Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, foi um dos convidados do debate virtual
12 de Maio de 2020
O Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde
(CBEXs) reuniu, na tarde de 11 de maio, líderes do setor para debater como a colaboração
entre as áreas e a enorme quantidade de dados gerados na atualidade podem
contribuir para a gestão da crise desencadeada pelo novo coronavírus. Sob o
tema “Data Science e Inteligência Artificial no contexto da pandemia: O que
temos disponível?”, o encontro virtual recebeu Wilson Shcolnik, presidente do
Conselho de Administração da Abramed; Jorge Salluh, diretor e cofundador da
Epimed Solutions; Marco A. Ferreira, CEO da Associação Nacional de Hospitais
Privados (ANAHP); Thiago Constancio, CEO do MedPortal; e Evandro Tinoco,
presidente do Chapter Rio de Janeiro do CBEXs.
Diante de um surto de uma doença então
desconhecida, a falta de informações para a tomada de decisões surge como um
dos principais entraves para o controle de uma epidemia. Sem detalhes sobre
como, de fato, o vírus é transmitido; quais os grupos de risco e como a
infecção se comporta em cada cidadão; quais os tratamentos mais promissores e
eficientes; e como tomar medidas que sirvam para preservar a saúde da população
ao mesmo tempo em que o sistema de saúde é reforçado e a economia segue
girando, o caos tende a se instalar.
Nesse cenário, todos os dados gerados tanto
em ambiente internacional quanto regionalmente são válidos para consolidar
análises e fundamentar estratégias. Porém, não basta gerar dados, é preciso que
essas informações estejam corretas e sejam analisadas por profissionais
capacitados, como disse Evandro Tinoco, que mediou o debate, ao apresentar
Shcolnik.
“De nada adianta coletarmos dados ruins ou,
então, informações de instrumentos pouco confiáveis. Esse é o caminho para
tomarmos decisões erradas”, pontuou Tinoco relembrando que há 60 dias a
Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia. “Falando em
diagnóstico, quais testes efetivamente funcionam e o que temos de eficaz, hoje,
no mercado brasileiro?”, direcionou o questionamento ao presidente da Abramed.
Shcolnik enfatizou que a pandemia que vivemos
despertou, no setor de saúde, alguns questionamentos principais: a quantidade
de leitos de UTI e o número de respiradores disponíveis para a população; a
necessidade dos equipamentos de proteção individual para proteção da força de
trabalho; e os exames laboratoriais, que habitualmente são utilizados pelos
médicos para identificar fatores de risco, confirmar diagnóstico e orientar a
tomada de decisões.
Além de explicar a diferença entre os
exames para diagnóstico de COVID-19, citando o RT-PCR, exame molecular
considerado o padrão ouro pela OMS, e os testes sorológicos capazes de
identificar anticorpos em amostras dos pacientes, o presidente reforçou que o
pior cenário seria termos, em mãos, resultados errados ou pouco confiáveis para
que os médicos tracem suas estratégias e não termos colaboração entre todos os players
para que os dados possam contribuir com a análise epidemiológica da doença no
Brasil.
“Os testes rápidos – que não são autotestes
como os exames de gravidez vendidos em farmácias – devem ser realizados em
ambientes apropriados, por profissionais capacitados, que usem controles de
qualidade. Caso contrário, teremos resultados questionáveis”, esclareceu. Um
resultado falso negativo gerado pela realização de um teste rápido dentro da
janela imunológica do paciente pode, por exemplo, criar uma falsa sensação de
segurança. “Outra desvantagem é que no Brasil ainda não conseguimos atingir a
interoperabilidade, ou seja, se tivermos exames de COVID-19 realizados dentro
de empresas privadas, esses dados ficarão restritos a essa empresa, não serão
compartilhados e, assim, não chegarão aos epidemiologistas que tentam
compreender como a epidemia evoluiu no nosso país”, finalizou.
A fim de melhorar esse compartilhamento de
informações, a Abramed investiu em uma interface com o Data SUS para que os
exames para diagnóstico de COVID-19 realizados na rede privada chegassem ao
Ministério da Saúde. “Sabemos que os dados oficiais são subnotificados, mas
esse processo de compartilhamento está em curso e em um curto intervalo de
tempo teremos uma explosão desses dados”, disse.
Questionado se os exames sorológicos, que
identificam anticorpos, podem ser úteis como uma espécie de passaporte de
imunidade, Shcolnik declarou: “nem a OMS tem essa resposta ainda. Sabemos que muitos
desses anticorpos produzidos não são neutralizantes, ou seja, não nos protegem
de uma segunda infecção caso ela ocorra. Temos muitas incertezas e poucas
definições até o momento”.
Setor hospitalar – Para tratar sobre a rede hospitalar brasileira, o webinar contou
com a participação de Marco A. Ferreira, CEO da Associação Nacional de
Hospitais Privados (ANAHP), que reforçou a importância da colaboração na luta
contra a COVID-19. “Precisamos trabalhar juntos, estabelecer metas comuns a todos
os nossos setores”, disse.
Para Ferreira, a pandemia trouxe luz a algumas
necessidades brasileiras, entre elas a de recortar a quantidade de leitos de
UTI por região, sem fazer uma análise generalizada no país; e a de criar uma
cultura de análise de dados capaz de reunir informações relevantes levando-as
para os tomadores de decisão. “Precisamos criar caminhos e, também, essa nova
cultura. Enquanto entidades do setor, devemos investir em melhorias nesse
processo”, pontuou.
Trazendo uma visão mais tecnológica do
tema, Jorge Salluh, diretor e cofundador da Epimed Solutions, empresa dedicada
ao desenvolvimento de sistemas para melhoria do desempenho dos hospitais
nacionais, declarou que no Brasil mais de 1.100 unidades de terapia intensiva
utilizam as ferramentas da Epimed para compartilhar informações. “Antes mesmo
de registrarmos o primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus no Brasil já
estávamos trabalhando em modelos que nos permitiriam apoiar os hospitais com
dados gerados em nossas plataformas”, explicou. “O que fizemos foi aproveitar o
fato de que levamos informações para o gestor que está na ponta, seja do
hospital, da rede, ou mesmo da UTI, para que ele tenha uma visão epidemiológica
e consiga compreender quando está chegando ao seu limite de ocupação, quando
precisará de novos respiradores e em que momento conseguirá receber novos
pacientes”, finalizou.
O webinar também contou com a participação
de Thiago Constancio, CEO do MedPortal, que contribuiu com a moderação do
debate e das perguntas enviadas pelos espectadores.