Presidente do Conselho de Administração da Abramed participou de conferência junto a outros gestores do setor
08 de Abril de 2020
O presidente do Conselho de Administração
da Abramed, Wilson Shcolnik, participou do webinar realizado pelo Fórum
Inovação Saúde (FIS), que ocorreu no último dia 3 de abril, para debater o
impacto sanitário, econômico e social de uma pandemia, sob a perspectiva da
Covid-19. Shcolnik abordou, entre outros assuntos, o papel de destaque dos
exames laboratoriais neste cenário atual de crise.
“O protagonismo dos exames
laboratoriais nessa epidemia veio desde que a Organização Mundial de Saúde
(OMS) determinou o método denominado de “padrão ouro” para confirmação dos
quadros agudos, que é o RT-PCR, e a mídia tem amplamente divulgado
características desse exame, um teste molecular de alta complexidade. Ele não
está disponível em qualquer laboratório, apenas naqueles que possuem
equipamentos e recursos humanos capacitados para executá-lo”, disse o
presidente da Abramed.
Segundo ele, graças à descoberta do
genoma viral foi possível estabelecer dentro dos laboratórios os métodos chamados
in house, que são processos artesanais baseados em agentes importados. Com
o afluxo imenso das primeiras semanas, talvez pelo susto que os dados vindos da
China trouxeram, muitos pacientes recorreram aos laboratórios, e rapidamente os
estoques de reagentes se esgotaram.
“Os laboratórios hoje conseguiram
automatizar esse processo de modo que, se o compararmos à semana inicial,
quando conseguíamos realizar centenas de exames por dia, hoje é possível
afirmar que os laboratórios bem equipados conseguem executar cerca de milhares
por dia, o que vai trazer certo conforto, tanto para nós, quanto para o Ministério
da Saúde”, atentou Shcolnik.
Existe uma preocupação em se identificarem
os pacientes que já se tornaram imunes de alguma maneira e que depois de
infectados podem de forma segura retornar ao convívio e, em se tratando de
profissionais de saúde, podem aos poucos retornar a seus postos de trabalho.
Sobre os testes sorológicos que estão
chegando para o tratamento da doença, Shcolnik disse que eles detectam
praticamente três tipos de anticorpos: o IGA, muito presente nas mucosas do
organismo humano; o IGN, que é o primeiro anticorpo a ser produzido já na fase
aguda da infecção, demorando cerca de sete a dez dias para alcançar o pico mais
elevado e se tornar perfeitamente detectável; e por fim o IGG, que pode trazer
imunidade, embora não se saiba ainda se a possibilidade de reinfecção existe.
“Queria deixar claro que a qualidade
e o desempenho dos testes rápidos são muito variáveis. Eu sei que está havendo
um esforço muito grande do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde
(INCQS) da Fiocruz para validar esses testes. Na área privada há também um
esforço da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial
(SBPC/ML) com a Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), a qual congrega
as indústrias que produzem kits, com este mesmo objetivo: validar e tornar
público quais são os kits de testes rápidos que podem ser utilizados com
confiança nos resultados”, ratificou o presidente.
O debate foi mediado pelo médico e presidente
da Iniciativa FIS, Josier Vilar, e contou também com as participações do CEO da
Fundación Privada Hospital Asil de Granollers e secretário-geral da Associação
Patronal Sanitária da Catalunha (Espanha), Rafael Lledó Rodríguez; do
vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/EUA), Jarbas Barbosa;
do CEO do Hospital Sírio-Libanês, Paulo Chapchap; e do chief medical officer
do United Health Group (UHG) Brasil, Charles Souleyman.
Alta transmissão
Para Barbosa, o mundo enfrenta uma
emergência de saúde pública sem precedentes neste século posterior à gripe
espanhola. A pandemia da Covid-19 está acontecendo com uma velocidade tal que
as evidências são geradas ao mesmo tempo que o número de doentes vai evoluindo.
Segundo o representante da OPAS, o que demonstra como a velocidade de
transmissão está acelerando nas Américas é que na última semana, entre quarta e
sexta-feira, três países tiveram mais de 10% de acréscimo no número de
infectados de um dia para o outro – Canadá, Brasil, Chile e Equador.
“O conhecimento epidemiológico tem
crescido. Já se sabe a capacidade que o vírus tem de ser transmitido
rapidamente, que a Covid-19 produz casos assintomáticos, ainda que haja certa
variação – qual é exatamente o percentual de assintomáticos. Sabemos que há vários
casos leves e que por isso essas pessoas não vão procurar serviços de saúde. Sabemos
que os números que temos hoje são subdimensionados, porque, como qualquer
doença que tem esse gradiente clínico amplo, existem casos assintomáticos,
leves e moderados, mas geralmente conseguimos captar com muito melhor qualidade
os casos mais graves, os casos que procuram hospitais, que procuram serviços de
saúde”, ressaltou Barbosa.
O vice-presidente chamou a atenção ainda
para o isolamento social, enfatizando que o que faz diferença é o momento
quando se inicia o isolamento, que deve ser feito durante a “subida da curva”
de contágios.
Isolamento social
De acordo com Rodríguez, a Espanha,
por exemplo, não tomou as medidas de isolamento com antecedência, o que se
refletiu nos índices acelerados de casos da Covid-19, maiores que naqueles que
adotaram a medida de imediato. O secretário-geral disse que países como
Alemanha e Coreia do Sul, que iniciaram o isolamento social antes, tiveram
melhor resultado na batalha contra o coronavírus.
“Temos visto que não há diferença
entre homem e mulher. A infecção acomete sobretudo adultos, e as formas mais
graves se desenvolvem em pessoas a partir dos 60 anos, especialmente naqueles
com mais de 80 anos. Sintomas comuns são variados, mas o principal é a
pneumonia”, revelou Rodríguez.
O CEO do Hospital Sírio-Libanês falou
que os reflexos do isolamento social, que se diz hoje refletirem num prazo de
aproximadamente duas semanas, podem não ser os mais adequados. Sua tese é de que
isso deve se dar em um tempo maior – ou que não a falta de testes é
demasiadamente grande. Para Chapchap, a Covid-19 está se mostrando uma doença
desafiadora, seja pelo número de internações, seja pelo tratamento de casos
graves, que exigem muitos dias de atendimento intensivo.
“Os pacientes que vão para a UTI têm
um quadro de recuperação extremamente lenta, com 17% a 20% deles precisando de
terapia de suporte renal. A grande maioria dos pacientes vai se recuperar se
for adequadamente tratada”, reiterou Chapchap.
União
Souleyman foi convidado a falar sobre
como se está organizando a questão dos suprimentos nos hospitais do grupo UHG
no Brasil. Segundo ele, essa epidemia está trazendo e revelando o melhor e o
pior da natureza humana, colocando o mundo diante de um cenário desafiador
nunca vivido.
“Hoje temos uma situação em que
estamos tratando os doentes, muito graves, com ventilação difícil, que exigem o
máximo de competência, o máximo de medicação, com cuidados e medidas de
isolamento. De fato, se não conseguirmos com todo o distanciamento social
mitigar a evolução da epidemia, vamos perder muita eficácia nesse tratamento.
Não só se torna exponencial o número de casos, mas também, com ele, o número de
óbitos”, ressaltou Souleyman.
A necessidade de integração entre os sistemas
público e privado no atual contexto também foi salientada pelo executivo.
Segundo ele, não se pode concorrer por compras de equipamentos de proteção
individual (EPI) e respiradores. Todos devem estar unidos para, de forma
colaborativa, contornar de maneira eficiente os problemas da
pandemia.