No Brasil, 87,9% dos casos de câncer de pulmão são diagnosticados quando não há mais possibilidade cirúrgica

No Brasil, 87,9% dos casos de câncer de pulmão são diagnosticados quando não há mais possibilidade cirúrgica

A descoberta tardia reduz consideravelmente a sobrevida do paciente; a cada dez casos, oito estão relacionados ao tabaco

28 de maio de 2020

Dia 31 de maio comemora-se o Dia Mundial sem Tabaco, ação que teve início nos anos 1990 e que colocou o Brasil sob holofotes mundiais por ter reduzido de 15,7% em 2006 para 9,3% em 2018 o número de fumantes no país, segundo o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas do Ministério da Saúde (Vigitel). Agora é preciso lutar contra mais um dado alarmante: quase 90% dos casos de câncer de pulmão em território brasileiro são diagnosticados já na fase grave da doença, quando não há mais possibilidade cirúrgica.

Dados compilados pela edição 2019 do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico mostram que, em 2010, 87,9% das neoplasias de brônquios e pulmão foram identificadas com estadiamento III e IV. Quando a doença é percebida ainda no estadiamento I, há um bom prognóstico. Esse prognóstico vai piorando a medida em que o estágio aumenta. Os exames de diagnóstico são fundamentais para que o médico responsável possa avaliar a extensão da doença. Normalmente são utilizados exames de imagem (como raios X, tomografia computadorizada, ressonância magnética e PET Scan) e, muitas vezes, uma biópsia se faz necessária.

De acordo com as diretrizes da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, o tratamento para o câncer de pulmão diagnosticado nos estadiamentos I e II envolve o procedimento cirúrgico seguido de quimioterapia e radioterapia. Já quando o diagnóstico se dá nos estadiamentos III e IV, a possibilidade da cirurgia é descartada, e a recomendação é de tratamento quimio ou radioterápico.

O INCA afirma que em cerca de 85% dos casos diagnosticados, o câncer de pulmão está associado ao consumo de derivados de tabaco.

Quanto esse atraso no diagnóstico reduz a sobrevida do paciente?

Há uma subdivisão na classificação do câncer de pulmão que responde diretamente pela gravidade da doença: o câncer de pulmão de pequenas células, que, segundo o Instituto Oncoguia representa de 10% a 15% dos cânceres diagnosticados, é mais agressivo e tende a crescer e se disseminar mais rapidamente do que o de não pequenas células, que representa até 85% dos diagnósticos de câncer de pulmão.

Segundo o Instituto, quando a doença é diagnosticada na fase inicial, ou seja, quando o câncer é localizado, a taxa de sobrevida relativa em cinco anos é de 61% para pacientes com câncer de pulmão de não pequenas células e de 27% para aqueles com câncer de pulmão de pequenas células. Quando há atraso considerável no diagnóstico e a doença é visualizada nas fases mais tardias, quando o tumor já se disseminou para outros órgãos, a taxa respectivamente cai para 6% e 3%.

Por que há tanto atraso?

Hoje, a tomografia computadorizada figura como a metodologia prevalente para diagnóstico do câncer de pulmão. Em um país continental como o Brasil, é visível a concentração tanto de equipamentos quanto de médicos altamente especializados nas regiões mais desenvolvidas. Um dos fatores que contribuem para o atraso no diagnóstico está na falta de disponibilidade da tomografia computadorizada, principalmente da rede pública.

O Painel Abramed aponta que a distribuição de equipamentos de tomografia computadorizada não é homogênea no território nacional. Enquanto algumas regiões concentram parte importante da oferta, outras se encontram distantes de qualquer centro de prestação de serviços de imagem.

Atrelada à questão da infraestrutura, a ausência de programas efetivos para rastreamento e o fato de que os sintomas geralmente não ocorrem até que a doença já esteja agravada (algumas pessoas chegam a apresentar tosse, falta de ar, dor no peito e rouquidão na fase inicial, mas por serem bastante inespecíficos, esses sintomas não costumam despertar o alerta para o câncer, fazendo com que o paciente demore a buscar atendimento médico) consolidam a base do atraso no diagnóstico do câncer de pulmão.

Referências:
Diagnóstico e estadiamento do câncer de pulmão
SBOC – Câncer de Pulmão – Pequenas células
SBOC – Câncer de Pulmão – Células não-pequenas: doença localizada e localmente avançada
INCA – Câncer de Pulmão
Instituto Oncoguia

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