Confira a entrevista com Guilherme Ambar, CEO da Seegene Brazil, sobre as mudanças que vêm ocorrendo na medicina diagnóstica
26 de agosto de 2020
Até que o SARS-CoV-2 chegasse ao Brasil, o país não tinha
uma ampla atuação no ramo de biologia molecular, área que estuda o ponto de
vista molecular dos organismos e atua, inclusive, com DNA e RNA gerando
resultados diagnósticos muito precisos. Porém, com a popularização dos testes
RT-PCR para detecção da COVID-19, o tema vem ganhando espaço e a população
passa a entender que biologia molecular não está restrita ao diagnóstico de
doenças complexas.
Em entrevista exclusiva para a Abramed em Foco, Guilherme
Ambar, CEO da Seegene Brazil, marca focada no mercado de diagnóstico in
vitro, fala sobre como a crise do novo coronavírus vem promovendo mudanças
nesse cenário e sobre como a empresa atua para a popularização dessas técnicas,
reconhecidas por sua assertividade.
Com altos investimentos em desenvolvimento de tecnologia em
sua sede na Coreia do Sul, a Seegene detém mais de 160 patentes que prometem
tornar o diagnóstico molecular mais acessível. No Brasil, está mudando suas
instalações de Belo Horizonte (MG) para o interior de São Paulo a fim de
melhorar sua cadeia logística. Além disso, promove investimentos diversos para
permitir que mais brasileiros possam realizar exames de alta confiabilidade.
Confira a entrevista completa.
Abramed em Foco – Qual é, hoje, o cenário da biologia
molecular no Brasil?
Guilherme Ambar – Por aqui, biologia molecular ainda
é uma técnica bastante cara, pois nosso país nunca investiu, de fato, nesse
segmento. Como a demanda sempre foi pequena, não houve uma redução de custos
significativa ao longo do tempo e somente os grandes laboratórios implementavam
essa técnica. Antes de estourar a pandemia de COVID-19, apenas poucos laboratórios
realizavam esses exames no país. Quando o coronavírus chegou ao Brasil, com a
crescente demanda de testes moleculares RT-PCR, que são apontados como o padrão
ouro para diagnóstico da infecção, faltou estrutura para a realização de tantos
testes simultâneos. E enfrentamos o primeiro grande gargalo. Com base nisso,
outros laboratórios passaram a visar a biologia molecular. Neste ano a Seegene
Brazil já deu suporte para que oito laboratórios menores investissem em suas
próprias estruturas, deixando de terceirizar esses exames.
Abramed em Foco – Podemos nos comparar a outros países?
Guilherme Ambar – É difícil comparar. Somos um
continente perto de países da Europa. Analisar de que forma nações como
Alemanha, Espanha e Itália lidam com a biologia molecular, e trazer essa
percepção para nossa realidade não é simples. Um equipamento que, no exterior,
custa 20 mil dólares, por exemplo, aqui no Brasil custa 200 mil reais. Um robô
que custa 80 mil dólares, aqui passa de 1 milhão de reais. É uma discrepância
muito grande que faz com que fora do nosso país, mesmo um laboratório pequeno
tenha condições de investir, já aqui é mais complicado. E isso tudo ocorre por
não termos fabricação interna, o que nos torna dependente das importações.
Estamos sempre amarrados ao mercado externo.
Isso faz com que a Seegene tenha, na Itália, mais de 200
plataformas espalhadas e, no Brasil, hoje, pouco mais de 20. Com a entrada de
novos players no mercado e o fomento do desenvolvimento de produtos nacionais,
o mercado brasileiro tem muito a ganhar pois o potencial é imenso.
Abramed em Foco – A pandemia de COVID-19 promoveu
mudanças nesse cenário?
Guilherme Ambar – Acreditamos que no período
pós-pandemia o diagnóstico molecular vai estar muito mais presente, já que mais
laboratórios brasileiros estarão capacitados a realizar esses testes. Além
disso, há uma popularização, pois devido ao novo coronavírus e a relevância que
o diagnóstico tomou diante da pandemia, todos já sabem e entendem o que é um
RT-PCR. E isso acaba incentivando o mercado, visto que a pressão popular ajuda
a difundir a técnica.
Abramed em Foco – Havia uma percepção equivocada de que
biologia molecular eram exames apenas para doenças mais raras ou complexas?
Guilherme Ambar – Existem diversas aplicações para a
biologia molecular e ela não está, de forma alguma, atrelada apenas à alta
complexidade. Temos desde painéis oncológicos que medem 328 mutações
relacionadas à câncer; até painéis para testes de infecções por vírus
respiratórios super comuns como a influenza e a H1N1.
Importante ressaltar que a biologia molecular pode ser utilizada
para detecção de inúmeras doenças que hoje são identificadas por tentativa e
erro, acelerando o diagnóstico e tornando-o muito mais assertivo. Para um
paciente que busca atendimento e tem uma infecção respiratória, por exemplo,
temos um painel capaz de identificar 26 vírus do sistema respiratório. Sabendo
exatamente qual o agente causador, o tratamento será muito mais eficiente. É
garantia de melhor qualidade de vida desse paciente e de maior sustentabilidade
para os sistemas de saúde.
Abramed em Foco – Como a pandemia de COVID-19 tem
impactado os negócios da Seegene?
Guilherme Ambar – Fomos uma das primeiras empresas a
disponibilizar no mercado brasileiro kits para diagnóstico de COVID-19 e a
Seegene cresceu muito nos últimos meses. Tanto que devido a esse aumento de
operação estamos consolidando nossa mudança de Belo Horizonte (MG) para o
interior de São Paulo, pois estar perto do aeroporto de Viracopos, em Campinas,
nos dá maior controle logístico. Agora, como sabemos que o Brasil não tem, por
prática, utilizar a biologia molecular para o diagnóstico, temos um plano de
negócios focado em ganhar esse mercado, oferecendo essa opção mais assertiva.
E nossa ideia é prosseguir com a abordagem que iniciamos na
pandemia de intensificar o nosso suporte para que os pequenos laboratórios,
descentralizados e que atuam no interior do país, possam ter suas próprias
plataformas. Tudo isso aumenta o acesso dos pacientes à biologia molecular e
aumenta a demanda para todos.
Além disso, ampliamos nossa gama de produtos e nos próximos
dois anos vamos começar a construir uma planta fabril em Sorocaba (SP) para
atender tanto ao mercado local quanto à América Latina. Nos tornaremos o ponto
focal dos negócios de toda a América Latina.
Abramed em Foco – E como a parceria com a Abramed,
que acaba de completar 10 anos no mercado de medicina diagnóstica, contribui
com a atuação da Seegene no nosso país?
Guilherme Ambar – A parceria com a Abramed foi
crucial. Éramos uma empresa com seis meses de existência lutando para se
estabelecer nesse mercado e ter esse contato com a Associação nos aproximou de grandes
players do setor. Sem a Abramed, demoraríamos muito mais tempo para
conseguir nos firmar.
Além disso, os eventos que a Abramed realiza são excelentes
para mostrar à comunidade médica as novidades que estão surgindo. E nosso
segmento, de biologia molecular, é muito veloz, tornando difícil para os
médicos acompanharem todas as evoluções. Então vemos que para os associados da
Abramed essa nossa parceria também é relevante para que eles consigam
visualizar o que já está disponível no mercado.