizações buscam, na sustentabilidade, melhorias para seu setor e não para a sociedade”.
Complementando o raciocínio, Ademar declarou que a adoção de novos modelos de remuneração requer controle de acessos e análise de dados para que as negociações sejam claras. “Nossa qualidade não pode ser avaliada por quem faz o pagamento, e isso é muito importante”.
Tendo como um dos fundamentos de uma boa gestão a previsibilidade de custos, Leandro mostrou-se totalmente favorável à verticalização, processo que, segundo ele, além de maior previsibilidade, gera melhor gerenciamento de filas e garantias de acesso em estruturas inteligentes com expertise na entrega. Porém o tema mostrou-se ainda dúbio para grande parte dos presentes, visto que 37% dos participantes que responderam à enquete afirmaram não trabalhar com serviços verticalizados mesmo acreditando que essa é uma solução interessante, enquanto outros 26% disseram não ter opinião formada sobre o assunto.
Paralelamente à verticalização de muitas operadoras, algumas empresas vêm contratando prestadores de serviços de saúde de forma direta, sem a intermediação dos planos. A plateia também se mostrou dividida sobre este assunto. A maioria acredita que essa é uma tendência irreversível, porém 39% apostam que ainda não estamos preparados para prestar esses serviços enquanto 31% acreditam que já estamos preparados.
Para os debatedores que conduziram a sessão, ainda há dúvidas sobre como o processo se dará daqui para frente. “Quem conseguir gerenciar o ciclo completo do tratamento utilizando melhor os recursos disponíveis, entregará o melhor resultado”, declarou Eliezer. “O sistema precisa de uma adequação e se faremos isso com ou sem intermediários dependerá, exclusivamente, da atuação desses intermediários”, complementou Leandro.
Diante de uma busca incansável por sustentabilidade, também existe o debate sobre os avanços tecnológicos que modificam a dinâmica do setor. Quando o assunto abordado foi inteligência artificial, 51% dos participantes disseram confiar em laudos feitos por inteligência artificial pois esse é o caminho do futuro. Ao mesmo tempo, 47% disseram confiar nos resultados e na qualidade, porém acreditam que a interação humana ainda é mais importante.
“Esse equilíbrio é exatamente o que vivemos”, declarou Eliezer. Com muitas instituições já atuando com processos automatizados – como o departamento de oncologia do Memorial Sloan-Kettering, nos EUA, que utiliza inteligência artificial para reconhecer padrões em uma biblioteca de laudos, gerando diagnósticos e apontando tratamentos com maior probabilidade de sucesso para os pacientes – a tecnologia deve assumir processos que ainda hoje são realizados por humanos, mas, segundo Leandro “deve demorar muito tempo para que sejamos totalmente substituíveis”.
Encerrando a sessão interativa, Carlos declarou satisfação pela promoção do debate. “Temos essa obrigação de promover esses encontros para distribuir conhecimento e espero que tenhamos, cada vez mais, novos agregados”. Para Leandro, contar com uma plateia multidisciplinar como a do FILIS é muito importante para ampliar a discussão. “Entendo que as pessoas que participam destes eventos de forma espontânea são as que têm boa vontade e apostam em iniciativas para dialogar e fazer da área de saúde um setor muito melhor”, declarou.