Temas foram debatidos por especialistas durante webinar promovido pela Feira Hospitalar; Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed, foi uma das convidadas
22 de maio de 2020
A rápida disseminação do novo coronavírus pelo mundo exigiu
medidas emergenciais em todos os setores da economia, derrubando mitos
enraizados e despertando novas tendências comportamentais. O assunto foi
abordado no webinar “O Futuro do Sistema de Saúde Brasileiro”, evento virtual
promovido pela Feira Hospitalar na noite de 21 de maio que recebeu grandes líderes
da saúde. Representando o setor de diagnóstico, Priscilla Franklim Martins,
diretora-executiva da Abramed, enfatizou a relevância da prevenção, da digitalização
e da tecnologia neste cenário de crise.
O encontro mediado por Vitor Asseituno, da Saúde Business,
também recebeu Ary Costa Ribeiro, CEO do Hospital Infantil Sabará; José Augusto
Ferreira, diretor de Provimento de Saúde da Unimed BH; e René Parente,
diretor-executivo da Accenture.
A telemedicina foi um dos assuntos de destaque da discussão.
Para Priscilla, a aprovação em caráter emergencial dos atendimentos virtuais
mostrou que a relação médico e paciente pode ocorrer de forma segura no
ambiente digital e que inclui, ao contrário do que muitos pensavam, a população
mais idosa.
Reforçando que o telediagnóstico já estava consolidado no
país, a executiva destacou a interoperabilidade como um gargalo a ser
resolvido. “Neste momento de pandemia vemos que o compartilhamento de
informações é, de fato, um desafio. A subnotificação é uma realidade e está muito
fundamentada em entraves tecnológicos e operacionais”, declarou relembrando que
a Abramed se mantém em contato frequente com o governo a fim de facilitar a
notificação de casos de COVID-19 diagnosticados na rede privada.
Falando em entraves, Parente concordou que houve uma rápida
evolução tecnológica nos últimos meses e declarou que muitas das barreiras de
transformação digital caíram de uma hora para a outra. “De repente, tudo o que
era apontado como um entrave, foi resolvido em questão de dias”, disse ao
citar, por exemplo, a adesão ao home office. “Continuamos tendo uma
relação saudável dentro de casa como tínhamos dentro do ambiente de trabalho”,
comentou.
Essa busca rápida por solucionar pendências precisa
permanecer na visão de Priscilla. “Não podemos esperar outra pandemia para
acelerarmos novos processos de transformação e melhorias. Temos que seguir em
frente, sem retornar ao lugar que estávamos antes”, pontuou. Com positividade,
Ferreira acredita que essa imersão tecnológica veio para ficar. “A tecnologia
gera mais conveniência para todos. Sou muito otimista com relação ao futuro. A
pandemia surgiu como um momento preditor da transformação”, disse.
Dividindo o atual cenário em fases, Ary Ribeiro acredita que
estamos em um momento de transição. Para o executivo, até o final de 2020 seguiremos
em modo de sobrevivência. E isso impacta diretamente os relacionamentos tanto
entre as pessoas quanto entre as corporações. “Temos que analisar essas
relações em um ambiente de instabilidade. A humanidade tem uma enorme
oportunidade de repensar e se reposicionar, revendo valores. Temos todas essas
mudanças nas relações entre médicos e pacientes, também nas relações de
trabalho, e muita coisa boa está surgindo”, afirmou.
Diagnóstico e prognóstico
O fato de que o receio da COVID-19 fez com que muitos
pacientes adiassem seus exames preventivos e seus tratamentos também veio à
tona durante o webinar. Lembrando que prevenção é o caminho, Priscilla traçou
um paralelo com as recomendações de distanciamento social. “Prevenção é uma
atitude primária, não secundária. E vemos isso com as pessoas que ficam em casa
a fim de evitar a infecção pelo novo coronavírus. A quarentena é um ato de
prevenção”, disse.
Considerando que, no momento, há uma queda nos sinistros das
operadoras, o que levaria a uma adimplência nos próximos meses devido ao
represamento de procedimentos eletivos, Ribeiro reforça que neste cenário não
há ganhadores. “O que faremos com a maior gravidade dos pacientes com
acometimentos de infecções agudas e que não estão procurando atendimento a
tempo?”, questionou.
Para o executivo que comanda o Hospital Infantil Sabará, em
São Paulo, é preciso enfatizar para a população que tratamentos necessários não
devem ser postergados. Para isso, os hospitais precisam garantir a segurança de
todos os pacientes criando processos e fluxos separados para atender aqueles
com suspeita de COVID-19 e outros pacientes com outras patologias e
necessidades. Além disso, acredita que é equivocado pensar no curto prazo. “Este
é um filme de longa duração. Daqui dois anos que poderemos entender se as
estratégias adotadas foram boas ou ruins, quem ganhou e quem perdeu”, argumentou.
Ferreira acredita em um reflexo positivo deste atual
cenário. “As pessoas terão uma visão diferente a respeito da saúde, darão mais
importância ao sistema – seja o SUS seja o suplementar – e investirão em novos
hábitos de vida”, disse. Para ele, o atual formato de busca assistencial deve
mudar. “Os pacientes entenderão quando devem acionar o sistema de saúde, onde o
atendimento é mais seguro, se o pronto-socorro é o local adequado ou se
compromete a sua segurança. E a saúde passa a ser um assunto de debate mais
universal”, completou.
Essa mudança também parece impactar a saúde corporativa,
como especulou Parente. “Um dos aspectos que despertou a atenção foi uma
mudança dentro das organizações e uma maior preocupação com o monitoramento.
Muitas empresas não sabiam quantas pessoas estavam em casa, quantas tinham
sintomas, quem estava trabalhando. Isso acelerou novas políticas de recursos
humanos para maior controle, uma demanda que seguirá também para os prestadores
de saúde”, finalizou.